De acordo com dados do Ministério da Saúde, 43,2 mil pessoas esperam por transplante de órgão no Brasil. A maioria é para rim – mais de 39,9 mil brasileiros na lista. De coração, são 391 (conforme dados de 22 de maio de 2024), mas, independente da proporção, cada modalidade é importante, já que está condicionada à oportunidade de uma vida nova.
Assim o foi para Eloir Fabiano Graff Gross, 47 anos, morador do bairro Coronel Brito, em Venâncio Aires, que desde o dia 5 de abril, sente uma batida mais leve no peito após receber um coração. Ele conta que há cerca de cinco anos começou a sentir falta de ar e ter pressão alta. “Tinha o coração grande, fraco e desenvolvi arritmia”, explicou o chapeador, que fez tratamento acompanhado pela médica Natália Artus.
No entanto, no ano passado a situação se agravou e ele foi encaminhado para Porto Alegre. Desde a primeira consulta, em novembro, ficou internado devido ao grave problema cardíaco e acabou entrando para a lista de espera para um transplante. Assim, pelos próximos seis meses, o Hospital São Francisco, do complexo Santa Casa, virou sua casa. “Foram momentos tristes e alegres, porque sabia que a espera poderia ser longa. Mas, ao mesmo tempo, recebi o melhor atendimento e muito carinho de todos os profissionais. A gente virou uma família. Só tenho a agradecer a Deus e a todos os profissionais do hospital.”
Sentimentos parecidos
Eloir relata que, na tarde do dia 5 de abril, recebeu a notícia que mais esperava nos últimos meses: um doador compatível. “A espera de um transplante é na escuridão para muita gente e receber a notícia de um órgão é a volta da luz. A emoção foi muito grande e só senti coisa igual no dia que segurei minha filha dos braços pela primeira vez”, comenta, lembrando do dia 29 de setembro de 2002, quando nasceu Evelyn, a filha única. A jovem também é filha de Sandra, com quem Eloir divide a vida há 30 anos. “Quando acordei na cirurgia, eu tinha voltado à vida. Olhei para minha esposa, que sorria para mim, e eu só conseguia dizer ‘eu te amo, eu te amo’. Ali eu tive minha vida de volta.”
Sem esconder a felicidade, Eloir mostra a cicatriz fininha, de cerca de 20 centímetros de comprimento, bem no meio do peito. Dentro dele, bate o coração que foi de um jovem de 23 anos. “A doação de órgãos pode salvar muitas vidas. Assim como eu tive oportunidade de viver de novo, meu desejo é que mais pessoas se tornem doadores para ajudar quem precisa.” Segundo Eloir, das quatro pessoas com as quais ele conviveu diretamente nos últimos meses no hospital, duas ainda esperam pelo transplante.
“Graças à família do doador, tive uma nova chance de viver. E isso é muito importante. As famílias se conscientizarem da importância da doação de órgãos. Quem dera todos que estão na espera tivessem uma nova chance de viver como eu tive.”
ELOIR GROSS – Chapeador e transplantado
A volta para casa
Eloir Gross recebeu alta dia 10 de maio, mas, devido à situação de calamidade vivida pelo estado após as enchentes, precisou esperar mais uma semana. Para isso, foi necessária uma logística à parte, organizada pelo Setor de Transportes da Secretaria de Saúde de Venâncio Aires.
A busca de Eloir foi a primeira viagem de um veículo da Saúde de Venâncio Aires a Porto Alegre após a enchente e a missão de buscá-lo de ambulância coube a Gleno Weiler, 61 anos. O motorista diz que, devido à situação das rodovias, o tempo da viagem e o roteiro foram completamente atípicos. “Saímos na sexta [17] às 6h e chegamos em Porto Alegre às 14h30min. Fomos por Lajeado, onde teve uma longa espera. Seguimos por Montenegro, São Leopoldo, Cachoeirinha, Alvorada, Viamão até a Santa Casa. Na volta, a viagem durou das 15h até as 21h. Foram quase 500 quilômetros naquele dia”, explicou Weiler.
“Só tenho que agradecer também ao Everton [Dias, chefe do Setor de Transportes], ao Gleno e à Secretaria de Saúde. Graças a eles, consegui voltar para casa e estar com minha família”, destacou Eloir. Para o transplantado, que voltou para Venâncio de coração novo e vive a oportunidade de recomeçar, o momento também será de recomeço para quem foi impactado pela enchente. “A gente sofre de ver a dor dos outros e tenho amigos que foram atingidos pela enchente. Mas a luta faz parte e tenho certeza de que vamos vencer. Tendo saúde, tudo é possível.”