Presidente da ITGA, José Javier Aranda defende a necessidade de reconhecer o trabalho dos produtores de tabaco (Foto: Divulgação/ITGA)
Presidente da ITGA, José Javier Aranda defende a necessidade de reconhecer o trabalho dos produtores de tabaco (Foto: Divulgação/ITGA)

Desde a sua criação, em 1984, a Associação Internacional dos Produtores de Tabaco (ITGA – sigla em inglês) representa os interesses dos produtores em âmbito mundial. Em entrevista para a Folha do Mate, o presidente da entidade, o argentino José Javier Aranda, aborda a expectativa para a 11ª Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT), que ocorre de 17 a 22 de novembro, em Genebra, na Suíça, em busca de diálogo e visibilidade para os produtores.

De acordo com ele, a ITGA tem realizado um trabalho de campo com uma pesquisa sobre os produtores e os desafios enfrentados por eles. “Nosso principal objetivo é proporcionar dados fidedignos acerca da contribuição socioeconômica do tabaco nos países onde se produz, já que os dados partilhados no âmbito das reuniões do COP não proporcionam a realidade e o estigma contra o nosso setor continua”, comenta. Aranda afirma que a entidade levará a Genebra uma proposta de diálogo.

“A ITGA é uma associação de produtores de tabaco que trabalha para os representar legitimamente. Este trabalho beneficia ao setor no seu conjunto, mas a mensagem tem de ser contundente e transparente: o produtor e as comunidades rurais são o elo mais fraco da cadeia de valor e merecem ser ouvidos. Qualquer medida que venha a afetar o seu meio de vida terá um impacto talvez irreversível para eles e acabará por escalar na cadeia de valor.”

Confira a entrevista com o presidente da ITGA

Folha do Mate: Quais os temas debatidos na COP que mais preocupam a ITGA neste momento? A entidade cobra espaço para representar os agricultores que plantam tabaco. Houve algum avanço neste sentido, já que na COP do Panamá essa abertura não ocorreu?


José Javier Aranda – Estamos atentos às medidas com impacto direto na produção e no produtor. Isto se traduz no artigo 17 do CQCT. Um artigo que tem sido altamente subestimado. O trabalho feito por parte do CQCT nestes mais de 20 anos sobre este artigo, na prática, se traduz em nada. Claro que o CQCT tem produzido numerosos estudos acerca da diversificação no setor e os seus benefícios. Com alguns desses argumentos a ITGA até concorda. Não podemos desejar países produtores com uma alta dependência da produção de tabaco. As alternativas são sempre bem-vindas porque o mercado é extremamente volátil. O certo é que no contexto atual, há poucos mercados que podem considerar estas alternativas. Eu diria que só a Europa e os Estados Unidos estão preparados para esta conversão, já que na maioria são grandes latifundiários com capacidade de trabalhar áreas com outros cultivos. Apesar de que, mesmo nestes países/regiões, o tabaco continua sendo um cultivo de alto valor se comparado com estes outros cultivos.

Dos 183 países-partes, a ITGA tem um levantamento de quantos participantes da COP não plantam tabaco? Entre os maiores produtores de tabaco do mundo, quais não fazem parte da COP?

A ITGA na sua análise estima que dos países assinantes do tratado menos de 7% têm uma produção de tabaco significativa e menos de 5% estão representados nas reuniões desde uma perspectiva agrônoma com o ‘expertise’ para falar sobre as questões específicas e dificuldades desde este ponto de vista. Essa percentagem diminui se falarmos da experiência específica do cultivo de tabaco. É muito desalentador perceber isto porque, utilizando uma metáfora, é como pretender curar um paciente sem o ter visto nem ouvido. A falta de transparência é uma das mais graves situações que encaramos desde o Secretariado do CQCT.

Quantos países plantam tabaco atualmente no mundo e como está o cenário de produção mundial? As políticas antitabagistas refletiram na área plantada nestes últimos anos?

A produção significativa está em cerca de 25 países (se contarmos a Europa como região no seu conjunto). Estamos assistindo a um aumento de produção nos principais países nos últimos três anos, já que o estímulo da demanda tem sido forte. Penso que a área plantada tem atendido mais às dinâmicas de mercado e a redução atende a múltiplos fatores desde o ponto de vista agronômico (rendimento) e outros avanços tecnológicos que proporcionam ao produtor maior rendimento em áreas mais pequenas. Isto é só uma parte da equação.

“O produtor e as comunidades rurais são o elo mais fraco da cadeia de valor e merecem ser ouvidos. Qualquer medida que venha a afetar o seu meio de vida terá um impacto talvez irreversível para eles e este impacto acabará por escalar na cadeia de valor. Os produtores carregam uma pressão sem precedentes.”

JOSÉ JAVIER ARANDA
Presidente da ITGA

A diversificação é destaque em um dos artigos da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco. Na prática, como os governos lidam com essa recomendação/incentivo de acelerar a diversificação e oferecer alternativas viáveis aos produtores?

Tomando como exemplo um país como o Brasil com a sua política antitabagista, é curioso verificar que qualquer iniciativa para acelerar a diversificação tem vindo deste setor [do tabaco], na preocupação de proporcionar ao produtor outras formas de sobreviver. A Afubra [Associação dos Fumicultores do Brasil] tem sido pioneira nestas iniciativas.

Qual a posição da ITGA sobre os novos produtos de tabaco e o que a entidade defende com relação à composição destes produtos?

Temos de aceitar que os novos produtos vieram para ficar e estão ganhando o seu lugar com expectativas de crescimento entre os consumidores. O nosso trabalho é acompanhar e entender melhor o que o futuro prepara aos produtores nesta perspectiva de crescimento. A educação a este respeito é importante, porque a mudança vai acontecer. Os produtores, como principais parceiros, devem entender bem esta dinâmica das novas tendências. As companhias têm a obrigação de partilhar a informação para a consciente preparação dos produtores neste sentido.

Juliana Bencke

Editora de Cadernos

Responsável por coordenar as publicações especiais, considera o jornalismo uma ferramenta de desenvolvimento da comunidade.

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