O fato de se tornar uma mulher empreendedora nem passava pela cabeça de Márcia Bade, 45 anos, quando morava em Vila Deodoro com a família. Na infância, ainda não sabia qual a profissão que desejava seguir, mas já assumia compromissos de ‘gente grande’. “Naquela época, não tínhamos energia elétrica em casa. O banho era sempre de banheira e as atividades eram realizadas na luz do lampião. Meus pais trabalhavam e viviam como agregados nas terras de um agricultor em Vila Deodoro e vivíamos com o básico. Eles se dedicavam ao plantio do fumo”, recorda.
Vinda de uma família humilde, aos 6 anos Márcia já cuidava da irmã, enquanto os pais trabalhavam na lavoura de fumo. A falta de idade não era um empecilho para realizar as tarefas, Márcia ajudava nos afazeres domésticos e tinha a esperança de um dia poder proporcionar aos pais uma vida mais confortável.
Apesar dos compromissos, os estudos sempre foram prioridade e Márcia se destacava, já na terceira série, entre os colegas da turma. “Naquela época ajudava as minhas colegas com a lição e queria ser professora”, recorda.
Aos 15 anos, a jovem de Vila Deodoro veio para a cidade para estudar. Trabalhava como empregada doméstica durante o dia e ia para a escola à noite. “Tive muita dificuldade para realizar as tarefas, eu não sabia passar roupa, porque na nossa casa não tinha energia elétrica e nem preparar pratos diferentes, pois lá só comíamos o básico”, lembra.
Unidos pelo matrimônio e pelos sonhos
Com 17 anos, Márcia casou-se com Airton Bade. Nesta época, decidiu abandonar os estudos para se dedicar ao trabalho. O atual marido era funcionário de uma tabacaleira do município e Márcia teve a oportunidade de trabalhar na mesma empresa.
Em comum acordo, o casal abriu uma loja de bazar com outros sócios e adquiriu uma máquina de fazer picolé. Como os negócios não iam muito bem, eles desfizeram a sociedade e foram tentar a vida na praia de Cidreira.
“Enquanto eu vendia sorvete pela rua, o Airton fazia pães. Foi uma época muito difícil que me marcou muito”, conta.
Em poucos meses, o casal teve a primeira frustração nos negócios e retornou para Venâncio Aires. Mesmo assim, eles não desanimaram e, aos poucos, foram se reestruturando, depois de abrir um minimercado, no bairro Grão-Pará.
Airton viajava para o Uruguai e Paraguai para trazer as mercadorias e abastecer o minimercado, enquanto Márcia administrava os negócios. Nesta mesma época, o casal teve a primeira filha.
Em 1994, Lunara – hoje com 26 anos – nasceu para renovar as energias da família. “Com a chegada da nossa primeira filha, Airton teve que desistir das viagens. Foi muito difícil para mim cuidar da Lunara e assumir o controle do minimercado”, recorda. No local também havia uma cancha de bocha e ela tinha que ficar até a madrugada para atender os jogadores.
A inauguração das lojas Bade
Em 1995, o casal e a filha mudaram para o bairro Aviação. Airton e Márcia alugaram um mercado, conseguiram comprar um prédio no mesmo bairro – onde atualmente está localizada a casa dos empresários e a primeira loja do Grupo Bade. “Neste local estava instalada uma antiga oficina. Fizemos uma reforma no prédio e moramos nos fundos por um tempo”, explica.
No local foram instalados um supermercado e uma floricultura. “Neste período, começamos a trabalhar com roupa por quilo e percebi que era aquilo que eu realmente gostaria de fazer”, revela.
Na segunda gravidez, com a chegada de Mikaela, o casal decidiu seguir apenas com a confecção e desistiu do minimercado e da floricultura. “Até os oito meses de gestação eu ainda viajava para Santa Catarina para buscar roupas e diversificar os produtos da loja”, relembra Márcia, que desde esta época, já trabalhava nas lojas com toda a linha, do infantil ao adulto.
“Eu me considero uma mulher realizada, por ser mãe e poder passar aos meus filhos a educação que recebi de meus pais. Sou muito feliz na minha vida profissional, porque faço aquilo que gosto.”
MÁRCIA BADE – Proprietária do Grupo Bade
Após o nascimento de Mikaela, Airton pela segunda vez parou de viajar para trabalhar junto da esposa. “Como ainda éramos jovens, optamos por dedicar a vida ao trabalho para dar mais conforto à família e nossas filhas sempre entenderam a nossa decisão”.
Assim que Márcia se estabilizou, também conseguiu realizar o sonho de infância e ajudar os pais, Elzira Ziege, 70 anos e Albino Ziege, já falecido.
A empresária acredita que para atingir o sucesso pessoal e profissional em primeiro lugar é preciso ter fé, ter uma família unida para ter apoio em todas as decisões e persistência naquilo que se quer. “Em meio aos altos e baixos, é preciso procurar soluções em períodos de crise e sempre agir com humildade, tratando os outros de igual para igual”, comenta a empresária, que administra uma equipe de 52 funcionários.
O Grupo Bade é formado por seis lojas no total, em Venâncio Aires e Arroio do Meio.
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