Preço da erva-mate está em alta e chimarrão pode ficar mais caro

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O mercado da erva-mate vive uma situação anormal. Vários fatores estão intervindo na questão do preço e no aquecimento das vendas. De um lado, a indústria vive dificuldades para repassar os valores para o consumidor e a redução de oferta da matéria-prima já preocupa o setor. Por outro lado, o produtor vive uma fase de entusiasmo e de valorização da folha.

Conforme o presidente do Sindicato da Indústria do Mate do Estado do Rio Grande do Sul (Sindimate), Álvaro Pompermayer, o ano atípico, que levou a não brotação dos ervais que deveriam ocorrer estreitou a oferta de matéria-prima. “Aqueceu as vendas, encurtou a oferta, além disso, o produtor antecipou os cortes e agora a gente se prepara pois teremos um gargalo lá na frente”, cita.

Pompermayer reforça que a indústria sente uma grande dificuldade de repassar os valores para o produto final. “Está longe do aumento que a indústria merece. As embalagens encareceram, a manutenção também e os reflexos da estiagem no início do ano estão acontecendo agora.”

erva mate na Travessa
Produtor comemora com os preços praticados na safra (Foto: Alvaro Pegoraro/Folha do Mate)

O presidente do Sindimate ressalta que o setor nunca passou por uma situação semelhante. “É até difícil de mensurar. Mas a tendência é que, a partir de março, poderemos ter falta de oferta, um possível desabastecimento de mercado.”

Para o proprietário da Elacy de Venâncio Aires, Gilberto Luiz Heck, o ano totalmente atípico mostra uma grande quebra na produtividade. “O setor industrial não está aguentando. Já repassamos um aumento de 8% em outubro e em novembro teremos que aumentar mais 10%, nossa tabela está reprimida.”

Ele acredita que o período de crise e de demanda maior que a oferta possa ocorrer entre os meses de março a maio. “Para isso tudo se normalizar depende de, no mínimo, uns três anos sem estiagem”, observa.

Fatores

Para o engenheiro agrônomo e extensionista da Emater/RS-Ascar de Passo Fundo, Ilvandro Barreto de Melo, a alteração do preço da erva-mate está diretamente ligada ao preço da folha. Além disso, ele cita que a redução de 30% na produtividade na safra passada influenciou na grande demanda e pouca oferta. “Tivemos um incremento de consumo, uma mudança de comportamento. A roda de mate passou a ser individualizada, maior venda de pacotes de meio quilo, grande procura por porongos e cuias menores. Todo o setor sentiu que a pandemia trouxe mudanças”, explica Melo.

Outro item que sem dúvida interfere diretamente no preço da erva-mate é o crescimento das exportações. O engenheiro agrônomo que é o responsável técnico pelo Programa Gaúcho para a Qualidade e Valorização da Erva-Mate ressalta que ocorreu um incremento na comercialização no exterior. “A erva-mate é comprada por 33 países e ela está presente de alguma forma em 120 países. Passamos a exportar 40 mil toneladas neste ano.”

Além disso, a compra da erva-mate pela Argentina fez com que os estoques no Brasil começassem a baixar. “Estamos com um início de safra turbulento. Esperávamos o fim da estiagem e isso não se confirmou. Acreditamos que ela vai se repetir e até agravar. Nossas erveiras estão estressadas da safra passada, o cenário de produção é incerto”, ressalta Melo.

“A situação pode fugir do controle nos próximos meses, o setor pode se desequilibrar pois teremos uma procura maior que a oferta e o chimarrão tende a ficar mais caro.”

ÁLVARO POMPERMAYER – Presidente do Sindimate

Com a drástica redução de água no solo, o extensionista estima que os polos ervateiros terão menor oferta de erva-mate. “Estamos com um menor estoque no campo, e o déficit no campo vai interferir ainda mais na indústria, é um ciclo. O quadro tende a continuar e a manutenção do preço poderá ocorrer com elevação para o consumidor.”

Reflexos da estiagem interferem no valor e na baixa oferta da folha. O tempo seco impediu a brotação e foram 225 mil toneladas de folha, uma queda de 30%. “A produção normal no estado é de 306 mil toneladas de folha verde, mas a antecipação da colheita interferiu nos números. O ciclo normal de 18 meses foi antecipado para 15 ou até menos.”

Produtores comemoram valorização da erva-mate e preço pago

Os produtores estão comemorando o valor pago pela erva e aguardam ansiosamente pela venda em março. Jânio José Godoy, 66 anos, de Vila Santa Emília, cultiva oito hectares de erva-mate, e se dedica para a cultura há muitos anos. Com cinco áreas, a cada ano Godoy tem um corte para realizar, assim, com essa rotatividade consegue vender erva-mate todos os anos.

Para a próxima safra a expectativa é de colher 42 mil quilos de erva-mate. “Se tem folha bonita tem safra. Estou contente com o cenário e com a produção do meu erval.”

Produtor de Vila Santa Emília reforça que manejo e cuidados com o erval garantem qualidade na hora da venda (Foto: Alvaro Pegoraro/Folha do Mate)

O produtor cultiva a espécie Argentina e comercializa a folha para ervateiras da região. “Na safra passada vendi por R$ 10 reais a arroba no início da safra e depois R$ 12. Agora já me ofereceram R$ 18. Espero que até março o preço se mantenha, isso é algo nunca visto pelo produtor. É um valor muito bom”, elenca.

Apesar da quebra registrada na safra passada, de umas 400 arrobas a menos do que o esperado, o produtor conseguiu manter e recuperar a produção dos ervais. “Todo ano eu replanto erva-mate. Mas uma boa poda e adubo orgânico garantem a tua safra. Você precisa cuidar, ter um bom manejo e cuidar com a broca. O resultado final compensa, a erva-mate passa a valer mais e os cuidados lá no início são um diferencial”, reforça Godoy.

“Eu cuido da erva-mate como se cuidasse da minha família. E esse cuidado e capricho no manejo me rendem bons resultados.”

JÂNIO JOSÉ GODOY – Produtor de erva-mate

Preço no mercado

Todos os meses a Folha do Mate realiza um levantamento mensal dos principais itens da cesta básica em três supermercados da cidade. Neste ano, em janeiro o quilo da erva-mate de uma determinada marca custava entre R$ 9,90 e R$ 10,25. Em novembro, o preço mínimo encontrado foi de R$ 10,35 e o máximo R$ 10,98. A variação tende a aumentar nos próximos meses, segundo dados repassados por indústrias.

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