A situação do desemprego é desagradável para qualquer pessoa que esteja passando por esse momento, agora, pense você, um imigrante que saiu do país de origem e precisa se manter. É com essa preocupação que a Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Social de Venâncio Aires oferece apoio para que essas pessoas consigam se estabelecer no município, principalmente com o auxílio de empresas que oferecem emprego aos imigrantes.
Quem recebeu esse suporte para conseguir se empregar no município foi o venezuelano Yoendris Manuel Rodriguez Rodriguez, 26 anos, que trabalha no setor de serigrafia da VHM Vidros. Ele conta que, ao chegar em Venâncio Aires, há aproximadamente oito meses, conheceu a empresa por meio de uma amiga, também imigrante, que já morava no município. A partir disso, decidiu, junto de mais amigos que recém tinham chegado, deixar currículos diretamente no local.
Antes de chegar até o Sul do país, Rodriguez morou durante dois anos em Roraima, onde trabalhou lavando carros com lava-jato. “Aqui é muito bom trabalhar”, revela o venezuelano ao se referir ao trabalho na indústria. Na Venezuela, Rodriguez morava com a mãe e o pai e, de uma hora para outra, eles decidiram que viriam para o Brasil. O pai, que mora com ele no bairro Macedo, também atua na VHM. A mãe, no entanto, permaneceu na Venezuela. “Lá mal dava para pagar as contas, não conseguíamos comprar nada”, comenta.
Rodriguez explica que conseguiu todos os documentos necessários para seguir a vida no Brasil já em Roraima, com o apoio da Polícia Federal e da Organização das Nações Unidas (ONU). “Os brasileiros são pessoas muito boas, é um país muito bom de morar”, considera.
“Foi difícil, no início, quando cheguei na empresa, mas cada dia fica melhor, e tem muitas pessoas que me ajudam aqui.”
YOENDRIS MANUEL RODRIGUEZ RODRIGUEZ
Imigrante venezuelano e funcionário da VHM
“Só elogios”
A responsável pelo setor de Recursos Humanos da empresa, Dyeini de Lima, afirma que hoje são cinco imigrantes que trabalham na VHM. “Eles caíram de paraquedas aqui”, lembra, quando conta do dia que receberam todos eles para a entrega do currículo. “Eram muito envergonhados, até o fundador da empresa, o senhor Rudimar Griesang, conversou e procurou saber mais deles”, comenta.
Dyeini salienta que a comunicação com os venezuelanos foi complicada de início, mas, com o passar do tempo, se tornou algo tranquilo. “O Manuel, como o chamamos aqui, se comunica bem, e até ajuda a explicar as orientações para os outros meninos também”, afirma.
“Admiramos muito a simpatia e a simplicidade deles”, comenta. A responsável pelo RH destaca que no setor da serigrafia sempre há dificuldades de encontrar um trabalhador para ensinar, mas que com os estrangeiros são só elogios na função.
Para ajudar os imigrantes que ali trabalham, a empresa realizou ações como arrecadação de eletrodomésticos e roupas de inverno. “Na Venezuela era muito difícil para eles, aqui acredito que está sendo ótimo, o que pudermos melhorar, assim fazemos”, explica.
Políticas públicas, orientação e acompanhamento fazem a diferença
A secretária da Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Social, Claidir Kerkhoff Trindade, e a assistente social e coordenadora do setor de migrantes, refugiados e apátridas, Sandra Andréia Mendonça Soares, enfatizam que a prioridade de todos os imigrantes que chegam na Capital do Chimarrão é de trabalho para conseguir trazer toda a família para o Brasil ou mandar dinheiro para quem ficou no país de origem.
Sandra relata que há empresas que pedem exclusivamente por trabalhadores imigrantes, devido à agilidade que possuem, muitas vezes são poliglotas e formados em áreas como engenharia e educação. “Para eles não importa, se entregarem uma vassoura e tiverem um trabalho digno com isso, vão dar o seu melhor, independentemente da função”, afirma.
Vagas
A coordenadora do setor explica que a secretaria não é responsável por oferecer as vagas de emprego, mas sim de encaminhar e orientar os imigrantes para conseguirem o objetivo. A pasta possui uma parceria com o Sine, que recebe estes imigrantes e os direciona para uma vaga de emprego. “É muito rápido, em poucos dias, muitos já conseguem se empregar. Por vezes, o que atrasa é ainda não terem alguma documentação”, determina.
Além de emprego, no setor, os imigrantes recebem orientações para fazer a carteira de trabalho digital. Diversas indústrias de Venâncio Aires já possuem imigrantes contratados.
Para Claidir, o município só tem a ganhar. “Com a geração de renda, o dinheiro também gira em nosso município, em impostos e no comércio local”, destaca. A secretária garante que, mesmo alguns venâncio-airenses ainda terem preconceito na empregabilidade dos imigrantes, há vagas para todos, basta querer trabalhar.
“Eles não vêm para tirar o lugar de ninguém. Oportunidade o município oferece para todos, basta querer e buscar.”
CLAIDIR KERKHOFF TRINDADE
Secretária Municipal de Habitação e Desenvolvimento Social
Futuro
Com uma perspectiva de vida no município, Sandra menciona que as condições que recebem aqui dão esperança de dias melhores, de poder sonhar e planejar um futuro em solo venâncio-airense. “Muitos já não acreditaram que, com o SUS, não se paga nada por um atendimento de saúde, isso não é uma realidade para eles na Venezuela”, relata.
No setor, além de Sandra, também atua uma estagiária. Diariamente, elas buscam por mais recursos para atender os imigrantes. “Hoje, nos mantemos com dinheiro público do município”. O Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e programa Primeira Infância Melhor (PIM) também atuam no acompanhamento dos imigrantes.
- Na Venezuela, onde se instalou uma crise econômica e social, o salário mínimo é o equivalente ao valor de 30 ovos. Conforme a coordenadora do setor de migrantes, refugiados e apátridas, Sandra Andréia Mendonça Soares, eles precisam escolher em que turno se alimentar, em razão da pobreza. E ainda não possuem acesso à saúde e medicação.
- 290 é o número de imigrantes atualmente em Venâncio Aires. Ainda, 23 crianças, filhos de imigrantes que nasceram no Brasil, não estão contabilizadas neste número. São pessoas de países como El Salvador, Haiti, Colômbia, Argentina, mas em sua maioria, são imigrantes da Venezuela.
Política de Acolhimento
O projeto de Lei nº 039/2021, do dia 15 de abril de 2021, institui, no Município de Venâncio Aires, a Política Municipal de Acolhimento e Atendimento para Migrantes, Apátridas e Refugiados. O projeto foi aprovado por unanimidade em sessão ordinária na Câmara de Vereadores de Venâncio Aires, na noite da segunda-feira, 7. A coordenação será da Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Social, por meio do Departamento de Políticas Sociais e Direitos Humanos.
A política tem como principais objetivos assegurar o acesso aos direitos, atender o público de acordo com as especificidades, prestar serviços socioassistenciais, fomentar a participação e integrar no conjunto de políticas públicas as responsabilidades compartilhadas. A intenção também, é de facilitar o acesso desta população a moradias dignas e combater qualquer forma de discriminação.
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