Na semana passada, dioceses de todo o Brasil realizaram a Semana do Migrante, que chegou em sua 37ª edição, entre os dias 12 e 19. Este ano, a campanha teve como tema ‘Migração e Saberes’ e o lema ‘Escuta com sabedoria e fala com a prática’. O pároco da Paróquia São Sebastião Mártir, padre Roque Hammes, explica que o objetivo é conscientizar a população sobre a importância de acolher de forma correta os migrantes. “É uma semana para aprender e, assim, reduzir o preconceito com estes”, cita.
Segundo a Secretaria Municipal de Habitação e Desenvolvimento Social, Venâncio Aires tem cerca de 540 venezuelanos, 25 haitianos e, em números menores, imigrantes do Chile e de El Salvador. No município, a semana foi marcada por ações de integração com o grupo de migrantes participantes da pastoral, contudo, é um trabalho que deve ser mantido durante todo o ano.
Infelizmente, aqui ficamos reduzidos aos venezuelanos e não alcançamos os haitianos, principalmente por conta do idioma. Enquanto os venezuelanos falam espanhol, os haitianos têm uma variação entre inglês, francês e dialetos locais”, detalha o padre.
Além disso, o primeiro evento da programação na diocese foi no dia 11, em Arroio do Meio. Entre 55 pessoas presentes, eram 22 de Venâncio. O município conta com um grupo de acolhimento na paróquia, chamado de Pastoral dos Migrantes, desde setembro do ano passado. Este conta com reuniões no primeiro sábado de cada mês, no Centro de Evangelização, com duração de duas horas a duas horas e meia, no qual todos os membros da família são bem-vindos.
A professora Aline Zeneida da Silva, coordenadora da pastoral, elenca as ações realizadas nesses eventos, que vão desde leituras até projetos focados na cultura dos migrantes. “São encontros para partilhar temas. Em junho, aumentamos o foco, no primeiro sábado cozinhamos uma comida típica deles, arepa – que é comum na Venezuela e Colômbia, é um prato de massa de pão feito com milho moído ou com farinha de milho pré-cozido –, para resgatar a cultura deles”, relembra.
O acolhimento
O grupo conta com cerca de 20 membros regulares. Entre estes está a família Hernandez Fuentes, formado por Eliana Del Valle Fuentes Marcial, 36 anos, Robert Rafael Hernandez Hurtado, 54 anos, e Ernesto Rafael Hernandez Fuentes, 4 anos.
Ela, que era engenheira na Venezuela e trabalhava com o planejamento e controle de obras, com experiência de uma década na área, está em Venâncio há dois anos e três meses. O marido chegou em janeiro de 2020, junto ao grupo de 60 venezuelanos que vieram no período. “Estou aqui para oportunizar uma vida melhor para meu filho”, enfatiza.
Eliana participava da Igreja Católica na Venezuela em sua adolescência, onde chegou a ser professora de catequese. Porém, depois focou nos estudos e acabou deixando essa religiosidade mais de lado. “Fui convidada para a pastoral por uma amiga, em setembro de 2021. Agora, assistimos às reuniões e participamos dos eventos. Para nós é importante, pois é uma ponte de informação e acesso. Estão abrindo as portas e janelas para nós aqui na cidade”, destaca.
“Cheguei aqui com meu filho e 20 quilos em uma mala. Ou seja, o resto que conquistei veio com ajuda da população venâncio-airense, pois não tinha fogão, geladeira e outros eletrodomésticos, mas conseguimos nos estabilizar”
ELIANA DEL VALLE FUENTES MARCIAL
Venezuela integrante da pastoral
A venezuelana está trabalhando há um ano na Tramontini e seu marido está, desde que chegou, na Metalúrgica Venâncio. “Vim atrás de um sonho, uma esperança, uma vida melhor. Fui bem acolhida no trabalho, na igreja, escola e todos os locais. Porém, a saudade é forte, então compartilhar essa experiência é muito legal”, detalha.
O pequeno Ernesto chegou com 1 ano na cidade e já aprendeu a falar português, mesmo que não perca o incentivo ao espanhol, idioma exclusivo na residência da família. “Incentivamos eles a manter a cultura viva dentro de casa, para que não se perca com o passar dos anos”, pontua a coordenador da pastoral, Aline da Silva.
“O objetivo da pastoral é conscientizar a população e acolher de forma correta os migrantes.”
ROQUE HAMMES
Padre
A Semana do Migrante é comemorada no Brasil na terceira semana de junho, sempre ligado à Campanha da Fraternidade – que tem, em 2022, o tema ‘Fraternidade e Educação’ e lema ‘Fala com sabedoria e ensina com amor’. No restante do mundo, o Dia do Migrante é celebrado em 25 de setembro.
Ações da Pastoral do Migrante
• Acolhimento espiritual e religioso;
• Reuniões no primeiro sábado do mês. Iniciadas com orações em português e encerradas em espanhol.
• Tour para conhecer a igreja, reuniões ao ar livre, aulas de como fazer o chimarrão e outros eventos. No futuro, pretende-se fazer uma celebração completa em espanhol;
• Projetos e palestras nas escolas, quando os alunos estudam os migrantes;
• Estudo dos sacramentos de forma intensificada, pela diferença entre a forma como é feito na Venezuela;
• Ações para aproximar os adolescentes e ajudá-los a criar amizades. Em breve, por exemplo, será realizado um jogo de futebol. “Eles jogavam beisebol na Venezuela, mas não temos material para isso por enquanto. Entrei em contato com universidades e vamos tentar organizar para que eles relembrem”, comenta a coordenadora da Pastoral dos Migrantes, Aline da Silva.