Cenário da produção leiteira e os reflexos no preço pago pelo litro do alimento em Mato Leitão

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A ida ao supermercado tem sido um dos assuntos que mais chamam a atenção das famílias nos últimos meses. Isso acontece em função do aumento no preço de vários produtos. Entre eles, um que tem chamado muita atenção nas últimas semanas é o leite e ainda os derivados dele, como o queijo. Se no bolso do consumidor final o preço pago por esse alimento pesa muito, para o agricultor a produção leiteira também é um desafio e exige uma ginástica para equilibrar as finanças.

Proprietária da Pizzaria Delícias Caseiras, Rosane da Silva Bremm, 43 anos, relata que um dos principais ‘vilões’ dos ingredientes necessários para preparar as pizzas é o queijo. Ela realiza um acompanhamento mensal do valor cobrado pelos produtos, e nos últimos 30 dias percebeu um aumento de R$ 8,50 no quilo do alimento, levando em consideração o fornecedor que costuma utilizar.

Já no leite, que é usado para o preparo de alguns molhos, o aumento vem sendo percebido há cerca de 40 dias. “Antes eu comprava o litro por R$ 3,99. Hoje, é difícil encontrar por menos de R$ 5”, comenta. Por causa do acréscimo no valor desses itens e de outros produtos essenciais para o trabalho na pizzaria, como o gás de cozinha, por exemplo, ela precisou fazer reajustes na tabela de preços aplicados pelo empreendimento.

Produção leiteira

O chefe do escritório da Emater de Mato Leitão, Claudiomiro da Silva de Oliveira, analisa que os custos de produção para os agricultores que trabalham no setor leiteiro aumentaram muito. Isso aconteceu, principalmente, em razão do incremento no valor pago pelos insumos utilizados nas lavouras de milho. O grão é usado para preparar a silagem, uma das principais fontes de alimentação para os animais.

De acordo com ele, 60% do custo da produção leiteira está relacionado com a alimentação de plantel. O restante envolve gastos com mão de obra, medicamentos, limpeza e sanidade. Oliveira ainda ressalta que o maior desafio é ter estabilidade entre o valor que recebe da indústria pelo litro de leite e os custos com a produção.

Segundo o chefe do escritório municipal, a base da alimentação do rebanho leiteiro da Cidade das Orquídeas é a silagem de milho, ração e pastagem. “O preço pago para o produtor de leite seria aceitável se não fosse o aumento no valor dos insumos”, analisa. Hoje, os produtores de leite do município recebem entre R$ 2,50 e R$ 3 pelo litro de leite. Esse preço depende da indústria que compra o produto. “O valor pago também varia de acordo com a quantidade e a qualidade do leite”, esclarece.

Oliveira informa que no último ano houve uma redução de 10% na quantidade de agricultores que trabalham com a atividade leiteira em Mato Leitão. Isso aconteceu, especialmente, por causa de aposentadorias ou em razão de produtores que atuavam em mais de um segmento e decidiram parar com o leite. Contudo, mesmo com essa queda no número de produtores, nesse mesmo período, foi registrado um incremento de 10% na produção.

“Houve aumento no número de animais na propriedade e os produtores investiram mais no controle do rebanho, com mais atenção à reprodução e à alimentação dos animais. Para isso, muitos contam com apoio terceirizado de veterinários e profissionais da área da nutrição, além do suporte dado pela Emater e pela Prefeitura”, considera. Outro comportamento que pôde ser percebido nos produtores de leite do município foi a renovação do rebanho, com a venda de matrizes mais velhas, o que reduz custos com medicamentos, por exemplo.

Saiba mais

• 63é o número de produtores rurais de Mato Leitão que se dedicam ao setor leiteiro.

• 7,7 milhões de litros de leite foram produzidos no município no ano passado.

Ganhos e gastos contabilizados na ponta do lápis

Produtores de leite há 30 anos, o casal Cesar Heisler, 56 anos, e a esposa Marcia Schubert Heisler, 49 anos, moradores de Vila Sampaio, aposta na organização para manter a saúde financeira da propriedade. Para isso, ele anota todos os gastos e o retorno financeiro que eles têm com a atividade. “Só conseguimos saber quanto vamos ganhar realmente no fim do ano, quando analisamos o valor que sobrou”, menciona.

Essa sobra que Cesar cita é o que podemos chamar de ganho real. Ou seja, a diferença entre o valor que ele recebeu da indústria pelo litro de leite e os custos que ele teve com a produção. Entretanto, o que parece ser só uma conta de subtração, não é tão simples, porque esse cálculo matemático tem como variável a oscilação paga pelo alimento ao longo do ano.

“No verão, ganho menos pelo litro e esse é o período que mais tenho custos para fazer a silagem e a pastagem. No inverno, é pago mais pelo litro do leite, mas preciso compensar os gastos que tive durante o verão”, explica. Para se ter uma ideia dessa inconstância, em janeiro deste ano, o produtor recebeu R$ 1,95 pelo litro de leite. Em março, foi R$ 2,29. No mês passado, o preço subiu para R$ 2,66.

“A partir de outubro começa a reduzir o valor. A indústria nos diz que no inverno se consome mais leite, por isso é possível agregar mais valor a ele, e no verão a utilização é menor”, comenta. De acordo com Cesar, o preço pago hoje pelo litro de leite está bom e, pelo que se observa nas prateleiras do mercado – onde o litro já ultrapassa R$ 6 – a tendência é que aumente. “Levando em consideração o preço pago pelo consumidor final, acredito que a gente chegue a ganhar até R$ 3 pelo litro”, projeta.

Alimentação

Durante o inverno, o produtor de Vila Sampaio tem como base para alimentação do rebanho silagem de milho – que ele mesmo cultiva e prepara-, pastagem e ração. No verão, ele substitui a pastagem pelo pré-secado e pelo feno, que compra de terceiros. Segundo ele, 40% dos custos da produção estão relacionados com a ração.

Em relação à estiagem, ele conta que a falta de chuva prejudicou as lavouras de milho que ele havia plantado para silagem. Por isso, ele precisou comprar áreas com o grão plantado de terceiros, para conseguir garantir o alimento do plantel, o que gerou um gasto muito maior, que precisará ser diluído ao longo do ano.

“Um dos maiores desafios é que no verão, muitas vezes, temos seca, e no inverno excesso de chuva, que dificulta o trabalho com os animais. Além disso, tem a oscilação do preço pago pelo litro de leite e a falta de paridade no valor utilizado para adquirir os insumos, como o adubo e a ureia, usados para produzir silagem”, resume.

Saiba mais

• 59 é o número de animais que formam o plantel da família Heisler. Desse total, 26 vacas estão em lactação, sete são consideradas secas (que estão na fase final da gestação e voltarão a produzir após esse período) e 26 terneiras e novilhas, que serão usadas para a renovação do rebanho.

• 750 litros de leite são produzidos diariamente na propriedade.



Taís Fortes

Taís Fortes

Repórter da Folha do Mate responsável pela microrregião (Mato Leitão, Passo do Sobrado e Vale Verde) e integrante da bancada do programa jornalístico Terra em Uma Hora, da Terra FM

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