Organização. Essa é a palavra que norteia o trabalho desempenhado por Marcelo Müller, 39 anos, e Liege Schweikart, 34 anos. O casal, que reside em Linha 17 de Junho, no interior de Venâncio Aires, atua com a produção leiteira desde 2011 e, há cerca de quatro anos, inovou no setor a partir de mudanças na forma de realizar algumas atividades dentro da propriedade rural.
Até 2018, o casal também trabalhava com a produção de tabaco. Entretanto, como eram apenas os dois os responsáveis pelas tarefas, decidiram parar com uma das atividades para conseguir dar conta das demandas. Nesse período, Marcelo e Liege receberam uma sugestão do engenheiro agrícola e extensionista da Emater, Diego Barden dos Santos: planejar as atividades da propriedade para conseguirem tirar um período de férias da ordenha.
A ideia, que surgiu como uma maneira da família ter um merecido descanso, trouxe outros benefícios para a propriedade rural, principalmente relacionados ao planejamento das tarefas. Para tornar essa ideia possível, os dois focaram em dois pontos principais: organizar o período para realizar as inseminações nas vacas e garantir uma boa nutrição para esses animais.
Hoje, o plantel é formado por 23 vacas em lactação, nove novilhas e seis terneiras. Para conseguir garantir uma pausa na ordenha, eles concentram as inseminações nos meses de junho e julho. Neste ano, por exemplo, todos os partos aconteceram em abril e maio, o que garante um pico de produção de leite nos meses de julho e agosto. Esse período coincide com a temporada de maior consumo de leite no estado e, consequentemente, com a valorização do valor pago pelo litro do alimento.
Com essa programação, neste ano, os agricultores ficaram entre 10 de março e 5 de abril sem realizar ordenhas. “Esse é um modelo fora do padrão industrial”, comenta Müller. Isso porque, é comum que a produção diminua em determinado período do ano, mas essa pausa é uma inovação para o setor na Capital do Chimarrão.
- 790 litros é a quantidade diária de leite produzida nos meses de julho e agosto, considerados os períodos com picos de produção, na propriedade de Marcelo e Liege. Levando em consideração o ano, a média diária é de cerca de 600 litros, pois as vacas produzem apenas durante 10 meses, com dois meses para descanso.
Organização, adequações e descanso
Com essa mudança no modelo produtivo, o casal de Linha 17 de Junho precisa intensificar os cuidados com a reprodução e a nutrição do rebanho. Além disso, a organização financeira é fundamental para manter o equilíbrio, especialmente no período em que não há produção de leite. Por isso, a reserva de recursos durante o ano é essencial.
“A parte financeira na parada da ordenha é mais tranquila, porque também reduz os gastos. Quando retomamos, os custos sobem novamente, então é mais complicado”, observa o produtor Marcelo Müller. Apesar das férias da ordenha, o casal destaca que as atividades na propriedade não param, porque ainda é necessário dedicar tempo para a alimentação do rebanho e para outras tarefas. No entanto, com esse novo formato, é possível tirar o pé do freio por alguns dias.
Essa alteração também trouxe um novo olhar para a forma que é produzido o alimento para o rebanho. Isso acontece porque no período em que não precisam se dedicar à ordenha no verão, os dois concentram a atenção na produção de alimentos para serem usados no inverno, quando as vacas estarão no nível máximo de produção. Além disso, a reprodução e os partos não interferem no plantio de alimento.
Férias
Em 2020, primeiro ano em que tiraram férias, os produtores rurais fizeram uma viagem durante o fim de semana para Torres. Neste ano, a família viajou novamente para o município do Litoral Norte gaúcho durante quatro dias e aproveitou outros dias para fazer passeios de curta duração pelo estado. “Adotamos esse sistema porque a produção leiteira é uma atividade muito cansativa e estressante. Precisávamos de uma motivação para continuar”, relata Müller.
Auxílio técnico
• Para colocar em prática esse modelo de produção, o casal recebe o auxílio do escritório municipal da Emater, a partir do Programa de Dietas para Vacas em Lactação, desenvolvido em Venâncio Aires, e do qual fazem parte desde 2015. “A alimentação é a base de tudo”, salienta Liege.
• O programa desenvolvido pela Emater consiste em organizar o manejo e a alimentação do rebanho leiteiro de forma que os animais possam expressar o máximo do seu potencial produtivo sem descuidar da saúde.
• Na propriedade de Marcelo e Liege, a base da alimentação do rebanho de bovinos é constituída, principalmente, por silagem, concentrado, mineral e pastagem – no inverno, azevém, e no verão, tifton.
• Na parte de reprodução, desde 2021, o casal conta com o auxílio do veterinário e zootecnista da Dália Alimentos, cooperativa para a qual eles comercializam o leite. A assistência é prestada por meio do Programa dos Lácteos, que realiza o controle leiteiro e monitoramento de dados.
• Müller também comenta que a partir desse novo modelo, o volume de leite produzido e o faturamento da propriedade aumentaram. Contudo, ele comenta que os custos com a produção também subiram.
Modelo não gera prejuízos aos produtores
Segundo o extensionista rural da Emater/RS-Ascar, Diego Barden dos Santos, no caso de Marcelo e Liege aconteceu a concentração das inseminações do rebanho no inverno para que as vacas parissem no mesmo período. “Com isso, a gente contribuiu com o manejo alimentar, ajudando mais na parte de inverno, quando as vacas precisariam entrar em protocolo de inseminação, com a nutrição bem balanceada”, explica.
O engenheiro agrícola ainda menciona que, além de qualificar o manejo alimentar, o acompanhamento veterinário foi fundamental. “É a união do trabalho de dietas feito pela Emater com a sanidade animal feito pelo veterinário, juntamente da nutrição balanceada, e conseguimos tirar o máximo das vacas nesse período. Então, além de expressar uma excelente produção, uma excelente sanidade, a gente conseguiu expressar uma excelente reprodução dessas vacas”, frisa Santos.
O extensionista destaca que a concentração dos períodos de parto não gera prejuízos aos produtores quando é analisado o processo de produção e também fatores de mercado, como o preço pago pelo litro do leite no inverno. “Quando a gente entende que o leite é tirado no ano e não no mês, vê que não há perdas. Na verdade, há um ganho. Toda vaca tem uma curva de lactação e necessita ficar dois meses sem produzir leite. Então, quando a gente concentra esse período de reprodução no período de inverno, não deixamos de produzir leite naquele ano, a gente só deixou de produzir leite em um certo período, que é o mês anterior ao início dos partos”, esclarece.
*Com informações da Assessoria de Imprensa da Emater
“Quando a gente entende que o leite é tirado no ano e não no mês, vê que não há perdas. Na verdade, há um ganho. Toda vaca tem uma curva de lactação e necessita ficar dois meses sem produzir leite.”
DIEGO BARDEN DOS SANTOS Extensionista da Emater