Indignação. Este é o sentimento da comunidade escolar de Vila Mariante, que ainda não tem ideia de quando os estudantes da Escola Mariante serão recebidos na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) campus Venâncio Aires. A parceria está firmada, a estrutura para recepção dos alunos já foi implementada e até os roteiros dos ônibus estão definidos, mas detalhes burocráticos envolvendo o Governo do Estado não permitem que mais de 200 estudantes possam retomar as aulas de maneira presencial.
Desde que dois prédios da instituição de ensino foram interditados – um por problemas estruturais e outro por riscos relacionados à rede elétrica -, os alunos desenvolvem atividades de forma remota e aguardam a confirmação da 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) para que possam fazer o deslocamento diário até a universidade. Responsável pela 6ª CRE, Luiz Ricardo Pinho de Moura é o principal ‘alvo’ da comunidade escolar. Em razão do cargo que ocupa, é dele que se espera uma resposta positiva em relação às atividades presenciais. No entanto, as queixas se acumulam pela falta de informações.
“Estamos todos esperando em casa. Já era para ter voltado, mas nada aconteceu. A direção passou que está tudo certinho, que já foram na Unisc e levaram a mobília que precisava, acertaram as salas, turnos, ônibus e até crachá para os estudantes. Aliás, estava tudo pronto para que, em uma segunda-feira, as crianças fossem para a Unisc, mas na sexta mandaram aviso de que era para pegarmos mais atividades na escola”, lamenta a agricultora Daniela Martins, de 38 anos, que tem dois filhos na Escola Mariante.
DESESTÍMULO
Daniela afirma que nota que os filhos estão desestimulados em relação aos estudos. “Estar em casa não é a mesma coisa que estar na sala de aula. É um desleixo, um descaso da 6ª CRE. A gente chega nos lugares e nos perguntam onde nossos filhos estão estudando. Aí falamos que estão em casa e fica todo mundo apavorado. Não tem escola, não tem aula. Acreditamos na boa vontade da 6ª CRE, demos o voto de confiança, mas nos deixaram à deriva”, desabafa. A agricultora comenta ainda que estaria circulando a informação de que as aulas remotas não terão validade como dias letivos. “Nós ficamos sabendo que estes dois meses vão valer. Já estão dizendo que os nossos filhos vão ter aulas em janeiro e fevereiro”, diz.
Conforme a agricultora, a comunidade escolar está cheia de dúvidas e muito apreensiva. “O que vai ser dos nossos filhos? Simplesmente vamos fazer um xis, virar a página e dizer ‘que venha 2023’? Vamos continuar em casa? Isso não tem explicação. Isso é triste. Sabe lá Deus o que nos espera, porque o nosso ano já está perdido”, dispara. Ela acrescenta que os próprios filhos já têm indagado sobre quando a rotina voltará ao normal. “Falaram que era questão de dias e depois vieram com esta conversa de que temos que esperar. A gente tá feito bobo, não sabemos mais o que fazer. As mãos estão completamente atadas. Até os filhos já tão questionando até quando vai esta situação. Querem ir para a escola”, complementa.
IMPORTANTE
A vice-reitora da Unisc, Andréia Rosane de Moura Valim, responsável pelos campi da instituição, confirmou ontem que a universidade está pronta, à espera dos estudantes da Escola Mariante. De acordo com ela, o aguardo é pela documentação da Seduc. “É uma etapa importante, de validação do convênio”, explicou. Assim que as questões burocráticas forem superadas, os alunos devem ser deslocados de forma imediata.
O que diz a 6ª CRE
• O coordenador regional de Educação, Luiz Ricardo Pinho de Moura, informou que está no aguardo do termo de cooperação e publicação no Diário Oficial do Estado. De acordo com ele, foi aberto um expediente para gerenciamento de toda a documentação, que está sendo analisada pelo departamento jurídico da Secretaria Estadual de Educação (Seduc).
• “Acreditamos que não haverá necessidade de um novo calendário escolar, pois os estudantes estão no ensino remoto, recebendo atividades, aulas assíncronas e síncronas. E, nessa situação, que aconteceu por uma questão de um auto de interdição, está amparado na excepcionalidade”, comentou.
• Ele salientou ainda que se a comunidade escolar, juntamente com a equipe diretiva e o Conselho Escolar, entender que há necessidade de avançar um pouco mais, ainda no mês de dezembro, não há problemas. “Quanto ao transporte, é feito em regime de colaboração com a Prefeitura de Venâncio Aires e está tudo ‘ok’, já acertado”, concluiu o coordenador.
O que diz a Seduc
• A reportagem da Folha do Mate entrou em contato com a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) para obter informações acerca da situação que envolve a Escola Mariante.
• Por meio de nota, foi informado que “em relação à Escola Mariante, de Venâncio Aires, a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) está em fase de finalização o processo para locação de salas da Universidade de Santa Cruz (Unisc). A decisão ocorreu após assembleia com a comunidade escolar e permitirá que os alunos tenham aulas 100% presenciais”.
• A Seduc reiterou ainda que “a reforma da rede elétrica do prédio da escola está em fase de conclusão de projeto na 6ª Coordenadoria Regional de Obras Públicas (Crop)”.