Venâncio Aires projeta mais uma grande temporada na produção de trigo. Claro que ainda é cedo para ‘cravar’ que a colheita vai ser cheia, mas, neste início de período de plantio, já existe uma projeção de nova subida da cultura. E o que ajuda a potencializar esse cenário, é um novo aumento estimado de hectares cultivados. De acordo com dados da Emater, 2023 indica um plantio de 1,4 mil hectares – 150 a mais que no ano passado (12% de aumento) – feito por 46 famílias. Considerando uma projeção de até 45 sacos por hectare, é possível estimar uma colheita de mais 3,78 mil toneladas. Com isso, também deve crescer a contribuição dentro do Valor Bruto de Produção Agrícola (VBPA), que só em 2022 chegou a R$ 5,6 milhões, dos R$ 588,8 milhões totais.
Devido aos números, tem tudo para Venâncio Aires ter um novo recorde com esse grão, o que, aliás, não é mais novidade nos últimos anos. Entre 2020 e 2021, por exemplo, a área plantada cresceu 135% (veja box). Já entre 2021 e 2022, um aumento ‘menor’, mas não menos significativo: 61%. Entre os produtores de Venâncio Aires, está a família Hanemann, moradora de Picada Mariante. Por lá, o plantio começou na terça-feira, 23, e serão cultivados 80 hectares, o dobro do plantado em 2022. “Vamos tentar melhorar a rentabilidade, porque ano passado tivemos uma quebra de 20% por causa do excesso de umidade no início da safra”, revelou Clóvis Hanemann, 60 anos.
O produtor, que também planta soja, começou com trigo há cinco anos e vem aumentando a área gradativamente, movimento geral no município. Ele comenta que está com uma grande expectativa e projeta tirar uma média de 65 sacos por hectare, número bem mais positivo do que o estimado pela Emater. “Minha ‘indústria’ não tem telhado e se o agricultor não fazer projeções positivas, na verdade nem trabalha. Então começamos mais uma safra sempre pensando no melhor e contando com ajuda do clima”, concluiu.
Cultura de inverno
O engenheiro agrônomo e extensionista rural da Emater de Venâncio Aires, Diego Barden dos Santos, destaca que o trigo vem sendo alternativa importante como cultura de inverno. “O inverno era um período do ano que, na região, quase não se utilizava para cultivo. Então tinham de três a quatro meses onde as áreas ficavam ‘paradas’ ou ‘descansando’. Entrando com uma cultura diferente, se tem a recuperação do solo, da palhada. O trigo acaba sendo uma janela de oportunidades para manter o desenvolvimento do meio rural.”
Área plantada em Venâncio
2019: 145 hectares
2020: 328 hectares
2021: 772 hectares
2022: 1.250 hectares
2023: 1.400 hectares (projeção)
865% – Foi o que aumentou em área plantada em Venâncio entre 2019 e o projetado de 2023.
Preocupação no Estado
Enquanto em Venâncio Aires as projeções são positivas, no estado e país o assunto ainda é tratado com cautela. As previsões de plantio para a safra deste ano pelo IBGE e pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) ainda estão sendo apuradas, mas dados preliminares estimam cerca de 1,5 milhão de hectares plantados, com produção total próxima a 5 milhões de toneladas.
A Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro) promoveu um levantamento entre 20 cooperativas sobre a intenção de plantio para 2023 e identificou um aumento de 1,42% na área de cultivo. Conforme a Fecoagro, há um sentimento de manutenção de área cultivada e se acredita no cenário, embora haja preocupação.
A falta de crédito e seguro agrícola, preços baixos no mercado e possibilidade do impacto climático com o El Niño são alguns dos fatores que estão preocupando produtores gaúchos. Os temas, inclusive, foram abordados pela Câmara Setorial do Trigo, durante reunião nesta semana com a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação.
(Fonte: Governo RS)