Abel Bibiano, 40 anos, estava de férias no início de setembro, quando a cheia do rio Taquari começou a preocupar a comunidade de Vila Mariante. As chuvas que resultariam na maior enchente dos últimos 80 anos já não cessavam. Assessor do Gabinete da Primeira-Dama, ele lembra com detalhes de como foi aquele período: “Como o gabinete já trabalha com essas ações de recolhimento de móveis, de roupas, de doações, eu já estava no final de semana [dias 2 e 3], quando iniciou a chuva, em comunicação com a Defesa Civil, querendo saber se tinha colchões, o quanto tinha de material, se a gente podia deslocar famílias, trazer para o ginásio”.
As férias acabavam mesmo no dia 5, terça-feira, justamente quando a água ‘engoliu’ Vila Mariante e Estância Nova. “Eu coloquei os pés no gabinete e aí explodiu a enchente. A gente já preparou o furgão e o material que tinha que ir. O gabinete já tem uma logística mais ou menos pronta para algumas situações. Então nesse primeiro momento, a gente foi com algumas roupas e alguns alimentos a Mariante, junto com a primeira-dama”, lembra.
Chegando ao distrito, o primeiro choque. “Eu fui do Exército por nove anos, então fiz bastante treinamento de resgate e salvamento. Só que a situação era bem maior do que a gente pensava, achamos que seria uma enchente como as outras. Então chegamos lá e se deparamos com um volume bem expressivo da água”, conta.
ORGANIZAÇÃO
O primeiro trabalho era bastante braçal. Resgatar pessoas em locais vulneráveis, tentar reduzir os prejuízos materiais e transportar vítimas para ambientes seguros. “Nos nossos telefones particulares tinha muita gente conhecida chamando: ‘Estou em tal ponto, não consigo sair, a água já está batendo em cima da janela, nós estamos no telhado’”. Era necessário, antes de tudo, manter a calma e saber priorizar as demandas. “No momento, todo mundo estava precisando [de ajuda], mas entre uma pessoa que consegue subir no telhado e um cadeirante que não consegue se locomover, a gente vai diretamente no cadeirante”, pontua.
Depois desta etapa, veio o momento da reconstrução e da limpeza. A Defesa Civil, como explica, sempre tem donativos guardados para auxílios pontuais para famílias em regiões de maior incidência de enchentes. No entanto, como neste ano foi algo totalmente ‘fora da curva’, foi muito necessário o auxílio dos venâncio-airenses. “A gente não pensa em passar por isso e também não está preparado para tais situações. Algumas coisas a gente foi desenvolvendo e aprendendo. A gente não chegou lá pronto, sabendo tudo que ia fazer. Tinha um plano de ação, só que quando você se depara com a situação é totalmente diferente”, lembra Bibiano.
Nesse ponto, ele exalta a força da comunidade: “O Gabinete da Primeira-Dama recebeu muita ajuda também de voluntários, tanto na questão de doações, como na parte dos serviços braçais. Eu estava lá no Parque Nacional do Chimarrão e tinha gente chegando e falando ‘eu vim para ajudar’. Então, isso foi uma lição que a gente tira: a hora que o Município precisou da ajuda de todos os munícipes, todo mundo se abraçou e lutou por uma só causa”.
Contudo, o trabalho não parou em setembro. Houve ainda outra cheia em novembro, também de grandes proporções. Além de atuar em ambas, Abel Bibiano afirma que o seu trabalho em Vila Mariante segue até hoje, levando móveis, como geladeira e fogão.
APRENDIZADO
Apesar de todas as dificuldades, Bibiano reforça que tudo o que aconteceu serviu de aprendizado para ele e para o Município no respeito à natureza, principalmente. “Eu digo que nada acontece por acaso. Nas cidades vizinhas daqui os estragos foram bem maiores que os nossos. Mas de tudo que acontece a gente tira uma lição. A gente sabe que a força da natureza está aí, a gente não pode brincar”, comenta.