Na quarta-feira, 29, durante o painel Gente & Negócios 2024, que pautou os desafios do pós-enchente, a professora e pesquisadora Sofia Royer Moraes, que é venâncio-airense, provocou uma reflexão muito oportuna e que nos desacomoda. Nos cutuca.
O que escreveríamos em uma carta para alguém que fosse, no futuro, enfrentar uma tragédia climática como essa que vivenciamos em maio? O que você diria, qual conselho daria? “Se lá atrás, em 1941, algum gestor, empresário, um morador tivesse deixado uma carta do que fazer pós-enchente, o que vocês gostariam de ler nesta carta? O que vocês gostariam de deixar de legado após 2024, para que uma geração, daqui a 80 anos, leia essa carta? Como preparamos as gerações futuras para conseguir conviver e se desenvolver?”, questionou Sofia, durante a transmissão.
Segundo a engenheira ambiental formada pela Univates, devemos construir um ‘manual’ de como lidar com nossos arroios e rios e utilizar dados e tecnologias para registrar e monitorar eventos extremos a curto, médio e longo prazo. Na mediação do debate, perguntei a ela o que deveríamos escrever na carta de 2024, e ela não hesitou ao responder: “Queridos, comecem agora. Não temos mais tempo a perder”, disse a professora, que é doutoranda em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental no Instituto de Pesquisas Hidráulicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
E você, o que escreveria nesta carta? Me conta pelo e-mail [email protected].
Mais de 700 milímetros no mês de maio
O interminável mês de maio encerrou e hoje damos as boas-vindas ao mês de junho. Tivemos um maio totalmente diferente do que estava no ‘script’ e fomos surpreendidos com volumes de chuva que resultaram na maior catástrofe climática do Rio Grande do Sul. Inundações e deslizamentos trouxeram prejuízos bilionários para os gaúchos e a perda de 169 vidas.
De acordo com levantamento do agricultor Paulo Fischer, somente em maio choveu 705 milímetros, conforme medição realizada na propriedade dele, em Linha Herval Mirim, no interior de Venâncio Aires. O assinante da Folha do Mate realiza o monitoramento de dados da chuva desde 2001 e disse que nestas mais de duas décadas, nenhum mês registrou tanta chuva como esse. O mês de abril deste ano também foi de chuva acima da média: foram 496 milímetros.
Se agora o excesso de chuva é a pauta, devemos nos preparar para um extremo nos próximos meses. Logo à frente devemos ter um risco de estiagem com a atuação do fenômeno La Niña. “Apanhamos na seca e no excesso de chuva. É um indicativo claro de que não temos infraestrutura hídrica a nível de estado. Não existe solução mágica”, disse o professor da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Tecnologias Ambientais, Marcelo Kronbauer, um dos painelistas do projeto Gente & Negócios realizado pela Folha e Terra FM, na quarta-feira, 29.
Abraço no Rio Grande
Na manhã de quinta-feira, 30, a Igreja Matriz São Sebastião Mártir promoveu a missa de Corpus Christi seguida de procissão pelas ruas centrais de Venâncio Aires. Neste ano, os tradicionais tapetes confeccionados pela Juventude da Paróquia também evidenciaram a solidariedade e a união do povo gaúcho.
Um dos tapetes destacou o abraço ao Rio Grande do Sul, ilustrado por um mapa nas cores da bandeira do estado (foto abaixo). Uma das reflexões trazidas na celebração e que tem total relação com o momento que estamos vivendo em solo gaúcho é “vós sois todos irmãos e irmãs”. A citação bíblica (livro de Mateus, capítulo 23, versículo 8) é o lema da Campanha da Fraternidade de 2024, lançada em fevereiro deste ano.
É uma mensagem que nos lembra o quanto devemos nos unir para apoiar uns aos outros, ainda mais em situações tão desafiadoras como a que estamos vivenciando agora.
