O mês de agosto é reconhecido pela campanha Agosto Dourado, de incentivo ao aleitamento materno. Por conta disso, aproveito este espaço para compartilhar um pouco da minha experiência. Minha filha Laura está prestes a completar 2 anos e seguimos firmes na amamentação. “Mas ela ainda mama?”, é a pergunta que escuto com bastante frequência.
A orientação do Ministério de Saúde é de que o aleitamento materno seja mantido, pelo menos, até os 2 anos. No entanto, essa é uma situação incomum e, portanto, surpreende quem vê uma menina espoleta e conversadeira tomando seu ‘titi’, que ela mesma pede. Que foi, aliás, uma das primeiras palavras a pronunciar.
O mundo moderno, com uma rotina atribulada e boa parte do dia distante dos filhos, desafia a manutenção dessa que é uma das características que mais remete à nossa essência enquanto animais mamíferos. Uma prática com inúmeros benefícios para as crianças – desde o reforço do sistema imunológico e prevenção de alergias e doenças respiratórias até a prevenção de doenças na idade adulta, como hipertensão arterial, diabetes e colesterol. Não existe alimento mais completo e adequado – produzido ‘sob encomenda’ para o organismo da criança. É prático e sem custo. Isso sem falar do vínculo mãe e filho.
Saber os tantos benefícios é um passo importante para ampliarmos os índices de aleitamento materno, o que reflete na saúde e no desenvolvimento das crianças. Ao encontro disso, campanhas como a do Agosto Dourado são tão importantes. Apesar disso, amamentar não é fácil. E ter essa consciência é fundamental para que se consiga desmistificar o assunto e, de fato, tornar a amamentação possível.
A fisioterapeuta e consultora de amamentação Paola Petterini Pedroso elenca uma série de fatores que justificam por que precisamos falar mais sobre o assunto. “Precisa ter este estímulo porque a gente não vê muitas pessoas amamentando, não se tem apoio para amamentar e porque amamentar não é instintivo. São poucas as mulheres que chegam depois do parto, colocam o seu bebê no peito e não têm nenhuma dificuldade. A grande maioria têm dor, desconforto ou seu bebê não consegue sugar”, observa. Seios rachados e doloridos, fissuras e mastite são alguns dos problemas mais comuns.
Esses desafios no início da amamentação levam a uma quebra de expectativa, o que contribui para muitas desistências logo nos primeiros meses ou até semanas. Por ser uma das imagens mais emblemáticas da maternidade, a amamentação é bastante romantizada. Mas, na prática, estabelecer essa prática não é nada fácil, e exige muito da mãe: tempo, esforço, dedicação.
Saber disso é fundamental. Inclusive, Paola lembra que nem sempre as dificuldades se referem à mulher. “Às vezes o bebê tem dificuldade de sugar. E é preciso que os dois se encaixem direitinho para realizar a amamentação”, esclarece.
Se a mãe tiver uma boa rede de apoio, que reconheça a importância da amamentação e garanta o apoio para que isso se torne possível, é meio caminho andado. Esse apoio é tanto psicológico quanto prático. Preparar comida e alcançar uma garrafa de água para a mãe enquanto ela amamenta, é uma forma simples e eficiente de ajudar. Se oferecer para auxiliar nas tarefas domésticas enquanto a mulher descansa é outra colaboração importante. Naturalizar a amamentação em espaços públicos, oferecer apoio à mãe no retorno ao trabalho e possibilitar espaços de amamentação nas creches são outras estratégias importantes. Trocar experiências com outras mães e tornar esse assunto uma ‘pauta’ comum também é essencial. É por isso que vim dizer: “Sim! Ela ainda mama.”