Unisc deve fechar o ano com resultado positivo, o primeiro desde 2015

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Se desde 2015 os resultados da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) geram preocupação entre a comunidade acadêmica e até mesmo regional, nesta reta final do ano a notícia traz alívio e perspetiva de fôlego para o futuro. Isso porque em 2024 a instituição de ensino deve encerrar o exercício com resultado positivo, o primeiro em quase dez anos.
A informação foi confirmada na última sexta-feira, 1º, pelo reitor da Unisc, o professor Rafael Frederico Henn, durante entrevista ao programa jornalístico Terra Uma Hora, da Terra FM 105.1. De acordo com ele, os frutos que começam a ser colhidos neste ano e devem refletir em 2025, 2026 e 2027, são resultados de movimentações que começaram a acontecer há três anos. “Muitas ações foram realizadas para neste ano se ter um resultado muito positivo.”

Antes de detalhar os novos procedimentos adotados, Henn fez questão de contextualizar os motivos que colaboraram para as dificuldades financeiras na universidade. Segundo ele, para isso é necessário fazer um recorte sobre a educação superior brasileira, além de considerar o contexto econômico, as crises climáticas e a pandemia de Covid-19.

Como um dos pontos principais, o professor, que também é presidente do Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas (Comung), lembrou que no fim de 2014 houve uma grande alteração no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Mudanças essas que passaram a refletir já em 2015 e geraram grande limitação no número de vagas do Fies para cada universidade.

Segundo o reitor, de 2010 a 2014 a Unisc tinha cerca de mil alunos por ano com o financiamento. Em 2015, esse número reduziu drasticamente e passou para 120 estudantes e conforme ele esse número continua muito baixo ainda. Para se ter uma ideia, na época das mudanças, a universidade tinha quase 13 mil alunos estudando de forma presencial e deste total 52% tinha financiamento estudantil.

“Infelizmente boa parte da população brasileira não consegue ter recursos financeiros para acessar o ensino superior privado ou comunitário. As formaturas de cada ano eram grandes com alunos de anos anteriores com Fies e o ingresso em cada ano via vestibular era pequeno, porque não se tinha mais Fies”, contextualizou. Para ele, um dos motivos para a queda no número de estudantes na modalidade presencial é a dificuldade dos alunos em acessar o ensino superior sem financiamento estudantil.

Pensando em se restabelecer do impacto causado pelas alterações do Fundo de Financiamento Estudantil, já em 2015 muitas ações começaram a ser adotadas pela Unisc. “Uma delas, e que teve muito sucesso, foi a retomada do crédito próprio, pelo qual o aluno realiza toda a formação pagando metade do valor da mensalidade. Depois de formado e empregado, ele vai pagar a outra metade, sem nenhum tipo de juros, apenas a atualização da mensalidade”, compartilhou.

Campus de Venâncio

  • O reitor da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Rafael Frederico Henn, observou que no campus da instituição em Venâncio Aires também há vários serviços disponíveis. Ele citou, por exemplo, o trabalho em parceria com a Prefeitura da Capital do Chimarrão em relação à incubadora tecnológica na área de inovação. Ele também ressaltou que a universidade mudou o perfil de ensino, focando mais no trabalho com cursos técnicos.

Diagnóstico e planejamento foram essenciais

Durante a entrevista ao programa Terra em Uma Hora, o reitor da Unisc, Rafael Frederico Henn também ressaltou que a partir da queda brusca provocada pelas alterações no Fies, o estabelecimento de ensino decidiu realizar um diagnóstico e um planejamento para o período de cinco anos. Agora, a universidade está no quarto ano deste processo.
“Duas coisas muito simples eram claras. A dependência muito grande com a graduação presencial – 93% da receita vinha disso. Se essa graduação caí, por óbvio a receita cai bruscamente. Tínhamos que ajustar isso. E um dos objetivos era começar a buscar outras fontes de receita, além da graduação”, mencionou. Para atender essa lacuna, a universidade criou uma área de serviços.

“Uma crença que eu realmente tenho é que as universidades têm um potencial intelectual e físico que pode estar mais perto da sociedade do que estavam até então. Se ouve muito nas regiões, quando vamos conversar com as pessoas, sobre os muros da universidade, como se dentro da universidade fosse uma sociedade e fora outra. E isso precisamos quebrar. Se existem muros, eles devem ser derrubados, porque essas áreas de pesquisa, as instalações que existem, elas podem, e devem, servir como prestação de serviço para a comunidade e aumentar a receita com isso. Porque não há nada que indique no cenário nacional que a graduação vai ter uma melhoria em 2025 ou 2026”, destacou.

Na avaliação de Henn, essa foi uma atitude que deu muito certo. “Nossa área de serviços cresceu imensamente e hoje já representa cerca de 20% da receita da universidade”, citou. Entre os diversos serviços oferecidos pela Unisc, o reitor elencou a central analítica, que envolve o laboratório para análise de solos, água e folhas, por ela ser a principal do ponto de vista de receita. De acordo com ele, ela é uma das maiores da América Latina.

Além disso, ele mencionou que a partir do diagnóstico, foi possível perceber que 40% das análises eram oriundas do centro do Brasil, principalmente do estado de Mato Grosso. Por essa razão, em 2022 foi criada uma unidade da central analítica no município mato-grossense de Primavera do Leste, para fazer análise de solos. “Ampliou demais com essa unidade no Mato Grosso. Neste ano, ela vai render cerca de R$ 20 milhões de faturamento. É um número muito expressivo”, informou.

O Centro Socioambiental também é uma iniciativa que ganhou destaque neste ano, a partir do lançamento da proposta e iniciativas desenvolvidas em parceria com entidades regionais, como é o caso do Consórcio Intermunicipal de Serviços do Vale do Rio Pardo (Cisvale) e a Associação dos Municípios do Vale do Rio Pardo (Amvarp), e as próprias prefeituras.

Estranheza

O reitor da Unisc comemorou os frutos positivos que começam a ser colhidos neste ano, mas também citou que o novo planejamento adotado pela instituição de ensino gerou muita estranheza e até críticas no início da implementação e ao longo do processo.
“Uma universidade comunitária como a nossa, que nasceu da sociedade, a partir do momento em que uma comunidade local queria ter ensino superior aqui próximo, ela tem esse caráter comunitário, que é muito claro. Ou seja, a finalidade da nossa instituição é pública. Mas ela é de direito privado. Essa é a grande confusão que as pessoas fazem. O recurso todo para aplicar em projetos sociais têm que vir de algum local. Não tem recurso público”, esclareceu.

O professor ainda salientou que só é possível auxiliar a comunidade se o resultado financeiro for positivo. “O fato de estarmos procurando novos serviços para trazer novas receitas é para que esse dinheiro seja aplicado na finalidade essencial da universidade, que é ser uma instituição comunitária”, salientou. Henn ainda lembrou que todo o recurso gerado em cada ano será aplicado nas regiões onde a universidade atua.

“É o que está acontecendo agora, mas porque temos dinheiro para aplicar. Nos anos anteriores, de 2015 a 2023, os projetos reduziram muito por falta de recurso financeiro”, acrescentou. O professor também frisou que para se chegar ao resultado positivo neste ano a universidade aumentou muito a receita com outros serviços para além da graduação e reduziu custos. “Infelizmente, ao longo dos anos muitos colegas saíram, muitos foram substituídos e muitos entraram no PDV [Plano de Demissão Voluntária], que este ano vai acontecer novamente”, compartilhou.

Educação a distância

  • Durante a entrevista, o reitor da Unisc, Rafael Frederico Henn, informou que em contrapartida à redução do número de alunos presenciais, a quantidade de estudantes na Educação a Distância (EAD) cresceu significativamente nos últimos anos. “No período de 2015 a 2023 cresceu mais de 250% o número de alunos EAD no Brasil, no Rio Grande do Sul e na nossa região, e reduziu em torno de 50% o presencial”, pontuou.
  • Conforme o professor, a Unisc tem 1,2 mil alunos na modalidade não presencial. Entretanto, ele acredita que a tendência seja de queda nessa quantidade, não só na universidade, mas em todo o Brasil, no ano que vem. Essa redução, segundo ele, estará associada a um trabalho de revisão do marco regulatório do EAD no país.
  • Hoje, inclusive, está em vigor uma proibição do Ministério da Educação para a abertura de qualquer curso ou polo de educação a distância. “Vai ser necessário ter uma estrutura física e laboratórios, por exemplo.” Apesar de projetar uma redução nessa modalidade de ensino para 2025, o reitor da Unisc acredita que a partir de 2026 e 2027, possivelmente, as instituições bem estabelecidas devem crescer na oferta EAD.


Taís Fortes

Taís Fortes

Repórter da Folha do Mate responsável pela microrregião (Mato Leitão, Passo do Sobrado e Vale Verde) e integrante da bancada do programa jornalístico Terra em Uma Hora, da Terra FM

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