No lugar dos penteados que mais parecem obra de arte estavam os lenços brancos. A peça não fazia parte da indumentária, mas passou a ser para as prendas da Invernada Xirú, do Centro de Tradição Gaúcha (CTG) Tropilha Farrapa, durante o Rodeio Artístico da 24ª Região Tradicionalista (24ª RT), domingo, 14, em Lajeado.
Segundo a instrutora e diretora cultural da entidade, Ana Cristina Finke, uma das integrantes que passou por tratamento contra o câncer queria desistir para não prejudicar o grupo, no quesito indumentária, fazendo uso do lenço.
A partir disso, um documento assinado pela patroa da entidade Clarice Borges e o diretor artístico Andreas Finke fora encaminhado ao Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) e à coordenadoria da Região solicitando autorização para que todas as prendas usassem o acessório. Iniciativa que foi prontamente acolhida. No entanto, a integrante não sabia que todas deixariam de lado o penteado.
“E AGORA QUEM É A MARLI”?
No domingo, após o almoço, chegou a surpresa para a integrante em forma de presente, conta Ana Cristina. “E foi muito impactante. Entregamos a ela um presente e revelamos que todas nós ficaríamos iguais durante a apresentação usando também um lenço.” Inicialmente o pedido de autorização para uso do acessório seria apenas para entrada. “Mas aí pedimos para usá-lo em todas as danças”, acrescenta Ana Cristina.
A expressão “e agora quem é a Marli”, foi dita por uma das integrantes, acentuando a união e a solidariedade para com a colega. Ana Cristina acrescenta que no palco das danças, o gesto de apoio às mulheres guerreiras que passam por essa situação foi reforçado. Gestos que “emocionou” a comissão avaliadora, participantes e plateia, conforme depoimento do avaliador do Movimento Tradicionalista Gaúcho, Lucas Oliveira.
RECONHECIMENTO
“Foi lindo, assim como foi lindo pra mim. Não consegui não falar sobre. Até porque as redes sociais estão cheias de ódio. Quem sabe algo de bom possa melhorar o dia de muita gente”, destaca o avaliador.
Em sua página, nas redes sociais Lucas Oliveira expressa o sentimento vivido naquele domingo. Com sua autorização transcrevemos, aqui sem recortes.
“Em meio a tanta disputa, em meio a tanta opinião jogada ao vento sem saber o que realmente se passa, a todo esse momento caótico da sociedade e impactante no Movimento Tradicionalista Gaúcho influenciado pelas redes sociais, testemunhei, me emocionei e pude ver um Movimento (que somos todos nós, diretoria, coordenadorias e etc) despido de qualquer vaidade, conforme orienta nossa Carta de Princípios. No palco da Regional do ENART da 24ª Região Tradicionalista, hoje, só havia amor, não só a dança mas as pessoas. Todos que lá estavam também testemunharam, foi um gesto simples, mulheres e homens que pediram em uma carta para que nós, membros do comitê de indumentária e a todos que assistiam e disputavam, tivéssemos empatia ao compreender, respeitar e, porque não dizer amar também, a sua companheira de invernada que, no momento luta pela cura do câncer. Todas as mulheres usavam um lenço amarrado a cabeça, durante toda apresentação, igual ao que ela utiliza como seu símbolo de força, torno a dizer um gesto simples, mas tão grandioso que nenhuma diretriz poderia deter, pois, o que presenciamos é o próprio sentido do tradicionalismo e assim deve ser. Regulamentos servem para organizar e orientar, porém, jamais podem ser absolutos sobre o ser humano, suas necessidades e seus sentimentos. Desta forma, reforço que a organização MTG (eu, você e todos que fazem parte) é amplamente disponível e capaz de abraçar cada um de nós. Sendo assim, encerro a missão deste domingo, utilizando desta plataforma para noticiar e ser grato pelas maravilhosas atitudes que presenciei, bem como, parabenizo a 24ªRT representada pela coordenadora Luce Carmen [Luce] e a Invernada Xiru do CTG Tropilha Farrapa por este momento em que tanto ansiamos por ‘Paz e Esperança de um Tradicionalismo em favor da igualdade, respeito e coletividade’, conforme o Lema do Projeto da gestão de Prendas e Peões do Rio Grande do Sul 2019/2020. Então é isso apenas gratidão!”