Canudinhos de plástico: o preço da conscientização

-

Não é de agora que o uso excessivo do plástico gera debates em qualquer encontro no qual o tema é o meio ambiente. Se por um lado ele tem sido conveniente para inúmeras situações do cotidiano, por outro é apontado por muita gente como uma preocupação já do presente e não do futuro.

No meio disso, quem recentemente vestiu a ‘máscara do bandido’ foi é canudo plástico. Pelo menos é ele quem virou alvo de discussões e artigos mundo afora. Mas, vindo para o nosso terreno, a questão também já foi levantada, ainda que apenas de forma teórica. Isso porque Venâncio Aires não tem legislação específica sobre o assunto.

Enquanto por aqui ainda não há medidas estabelecidas em força de lei, a prática até existe, mas parte da iniciativa de cada venâncio-airense. Um exemplo ocorre há cerca nove meses, na Naturvida, loja que comercializa produtos naturais na Capital do Chimarrão. A empresa, que também conta com um bistrô, decidiu abandonar o uso de canudos de plástico para usar os de inox.

Mas essa substituição, o proprietário confessa, é uma questão de conscientização e não pelo preço. “Se eu fosse pensar no retorno financeiro, não sei quando isso aconteceria. Então é pela conscientização ambiental, porque realmente se usa muito plástico”, considera Fábio Hickmann Weber, sócio-proprietário da Naturvida.

Weber explica que itens são devidamente lavados e vêm com uma escova (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

VALORES

A diferença financeira, de fato, é grande. Conforme Weber, quando decidiu usar canudos de inox (que podem durar anos), ele pagou R$ 300 em outubro de 2018 por 40 itens, além de escovinhas para limpeza interna (semelhantes àquelas usadas para limpeza de bombas de chimarrão). Esses R$ 300 seriam suficientes para custear cerca de 5 mil canudos plásticos.

“Entendo que como somos uma loja de produtos naturais, precisamos ser um exemplo e ‘puxar’ a frente. A conscientização pode ter um preço agora, mas no futuro será importante para todos os lugares. Pensei na troca como empresário para dar exemplo, mas como ser humano também.”

Weber explica que nos últimos dois meses o mercado tem diminuído os valores do canudos de inox, mas o valor individual ainda gira em torno R$ 7. “Se percebe que a procura tem aumentado.”

INICIATIVA

  • Além de oferecer canudos de inox no bistrô, a Naturvida adotou outras medidas para tentar diminuir o uso de plástico no estabelecimento. Com os talheres, por exemplo, eles não chegam mais à mesa dos clientes envoltos em plástico, mas sim em guardanapos.
  • A loja, que vende produtos naturais a granel, já oferece a possibilidade de o cliente levar, também, os itens em embalagens de papel (três vezes mais caras que as de plástico para a loja, segundo Fábio Hickmann Weber).

“Apenas criar uma lei para proibir, não resolve”, diz secretário

Especialistas entendem que o canudo plástico pode ser uma linha de frente para diminuir o uso de outros materiais, como sacolas e garrafas. Isso passaria pela já corriqueira, mas necessária palavra, conscientização. “Acredito que é essencial investir em educação ambiental. Apenas criar uma lei para proibir o seu uso não resolve. As pessoas precisam entender o que isso significa ao meio ambiente”, destacou o secretário de Meio Ambiente de Venâncio Aires, Clóvis Schwertner.

O secretário afirmou que, internamente, o tema para criar uma legislação municipal sobre o tema está longe de ganhar forma, mas que se fosse apresentado projeto, “com certeza os vereadores seriam sensíveis e aprovariam o tema”. “O objetivo, antes de pensar em algo mais radical, é debater e, aos poucos, criar uma consciência crítica na população.”

Nessa linha, segue a presidente do Conselho Municipal de Meio Ambiente, Norma Barden. Ela afirma que o debate representa um primeiro passo importante para que as pessoas se sintam instigadas a fazer perguntas mais importantes sobre o uso de plástico. “Precisamos avançar em muitas frentes ambientais. Uma delas é sobre a necessidade de conseguirmos separar corretamente nosso lixo, entre orgânico e seco, ao menos.”

LEGISLATIVO

Em Santa Cruz do Sul, desde o fim de 2018, uma lei municipal proíbe a utilização de canudinhos plásticos em estabelecimentos comerciais a partir de 2020. Houve, inclusive, uma tentativa para tentar proibir o uso de copos plásticos. A ideia, porém, não chegou a ser aprovada.

Já em Venâncio, o debate formal mais recente partiu de dentro do Legislativo. Em junho, a vereadora Izaura Landim (MDB) apresentou projeto de lei prevendo o incentivo ao uso de canecas. A ideia dela é eliminar o uso de copos plásticos descartáveis na Câmara de Vereadores. O projeto está em análise nas comissões internas do Legislativo.

*Com colaboração de Cristiano Wildner

Copos e canudos plásticos serão substituídos na Univates*

Em Lajeado, a Universidade do Vale do Taquari (Univates) decidiu substituir copos, canudos e mexedores plásticos por materiais com menos impacto ambiental. O período de adequação ocorrerá entre os meses de julho e agosto e se aplica tanto para os setores administrativos quanto para os bares e restaurantes do campus. A medida busca, além de reduzir o consumo de plástico na Univates, incentivar a adoção de práticas sustentáveis.

“O plástico traz facilidades e sabemos que a medida pode gerar desconforto. A definição é educativa. Esperamos que as pessoas tenham mais responsabilidade na geração do resíduo. Nosso objetivo é mostrar que diminuir a geração do resíduo é mais importante do que tratá-lo”, explica o gerente de Engenharia e Manutenção da Univates, Robledo Müller.

Medida se aplica para setores administrativos, além de bares e restaurantes do campus (Foto: Lucas George Wendt/AI Univates)

VOCÊ SABIA?

  • Um copo plástico leva de 50 a 400 anos para se decompor
  • O canudinho de plástico representa 4% de todo o lixo plástico do mundo e pode levar até mil anos para se decompor no meio ambiente
  • O Fórum Econômico Mundial relata a existência de 150 milhões de toneladas métricas de plásticos nos oceanos
  • A humanidade gera 275 milhões de toneladas de resíduos plásticos por ano, das quais entre 4,8 milhões e 12,7 milhões de toneladas chega aos oceanos

*Com informações Assessoria de Imprensa Univates



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

Clique Aqui para ver o autor

    

Destaques

Últimas

Exclusivo Assinantes

Template being used: /var/www/html/wp-content/plugins/td-cloud-library/wp_templates/tdb_view_single.php
error: Conteúdo protegido