Vítima de violência doméstica: “Quero voltar a viver em paz”

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Encorajada por sua advogada e diante dos fatos recentes – onde uma jovem foi morta pelo ex-namorado, que não aceitou o fim do relacionamento -,  uma mulher de 43 anos decidiu que quer retomar a sua vida, perdida há 11 anos. Em entrevista à Folha do Mate, concedida na manhã dessa sexta-feira, 10, a comerciante conta que já foi humilhada, ameaçada e agredida, mas quer voltar a ser feliz. “Eu tenho esse direito e vou lutar por ele e encorajar outras mulheres a fazerem o mesmo”.
A vítima é uma das 77 mulheres que atualmente recebem acompanhamento da Patrulha Maria da Penha (PMP) em Venâncio Aires. Desde que chamou a Brigada Militar pela primeira vez, no dia 2 de setembro do ano passado – mesmo dia em que o caso foi registrado na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento -, recebe visitas periódicas da soldado Faller, mas ainda não teve de volta a paz que procura.
Ela integra o grupo de nove vítimas considerados ‘casos graves’ atendidas pela Patrulha. “São situações onde os agressores desrespeitam as medidas protetivas deferidas pelo Judiciário”, observa a soldado Faller. Se flagrados pela Brigada Militar nestas situações, os homens serão presos pelo descumprimento e encaminhados à Penitenciária Estadual de Venâncio Aires (Peva).
Atualmente, a PMP tem cerca de 215 medidas protetivas vigentes, ainda não atendidas. São  mulheres que residem no interior do município e em Mato Leitão e que não receberam a primeira visita. “Importante que estas mulheres, se necessário, entrem em contato com a BM”, aconselha Faller.

FOLHA DO MATE – Quanto tempo você ficou casada com o denunciado?
Vítima – Foram 11 anos de um casamento conturbado. Fui muito humilhada, mas sofria calada. Já estávamos legalmente separados há cinco meses, mas ele continuava dormindo na nossa cama e eu, em um colchão, no chão.

Quando procurou a Brigada Militar pela primeira vez, o que aconteceu?
Eu estava com dores nas costas, por causa do tempo em que dormi no chão e apoiada pela minha mãe, decidi comprar um colchão novo. Meu ex-marido já havia retirado algumas coisas da casa que construímos – que foi financiada – e naquele dia 2 de setembro ele voltou, para pegar mais algumas coisas. Eu estava atendendo algumas clientes, quando o caminhão chegou para entregar o colchão. Ao ver dois homens descarregando o colchão, ele invadiu o local onde estava, me ofendeu e me agarrou pelo pescoço.

Como se livrou da agressão?
Duas mulheres que estavam no local gritaram para que ele parasse, pois ia me matar, e os homens que entregaram o colchão também vieram ver o que estava acontecendo. Foi horrível.

Depois deste episódio você o denunciou à polícia?
Sim. Chamei a Brigada Militar e fomos registrar o caso na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA). Solicitei as medidas protetivas da Lei Maria da Penha – que foram deferidas – e entre as determinações do juiz está uma que o proíbe de chegar 100 metros perto da minha casa ou do meu trabalho.

E ele cumpre as determinações?
Não. Já o vi diversas vezes passando na frente da minha casa e em um episódio, quando estava viajando, pedi para o meu filho dormir aqui. Ele colocou o carro dele na garagem e de noite notou que havia alguém parado no portão e foi ver. Era o meu ex-marido, que estava com uma lanterna conferindo a placa do carro, querendo saber quem estava na minha casa.

Você teme por sua vida?
Sim, pois ele não respeita o fim do relacionamento e já me fez ameaças. Não me deixa viver minha vida. Não posso sair na rua e tenho que andar me escondendo. Eu tenho 43 anos e mereço encontrar uma pessoa boa. Quero viver minha vida em paz.

É essa vontade de retomar a vida que a fortalece?
Sim. Decidi que quero voltar a viver. É um direito que tenho e vou encorajar outras mulheres a se libertarem dos agressores e os denunciarem. Nós mulheres temos que nos defender.

LEIA MAIS: A importância de denunciar os agressores à polícia



Alvaro Pegoraro

Alvaro Pegoraro

Atua na redação do jornal Folha do Mate desde 1990, sendo responsável pela editoria de polícia. Participa diariamente no programa Chimarrão com Notícias, com intervenções na área da segurança pública e trânsito.

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