Você já pensou onde os dejetos dos animais vão parar? Na área rural, existem diversas maneiras de reutilizar o esterco de forma sustentável. Cada vez mais, a preocupação do produtor é com essa questão, seja no setor de suínos, aves ou de gado de leite e corte, a fim de evitar que os dejetos poluam a água.
A destinação dos dejetos orgânicos dos animais é uma questão bastante discutida na Emater-RS/Ascar. Conforme o chefe do escritório local, Vicente Fin, quando os técnicos prestam assistência às propriedades ou elaboram os projetos de financiamento para a construção dos galpões já aconselham e orientam sobre a construção de um espaço adequado para a destinação dos dejetos, preferencialmente coberto. “Mas a gente percebe que muitos ainda não se preocupam com essa questão”, comenta. Para auxiliar, o grupo técnico realiza palestras e auxilia agricultores na instalação correta de uma esterqueira.
Um dos produtores que busca alternativas para destinar o dejeto de forma correta é Luís Carlos Schwendler, 53 anos. A família de Linha Harmonia da Costa trabalha com gado leiteiro e suínos, integrada com a Dália Alimentos.
Atualmente, são 20 vacas no plantel, que geram uma produção de 250 litros por dia. O principal volume de dejetos, no entanto, é gerado no chiqueiro: são cerca de 700 suínos por lote. A família tem a criação de matrizes. A cada 90 dias, são produzidos um milhão de litros de dejetos que ficam armazenados em duas esterqueiras. Uma delas já está com o telhado concluído.
Schwendler comenta que esses dejetos são utilizados em 50 hectares de lavoura. “Temos contratos com vizinhos, além disso, colocamos um pouco na nossa terra também”, comenta. O produtor salienta que ele utiliza um produto à base de biobactérias que é colocado dentro da esterqueira. “ Com isso, a gente elimina a amônia, o gás e o cheiro. Quando vai para a lavoura não tem cheiro de nada. Além disso, o produto não modifica nada na lavoura.”
Agora, a família já está iniciando a construção da segunda esterqueira e projeta fazer uma para as vacas também. “Em quatro meses queremos ter tudo organizado e certinho”, frisa.
1 milhão de litros
esse é o volume de dejetos líquidos produzidos a cada 90 dias na propriedade dos Schwendler.
Dejetos dos animais: de um potencial poluente a um adubo bom e barato
Devido à grande produção agrícola em Venâncio Aires, no território da bacia do arroio Castelhano são criados cerca de 50 mil cabeças de suínos, seja em sistema integrado ou para consumo das famílias. “Cerca de 71% dos dejetos podem, de alguma forma, se mal utilizados, pararem na bacia do Castelhano”, alerta o engenheiro agrônomo da Emater, Vicente Fin, ao considerar o número de propriedades sem esterqueira coberta ou onde a destinação dos dejetos não é realizada corretamente.
Por ano, a produção suína nessa região gera em torno de 80 mil metros cúbicos de dejetos líquidos. “Nesse número precisamos contabilizar uma parte de Santa Cruz do Sul, onde o Castelhano também passa. Eu acredito que esse número acresce de uns 25% se considerarmos mais essa parte”, pontua.
No setor leiteiro, a Emater estima que cerca de 800 vacas estão na região da bacia do Castelhano. “São produzidos cera de 15 mil metros cúbicos de dejetos por ano”, cita Fin. Já o gado de corte representa uma média de 38 mil cabeças, uma geração de 93 mil toneladas por ano de esterco sólido nos galpões e varanda entre animais subsistência ou gado de corte.
Além disso, nessa região, Venâncio tem cerca de 2,4 milhões de aves, que geram 90 mil toneladas de esterco por ano. “De todos os estercos, o menos exposto e que dificilmente vai parar no Castelhano é esse. O dejeto das aves é menos propício a contaminar a água. Ele não tem perigo de ir para o arroio pois está no galpão, mas quando vai para a lavoura pode ser um problema”, observa o chefe da Emater.
Adubo
Os dejetos animais podem ser utilizados como um bom adubo nas lavouras. Por isso, a Emater aconselha que sejam observados diversos fatores, como a dosagem adequada por hectare. No caso do esterco suíno, precisa ficar 120 dias fermentando para, então, ir para a lavoura.
Além disso, o produtor precisa espalhar no solo quando não há previsão de chuva. “Assim ele vai secar, reduzir o volume e a presença dos coliformes”, explica Vicente Fin. A dose adequada é de 25 metros cúbicos por hectare/ano, que devem ser aplicados preferencialmente sob a cobertura verde e incorporados no solo.
Em relação ao gado, Fin salienta que a parte que fica no campo não tem o que ser feito. Porém, o que é produzido dentro de galpões e esterqueiras podem ser bem aproveitada. “O ideal seria que o esterco fosse compostado antes de ir para a lavoura e utilizar em média cinco toneladas por hectare no ano.”
No setor avícola, os dejetos gerados nos galpões são utilizados na lavoura. “São cerca de três a quatro toneladas por hectare que podem ser utilizadas. Mas sempre observando questões como a cobertura verde e a incorporação”, ressalta o engenheiro agrônomo.
Soluções para evitar que os dejetos contaminem a água
•A Emater aconselha que o produtor tenha mata ciliar em, pelo menos, 50 metros de raio de onde está a nascente e cinco a 15 metros de mata ciliar onde tem qualquer córrego ou sanga. “Com isso, não tem chance de contaminar a água. Se chegar a correr da lavoura ainda tem uma barreira”, aconselha Fin.
• O manejo adequado da lavoura auxilia com que os dejetos não cheguem ao córregos, quando o agricultor utiliza curva de nível e plantio direto.
•Fazer o uso de dejetos fermentados ou compostados antes da aplicação na lavoura.
•Utilização de cobertura para as esterqueiras secas ou líquidas.
• “Se a lavoura e as esterqueiras não forem bem conduzidas a parte sólida pode gerar uma parte química que pode gerar problema, como perda da animais aquáticos”, pontua Fin.
•Se os dejetos sólidos forem parar nos córregos, e tiver a entrada de sol, poderá ter a propagação do mosquito Simuliidae, popularmente conhecido como borrachudo.
“Se os produtores fizessem o uso dessas dicas com 70% dos dejetos gerados nessa região da bacia do Castelhano, nós teríamos o controle na parte microbiológica e um bom aproveitamento para insumos, o que reduziria o uso de insumos químicos.”
VICENTE FIN
Engenheiro agrônomo e chefe do escritório da EMATER-RS/ASCAR