O município de Venâncio Aires sofre, historicamente, com a dificuldade de encontrar fontes de água com o teor correto de flúor. Uma das regiões mais impactadas é na bacia hidrográfica do Baixo Taquari, abrangendo localidades como Vila Palanque, Linha Herval, Rincão de Souza, Estância Nova e outras.
O professor do curso de Química da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Adilson Ben da Costa, detalha que projetos desenvolvidos pela universidade para desfluoretação da água são realizados desde 1994. Ele conta que, na época, foi montada a Central Analítica da Unisc – reconhecida nacionalmente – por meio da qual foi pesquisado e descoberto que poços tubulares (popularmente chamados de artesianos) tinham altos níveis de flúor. “Quando as pessoas faziam o diagnóstico da água, o problema aparecia e não se tinha uma solução viável financeiramente”, frisa.
Segundo ele, a universidade contou com apoio de diversos órgãos e empresas para realizar o diagnóstico nos vales do Rio Pardo e Taquari e outras regiões e desenvolver as soluções. “Os vales sempre tiveram problemas com o flúor, a partir disso, fizemos o diagnóstico e procuramos soluções”, destaca.
Recentemente, a Unisc desenvolveu, em parceria com a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), dois sistemas de tratamento da água com o objetivo de desfluoretação. O primeiro, em parceria com a Philip Morris Brasil, é um filtro compacto – contando com seis quilos de carvão e ocupando um volume de 10 litros -, tem como objetivo a filtração de água no ponto de uso (PDU), ou seja, no local onde a família recolhe a água para utilização. “Com esse sistema, garantimos seis meses e, depois, é realizada apenas uma manutenção”, explica o professor.
Costa frisa que o foco no desenvolvimento dos projetos, além da efetividade, é o baixo custo financeiro, para torná-lo viável em boa parte das propriedades. “A ideia é expandir. Fizemos com 10 famílias esse projeto e queremos abranger mais.” O projeto-piloto foi implementado em famílias de Linha Coronel Brito, Vila Estância Nova, Estância São José, Campo Grande, Linha Cerrito e Linha Mangueirão.
Contudo, este primeiro sistema não deve ser usado para tratar toda a água de uso residencial, como água do banho, descarga do banheiro e outras questões desnecessárias, focando apenas na água para consumo. “Já temos alguns instalados no interior de Venâncio Aires – e outras comunidades no interior do estado – em pequenas comunidades afastadas dos centros urbanos, longe do alcance da rede pública de abastecimento.”
Apoio
A Philip Morris Brasil, por meio da assessoria de imprensa, informa que o objetivo do projeto foi desenvolver um diagnóstico da qualidade da água para consumo humano na bacia hidrográfica do Baixo Taquari. “Além de identificar pontos de melhoria, propor ações sustentáveis para adequação da qualidade da água ao consumo humano e oferecer sistemas alternativos de tratamento para melhoria da qualidade da água em pontos críticos de abastecimento, no caso, filtros”, citou. Segundo a empresa, o estudo reúne importantes informações sobre a situação atual da qualidade da água de abastecimento das 101 propriedades rurais desta bacia.
A Philip Morris enfatiza que, por meio da certificação Alliance for Water Stewardship (AWS), possui o compromisso de desenvolver projetos, que vão do diagnóstico das condições de uso da água, tanto de sua qualidade quanto quantidade, à soluções para as oportunidades identificadas. “Todos os projetos desenvolvidos possuem parceiros especializados, para a resolução das prioridades mapeadas. A empresa está elaborando um plano de expansão e atuação nesta bacia hidrográfica e outras nas quais têm atuação”, afirma a assessoria de imprensa.
Sistemas de filtração
O segundo projeto de desfluoretação realizado pela Unisc ocorre em parceria com a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan). Este foi desenvolvido em 2021 e é um sistema de remoção de flúor que fica dentro de um contêiner (de três por dois metros), sendo um conjunto de sistemas de filtração onde acontecem reações químicas que promovem a precipitação do flúor. Com isso, é separado o flúor da água e este é retido dentro do sistema – que pode ser considerado uma miniestação de tratamento de água (ETA).
“É um sistema coletivo, então ele pode ser colocado na saída de um reservatório ou poço e trata toda a água da rede de abastecimento. Esse projeto tem o intuito de atender comunidades de até 500 pessoas, mas nada impede que seja ampliado”, enfatiza o professor.
“A concentração excessiva de fluoreto na água de abastecimento nesta região é o principal parâmetro que compromete sua qualidade para o abastecimento público. Com o sistema de tratamento proposto, foi possível a adequação da qualidade da água.”
ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DA PHILIP MORRIS BRASIL
Sobre o projeto do filtro compacto desenvolvido em parceria com a Unisc
Entenda os problemas do flúor em excesso na água:
A Portaria nº 888/2021 do Ministério da Saúde, que estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade, determina como 1,5 mg/L o limite máximo de fluoreto em água para abastecimento público. Já no estado do Rio Grande do Sul, a Secretaria Estadual da Saúde, através da portaria nº. 10, de 19 de agosto de 1999, com base em estudos específicos, definiu em 0,8 mg/L a concentração ideal de fluoreto em águas destinadas ao consumo humano no Rio Grande do Sul, devido a sua ação na inibição da cárie dental, e teores 0,6 e 0,9 mg/L como limites mínimos e máximos, respectivamente.
Poços com alto teor de flúor*:
• Linha Travessa (dois poços): 509 famílias
• Linha Herval (dois poços): 234 famílias
• Estância Nova: 126 famílias
• Estância São José: 110 famílias
• Cerro dos Bois: 96 famílias
• Rincão de Souza: 85 famílias
• Picada Nova: 70 famílias
• Campo Grande: 13 famílias
• Vila Arlindo: 58 famílias
• Linha Sapé: 35 famílias
• Sexto Regimento: 35 famílias
*Dados da Vigilância Sanitária