A cada trajetória vitoriosa e individual no esporte, uma história diferente para contar. A conquista do Campeonato Mundial de Jiu-Jítsu por parte de Misael Viana é um exemplo. Ele simplesmente começou do nada, ou melhor, sequer sonhou um dia praticar a arte marcial. Dentro de si a alma de competidor veio à tona para o mundo inteiro. Isso ocorreu dia 30 de maio quando conquistou o Mundial de Jiu-Jítsu, na Califórnia, Estados Unidos.
A trajetória de Misael Viana começou quando passou em frente a uma academia em Venâncio Aires e resolveu arriscar. “Entrei em contato para ver da possibilidade de ingressar na modalidade. Comecei a treinar e principalmente pegar gosto pela coisa. Mais tarde me indicaram a Academia Samurai, em Santa Cruz do Sul. Foi um a dois treinos e desde então entrei de corpo e alma. Me dediquei. Ralei para valer. Quando estava cansado, deixava para descansar quando era possível. Assim fui crescendo na modalidade. Foram dois anos e meio praticamente de entrega total. Foram dias e mais dias treinando de três a quatro horas”, destaca o atleta que tem 29 anos.
Em meio a maratona dos treinos, idas e vindas de Santa Cruz do Sul, estudos, trabalho, Misael ainda competiu em diversos campeonatos. O montante das medalhas conquistadas não cabem em uma única mão. Realmente ‘são de peso’. “Tenho mais de uma dezena de títulos Estadual. Coleciono mais 30 medalhas. É apenas o começo pois sigo na luta, trabalhando firme e forte por futuras conquistas”, disse Viana.
Quando surgiu a oportunidade de ir para o Mundial, Misael colocou como objetivo ir à luta. “É correria por passaporte, precisava correr atrás de recursos financeiros para participar e se manter durante os dias de competição. Tinha o período de treinamento que para o Mundial foi intensificado. Para tudo era necessário se doar ao máximo. No final a vitória recompensa. Ela está acima de qualquer obstáculo”, enfatiza o atleta que no Mundial competiu como faixa branca dos 88kg aos 94kg.
A COMPETIÇÃO
Misael Viana conta que sua ida para os Estados Unidos teve o acompanhamento do técnico Fabrício Marmitt. “Foi meu braço direito na competição. A cada luta, os gritos de incentivo fizeram a diferença nos tatames”, disse.
Na primeira luta, Misael saiu em desvantagem. O adversário tentou o estrangulamento mas Viana, em uma virada, puxou o oponente e conseguiu o Arm-lock – o lutador coloca o braço do oponente entre suas pernas, segurando o punho com as mãos e com o quadril faz uma alavanca para finalizar o adversário. “Foram cerca de dois minutos de uma luta bem competitiva, que exigiu mesmo”, enfatiza.
Depois de consolidada a primeira vitória, Viana passou de etapa e se deparou com outro competidor na luta que tinha em disputa uma vaga na decisão. “A segunda luta foi mais tranquila. Já tinha visto anteriormente o adversário em ação e percebi que o mesmo faria muita força. Contra ele puxei para guarda e finalizei a luta com 38 segundos”, conta Viana.
Veio a terceira e decisiva luta do dia. “Estava em jogo o título. Oponente forte pela frente. Depois de transcorridas as primeiras ações saí em desvantagem. Chegou num certo ponto em que buscava forças dentro de mim para continuar. Não podia de forma alguma baixar a guarda. Consegui num certo momento encaixar um golpe e daí não larguei mais. O adversário acabou me puxando para fora da área e assim foi punido. Fugiu diante do meu golpe encaixado”, conta Misael. Foi o golpe que resultou na vitória.
Ele acrescenta que no pódio, com a medalha em mãos, foi graduado para faixa azul. “Essa troca já estava nos planos, desde que Misael conquistasse uma posição de destaque. Foi lá, foi campeão, e por isso a promoção”, destaca o coordenador da Academia Samurai, Lucas Braum Batista.
Se antes Misael era um simples atleta, um competidor com longo a caminho a trilhar, hoje ele é uma das referências da Samurai. “Ele tem uma história muito diferente daqueles atletas que começam cedo na atividade. Esse começou ontem e hoje já é campeão mundial. É para poucos, ou melhor, para aqueles que realmente treinam e muito e sabem que querem e onde pretendem chegar”, avalia Batista que completa: “é nosso garoto de ouro”.