“Desde a pandemia, não temos mais alguém responsável especificamente pela nossa biblioteca”. A afirmação é da diretora da Escola Estadual de Ensino Médio Sebastião Jubal Junqueira, Eara Luisa Luft Henckes, mas também serve para várias outras escolas de Venâncio Aires. Em Vila Deodoro, segundo a diretora, os próprios professores atendem às demandas de leitura. “Há dificuldade de organização do acervo de livros, principalmente em função de não ter alguém disponível para essa tarefa”, ressaltou.
Procurada pela reportagem, a 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) informou que o Conselho Regional de Biblioteconomia da 10° Região exige profissionais habilitados na nárea. Porém, atualmente, não há profissionais com esta habilitação no cadastro de editais da Seduc. A 6º CRE afirmou ainda que as bibliotecas não estão fechadas, pois os professores têm autonomia para levar os estudantes e trabalhar nos espaços. Conforme a Coordenadoria, existe também a adesão a duas plataformas totalmente digitais que podem ser acessadas por meio de chromebook: Árvore de Livros e Elefante Letrado.
De acordo com a docente permanente do Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), professora doutora Ângela Cogo Fronckowiak, o assunto da importância das bibliotecas escolares precisa ser debatido, principalmente pelos adultos, pois eles têm a responsabilidade com o mundo que está sendo oferecido às novas gerações. “Quando o assunto é sobre as bibliotecas escolares, deve ser dada a devida importância, pois elas não servem apenas para ler. Há uma dimensão do convívio que está sendo negligenciada”, comentou.
Ângela lamentou o fato da insistência em um modelo de educação que não reflete criticamente sobre o uso indiscriminado de tecnologia digital. “Estudos em neurociência demonstram que as crianças não se beneficiam com o uso exagerado de telas. Basta um olhar criterioso para a vida comunitária e percebemos que smartfones e tablets vêm substituindo aspectos importantes que nos caracterizam: escutar, argumentar, refletir, ponderar, imaginar, criar e aceitar a diversidade humana”, concluiu.
“É muito triste ter a biblioteca desassistida, ainda mais que a leitura é uma das maiores dificuldades dos alunos e necessidade para o sucesso na aprendizagem.”
EARA LUISA LUFT HENCKES
Diretora da Escola Jubal Junqueira
Alunas são voluntárias no CAJ
A notícia de que a responsável pela biblioteca da Escola Estadual de Ensino Médio Cônego Albino Juchem (CAJ) iria se aposentar e o espaço ficaria sem profissional, ecoou nos corredores até o assunto chegar, por meio de convite da direção, às alunas do 3° ano do Ensino Médio, Eduarda Fernanda Eisermann Hermes e Gabrieli Alana Haupt, ambas de 17 anos.
Segundo a diretora do CAJ, Claudia Neumann, o atendimento na biblioteca era uma preocupação, pois a professora responsável do setor iria se aposentar. Em uma reunião administrativa, foi manifestada a intenção de solucionar o desafio de não deixar os alunos sem atendimento. “A ideia para solucionar o problema foi no sentido de convidar alunos que estariam dispostos a serem voluntários na biblioteca”, disse.
Gabrieli, moradora de Linha Sapé, no interior de Venâncio Aires, pretende cursar Pedagogia e entende que a experiência de conviver com outros alunos e ser voluntária na biblioteca irá agregar muito para o seu futuro.
Entre cadastros de livros, organização das prateleiras e troca de experiências, as alunas são voluntárias nas segundas, quartas e sextas à tarde – turno contrário das suas aulas -, quando comandam os trabalhos na Biblioteca Gilberto Freyre. “O acervo passa de mil livros. Podemos avaliar como uma das maiores bibliotecas escolares no município. Pensar que talvez estaria fechada, é muito sério”, ressaltou Eduarda, que é moradora do bairro Cidade Nova.
Conforme as voluntárias, os livros mais procurados na biblioteca do CAJ são os romances. “Sempre tem aquele livro que está mais em alta. A saga do ‘Diário de um Banana’ é o mais procurado pelos menores”, comentou Gabrieli. A diretora Claudia Neumann afirmou que a experiência de ter as alunas como voluntárias tem sido muito positiva, pois garantiu o acesso à biblioteca, que é um ambiente tão importante para a escola.
Na 11 de Maio, a biblioteca também é sala de aula
Ao assumir a direção da Escola Estadual de Ensino Fundamental 11 de Maio, há três anos, uma das primeiras demandas identificadas pela diretora Madelone Zarth, em conjunto com a vice-diretora, Kelly Gonçalves, foi a necessidade de ampliar o refeitório, que tinha um espaço insuficiente para atender todos os alunos. A solução foi ampliar o local, só que a reforma resultou na falta de uma sala de aula, obrigando a escola a utilizar a biblioteca – que já não tinha profissional responsável há muitos anos – como espaço para realizar aulas durante a parte da manhã, para o 9º ano do Ensino Fundamental.
Com a opção de usar a biblioteca apenas em um turno, a direção implantou a iniciativa de adicionar estantes de livros em todas as salas, para que os alunos tivessem acesso aos exemplares durante todo o período. “É feito um rodízio dos livros. Quando os alunos lerem os que foram colocados, são trocados”, explicou a diretora.
A 11 de Maio realiza um projeto de leitura semanalmente, no qual os alunos dedicam uma hora de aula à leitura. Além disso, o espaço do saguão do educandário também conta com uma ‘geloteca’, uma geladeira cheia de livros, onde os estudantes podem realizar a troca. “Eles trazem um de casa e deixam outro ali”, comentou Madelone. “Uma ideia e vontade que a direção tem, é termos um contêiner como forma de biblioteca e montar um espaço amplo e organizado”, ressaltou a vice-diretora Kelly Gonçalves.
“Percebe-se a diferença na sala de aula entre o aluno leitor e o que não tem o hábito da leitura. O aluno leitor tem mais facilidade de desenvolver textos com menos erros ortográficos.”
MADELONE ZARTH
Diretora da Escola 11 de Maio
Victor Gabriel é apaixonado por livros
Um dos estudantes que usa o espaço da biblioteca na Escola 11 de Maio é o aluno do 9º ano do Ensino Fundamental, Victor Gabriel Bagra Vieira, de 14 anos, morador das proximidades da instituição de ensino, no bairro Coronel Brito. O filho de José Luciano Vieira e de Diane Bagra Vieira, é o ‘aluno nota 10’ e seu desempenho é destacado pelas professoras.
Segundo Victor, o gosto pela leitura é principalmente devido ao incentivo dos pais. Ele está pela segunda vez realizando a leitura da série de livros do Harry Potter. O jovem tem o hábito da leitura e, assim que finaliza as atividades da aula, o livro volta para as suas mãos e os olhos ficam focados na história. “Eu gosto muito de ler. Prefiro quando as histórias têm continuidade ou são separadas por mais capítulos”, comentou.
Sistema nacional
• Em abril deste ano, o Governo Federal instituiu, por meio da Lei nº 14.837/2024, o Sistema Nacional de Bibliotecas Escolares (SNBE). A ação foi criada com o intuito de promover e incentivar a implantação de bibliotecas escolares em todas as instituições de ensino do Brasil.
• O novo sistema tem, entre suas dez funções básicas, a de definir a obrigatoriedade de um acervo mínimo de livros e de materiais de ensino nas bibliotecas escolares, com base no número de alunos efetivamente matriculados em cada unidade escolar e nas especificidades da realidade local.