Comunidade Evangélica de Linha Sapé comemora 120 anos

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Neste mês, a Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Linha Sapé celebra 120 anos de história. O agricultor Elói Henrique Gerlach, 60 anos, é presidente há nove anos. Antes de assumir o cargo, atuou como tesoureiro, foi festeiro em duas ocasiões e, durante muitos anos, foi o responsável em tocar o sino da igreja – às 6h, às 11h30min e às 18h. Esta tradição foi passada a ele pelo pai, Bertilo Gerlach, que também era responsável por tocar o sino.

O morador de Linha Sapé recorda que o pai o ensinou a tocar o sino conforme a ocasião. “Quando a batida era fúnebre, o pai me ensinou que precisava puxar e segurar, diferente de quando era em dias normais”, comenta. Em 2012, um motor foi instalado para automatizar o sino e, desde então, ele badala automaticamente.

Por muitos anos, o presidente da Comunidade, Elói Gerlach, foi o responsável por tocar o sino da igreja (Foto: Júlia Brandenburg)

Atualmente, a Comunidade Evangélica de Linha Sapé conta com 166 sócios. O início desta história ocorreu em 26 de junho de 1904, quando surgiu a Comunidade Escolar Evangélica do Sapé. Antes da construção da igreja, os cultos eram realizados em uma capela de pedra, em Linha Santa Eugênia, onde também ocorriam as aulas. A capela era caracterizada por três cruzes de ferro, duas nas laterais e uma no meio. Embora essa construção não exista mais, a partir dela, uma história de 120 anos começou a ser escrita.

Amanda Borre, Otávio Klafke, Walter Christmann, Dorneles Donato Maurer, Armindo Silberchlag e Humberto Christmann, na inauguração da igreja, em 1953 (Foto: Arquivo Pessoal)

Com a doação do terreno por Henrique Christmann, em 1950, surgiu a ideia de construir a igreja. Três anos depois, ela foi inaugurada em 11 de janeiro de 1953. Os bancos da igreja são considerados ‘relíquias’, pois integravam a antiga escola e, posteriormente, foram repassados para o templo, onde estão até hoje.

Bancos centenários

Os bancos centenários que estão na Igreja Evangélica de Linha Sapé são motivos de orgulho para os sócios. Preservados há 120 anos, eles transmitem lembranças dos antepassados e do tempo em que ainda as celebrações eram realizadas na Comunidade Escolar – após, Escola Municipal Joaquim Nabuco. Após a construção da nova igreja, foram repassados para o templo, quando os bancos do educandário foram substituídos por novos.

Cápsula do tempo

Quando a pedra fundamental foi instalada na Igreja Evangélica de Linha Sapé, no dia 11 de janeiro de 1953, o sócio já falecido Alfredo Roehl colocou, junto ao alicerce, uma caixa com alguns pertences da época. Segundo moradores da localidade, entre os itens estão recortes de jornais e moedas. Até hoje, a cápsula ainda não foi aberta.

Diretoria desde 2015

Presidente: Elói Gerlach

Vice-presidente: Vanderlei Kistemacher

Secretário: Enio Gerlach

Vice-secretário: Paulo Silberchlag

Tesoureiro: Orlando Brandenburg

Vice-tesoureiro: Ornelio Ari Heinn

Uma vida de dedicação à Comunidade

Muitas foram as mãos que construíram a Comunidade Evangélica de Linha Sapé, hoje com 166 sócios. Entre as pessoas que acompanharam essa história está Paulo Silberchlag, 79 anos, que desde pequeno seguiu os passos do pai, Armindo Silberschlag. A família era dona do Chevrolet Gigante, ano 40, mostrado na foto; Paulão, como é conhecido, é o menino em frente ao veículo. “Muitos fretes foram feitos. Era carregado desde a pedra de alicerce até a madeira para a construção da igreja”, conta.

Registro dos anos de 1950, quando a igreja estava sendo construída (Foto: Arquivo Pessoal)

Ele também lembra que o falecido Alvino Müller doou uma árvore para construir todo o madeiramento interno da igreja, o qual está intacto. “Em 1958, após a construção da torre, o sino que pesa 200 quilos foi instalado por sócios da comunidade, que teve como padrinho Otávio Klafke, já falecido”, relembra o agricultor aposentado.

Aos 6 anos, Paulão iniciou os estudos na Escola Joaquim Nabuco, onde funcionou a Comunidade Escolar, e em 1957 fez a confirmação, ano no qual também completou a 5º série na Escola de Ensino Médio Monte das Tabocas.

Herança familiar

Três gerações da família Silberschlag integraram a diretoria da comunidade. Tudo começou com Armindo, que passou os ensinamentos para o filho e, posteriormente, para Clóvis, um dos filhos de Paulão. Além de fazer parte da diretoria por muitos anos, ele também foi festeiro.

Paulão com a ata, na qual o pai, Armindo Silberschlag, registrou diversas assembleias (Foto: Júlia Brandenburg)

Outro integrante da família Silberschlag que acompanhou a história da Comunidade foi Asuir João Silberschlag, 79 anos, irmão de Armindo. Em 1969, pintou a igreja por dentro e por fora. Ele também acompanhava a irmã Venilda Klafke, quando ela arrumava a igreja. “Eu ia junto para fazer companhia para ela. Lembro que ela colocava flores no altar e limpava a igreja quando tinha culto”, conta.

Membros da Comunidade de Sapé há mais de meio século

Casal com a foto impressa da igreja que receberam quando foram festeiros em 1978 (Foto: Júlia Brandenburg)

Ariosto Carlos Silberschlag, 75 anos, e Ilse Silberschlag, 71 anos, moram em frente ao ginásio e são membros da Comunidade Evangélica de Linha Sapé há 53 anos. Para Ariosto, isso é motivo de orgulho. Além de ser festeiro, ele participou por muitos anos da diretoria, ocupando cargos como vice-presidente e membro do conselho fiscal. Ilse é sócia-fundadora da Ordem Auxiliadora das Senhoras Evangélicas (Oase) e atualmente é secretária da entidade.

Lembrancinhas com fotos da igreja eram vendidas na quermesse (Foto: Júlia Brandenburg)

O casal foi festeiro da quermesse em 1978, e a festa foi realizada no dia 1º de julho, uma exceção porque o ginásio não ficou pronto em maio – mês de realização da festa. Naquele ano, eles receberam uma foto impressa da igreja do irmão de Ariosto, Asuir Silberschlag, a qual guardam com muito carinho até hoje. “Na festa em que fomos festeiros, vendemos lembrancinhas com a foto da igreja. Também fizemos flores de papel crepom para comercializar durante a quermesse. Normalmente, as pessoas as colavam as flores nas roupas”, relembra Ilse.

“Não tem como não falar da história e não lembrar do pastor Lair Hessel [falecido em 2019]. Ele durante 30 anos foi pastor da nossa Comunidade Evangélica. Lair deixou um legado para Linha Sapé.”


ILSE SILBERSCHLAG
Agricultora aposentada

Desde 1950, a tradição da quermesse

Quando ainda não existia energia elétrica, as festas da Comunidade eram iluminadas por lampiões, e a bebida era gelada em tonéis, embaixo do porão do Salão Silberschlag. A festa era o momento mais esperado pelos moradores de Linha Sapé.

Antes da construção do ginásio, os eventos eram realizados alternadamente entre os salões Roehl e Silberschlag. A primeira quermesse ocorreu no dia 20 de maio de 1950 e, a partir de então, o terceiro domingo de maio se tornou sinônimo de quermesse em Linha Sapé. O badalar do sino, às 6h, e os foguetes anunciavam que era dia de festa.

Uma das tradições da quermesse era o leilão da garrafa do kerb, leiloada para quem dava o lance mais alto e depois tinha a vantagem de dançar uma ‘marca’ sozinho com o seu par.

Residente no terreno nos fundos da igreja em Linha Sapé, Egon Schmidt, 80 anos, é neto de Henrique Christmann doador do terreno onde hoje está situada a igreja. O aposentado mantém muitas lembranças das festas vivas na memória. “Uma semana antes do dia da quermesse, os preparativos eram iniciados. Naquela época, os espetos eram de madeira e as churrasqueiras tinham de cinco a seis metros de comprimento e eram feitas de tijolos”, conta.

A agricultora aposentada e esposa de Egon, Lires Schmidt, 77 anos, relata que a decoração da festa era realizada pelas sócias. “Usávamos muitas folhas de palmito para enfeitar o ginásio e a igreja. Muitas flores naturais eram usadas e deixavam o ambiente colorido”, ressalta. Nos anos de 1970, no cardápio constava galinha recheada, churrasco e galinhada. Tudo era preparado pela comunidade. “O movimento era grande, a quermesse de Linha Sapé sempre foi muito bem vista e recebíamos muitos visitantes”, destaca Lires.

Em 1985, o Ginásio de Esportes de Linha Sapé foi inaugurado. O terreno de dois hectares foi doação da própria Comunidade Evangélica. Ao lado do ginásio foi construído um campo de futebol, conhecido como campo do Fluminense, equipe tricampeã da Taça da Amizade.

Após a inauguração do ginásio, a partir de 1986, todos os eventos foram realizados nele. Em algumas ocasiões especiais o culto também é celebrado no ginásio. Após a pandemia de Covid-19, entretanto, não foi mais realizada a quermesse. A intenção é retomar a festa nos próximos anos.

49 anos da Oase

Oase de Linha Sapé (Foto: Arquivo Pessoal)

No dia 13 de junho de 1975 foi fundada a Ordem Auxiliadora das Senhoras Evangélicas (Oase) de Linha Sapé. Na época, a presidente era Vera Silberschlag, a secretária Helia Ruppenthal e Elvira Christmann tesoureira, cargo que ocupou por 32 anos. Em 2025, a Oase completa 50 anos de atividades. A atual presidente é Hedi Kistemacher. Na última quarta-feira do mês, as 30 sócias se reúnem no ginásio com o pastor para uma tarde de celebração e confraternização.

Material do Caderno Folha Rural da Folha do Mate



Júlia Brandenburg

Júlia Brandenburg

Acadêmica do curso de Jornalismo na Universidade de Santa Cruz do Sul

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