Crescem movimentos de incentivo à economia local para a recuperação do RS

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O mercado do bairro, a loja de roupas do centro ou a grande indústria exportadora. Negócios de todos os portes já sentem ou ainda devem sentir os impactos econômicos provocados pela maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul. Especialistas da área econômica alertam que até mesmo os empreendimentos não atingidos diretamente pelas cheias devem sentir os reflexos devido ao comprometimento da renda das famílias gaúchas e pelos problemas logísticos.
A recuperação econômica é um dos desafios centrais para garantir que a roda continue a girar. É por isso que um movimento de solidariedade e incentivo às marcas e produtos gaúchos ganhou força nos últimos dias. Entidades e prefeitos apelam para que a população brasileira ajude o estado comprando produtos fabricados em solo gaúcho. A iniciativa rompe fronteiras, mas também mobiliza os moradores dos municípios afetados, como é o caso de Venâncio Aires.

Para a economista e doutora em Desenvolvimento Regional, Cíntia Agostini, é urgente a adoção de medidas para evitar o colapso da economia gaúcha. “Em termos econômicos, temos um desafio gigante, que não pode ser deixado de lado. Temos que agir com urgência, porque senão vamos colapsar o nosso estado”, pontua.

Ela observa que os prejuízos não se resumem ao que foi destruído, mas inclui o que deixa de ser produzido e vendido. “Não é só a tua casa que tu perde, mas aquilo que tu deixa de fazer. Não é só o teu negócio que tu perde nesse momento, é o que tu deixa de vender. Esse prejuízo afeta a vida das pessoas, afeta a infraestrutura das cidades, a logística, a produção, e principalmente aquilo que não tem volta, que é a vida de muitas pessoas que nós perdemos”, frisa.

“Nós precisamos valorizar o nosso para conseguir dar conta da retomada dos negócios, da empregabilidade, da renda para conseguirmos dar a volta. Os desafios são imensos, mas nós somos um povo muito forte, muito guerreiro.”
CÍNTIA AGOSTINI – Economista

Empobrecimento

Conforme a economista, a leitura inicial dos impactos econômicos aponta para um empobrecimento do estado, pois a renda de milhares de famílias gaúchas está diretamente comprometida. “Nossa renda média vai diminuir, porque aquilo nós temos de recurso vamos usar para recompor os nossos negócios. É um recurso que nós contávamos para fazer outras coisas, novos investimentos, poupança das pessoas e assim por diante. Na medida que as pessoas não consomem, os negócios não conseguem se sustentar, por isso as diversas campanhas de valorização dos produtos gaúchos, valorização daquilo que é nosso”, observa. Segundo Cíntia, é preciso garantir o fluxo da economia gaúcha. “À medida que nós compramos produtos locais, que compramos produtos produzidos no nosso estado, vamos valorizar esta dinâmica da geração de emprego e renda”, acrescenta.

Emprego e renda

Para a presidente da Câmara do Comércio, Indústria e Serviços de Venâncio Aires (Caciva), Roberta Fischer, é fundamental o apoio e a valorização dos empreendimentos locais para que a economia continue girando e os postos de trabalho sejam mantidos. “Todos são parte fundamental desse processo. É o momento das empresas continuarem investindo, fazerem suas campanhas e se mostrarem para os consumidores, apresentando seus produtos e serviços”, destaca Roberta. “E também é o momento da comunidade comprar no comércio local, seja produto, serviço, estimulando a produção e o giro na economia”, complementa.
A presidente da entidade também chama atenção da comunidade para a necessidade de as empresas seguirem promovendo seus negócios. “Precisamos também entender que as empresas oferecem seus serviços e produtos buscando seu público e isso não é a falta de humanidade, de sensibilidade, ao contrário, é uma forma de garantir os empregos que gera e evitar que a economia entre em colapso”, observa.

“Precisamos de recursos para a Defesa Pessoa Jurídica”

Conforme o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo de Venâncio Aires, Marcos Hüttmann, a Administração Municipal  já trabalha em parceria com entidades e também cobra dos governos estadual e federal, aportes de recursos para garantir fôlego e capacidade de investimento às empresas atingidas. “Não podem ser esses recursos que são antecipações de recebíveis. A gente precisa realmente de dinheiro direto, pois o nosso setor produtivo não pode parar”, frisa. “Assim como temos recursos sendo direcionados para a Defesa Civil, nós precisamos de recursos para a Defesa PJ (Pessoa Jurídica). Precisamos de recursos para as nossas empresas, para quem produz, para quem gera emprego, para que a economia possa girar novamente”, defende.

Apesar das limitações orçamentárias de um município que enfrenta a quarta cheia em oito meses, Hüttmann adianta que a Administração estuda a viabilidade de um pacote no eixo econômico para auxiliar as empresas locais que foram duramente atingidas pelas últimas enchentes. Segundo o secretário, diferente dos eventos climáticos de setembro do ano passado, quando as regiões do 2º e 9º distritos foram atingidas e cerca de 70 empresas foram afetadas, no cenário atual, cerca de 520 empresas foram impactadas. “Um cenário muito maior, com montantes de mais de R$ 40 milhões de perdas numa planta frigorífica, alguns mercados que perderam R$ 3 milhões, outros que perderam R$ 500 mil, outras empresas que perderam toda a estrutura física e não conseguem retornar. É um cenário bastante difícil, mas nós vamos, em conjunto, buscar soluções para que a gente possa auxiliar a nossa economia local”, salienta.

“Essas campanhas que estão em andamento ajudam a dar fôlego para que a nossa economia, aos poucos, volte a funcionar. É um grande apelo que todos nós gaúchos devemos fazer e as pessoas estão solícitas a comprar produtos gaúchos, do comércio local.”
MARCOS HÜTTMANN – Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo de Venâncio



Letícia Wacholz

Letícia Wacholz

Atua há 15 anos na Folha do Mate e desde 2015 é editora da Folha do Mate. Coordena a produção jornalística multiplataforma do grupo de comunicação. Assina a coluna Mateando, a página 2 do jornal impresso.

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