Responsável pelas obras de pavimentação da ERS-244 – estrada que liga os municípios de Venâncio Aires e Vale Verde e é considerada de extrema importância para os vales do Taquari e Rio Pardo -, a Construtora Pelotense dá continuidade aos trabalhos no primeiro trecho de quase 16 quilômetros da rodovia. A movimentação de máquinas, caminhões e pessoal anima os moradores da região, já que o asfaltamento é sonho antigo, de quase 30 anos. Só que, para que a sequência não seja interrompida, processos determinantes precisam sair do papel em breve: desapropriações de terras em pontos onde a pavimentação tem que passar.
E é justamente esta a preocupação do momento para os entusiastas da obra. Isso porque pelo menos um dos proprietários de terras por onde passa o traçado da ERS-244 tem se mostrado resistente à desapropriação. A reportagem da Folha do Mate tentou contato com ele, para que se manifestasse a respeito, porém não obteve retorno. Já o porta-voz da Fazenda São João – localizada pouco depois do fim do asfalto, em Vale Verde -, disse que a família aceita negociar a passagem da estrada, para o desenvolvimento da região. Lideranças conversaram com ambos antes do início dos trabalhos, mas tudo indica que o diálogo precisará ser retomado.
Silêncio e negociação
No momento, segundo apurou a Folha, o processo está sob análise do Comitê Gestor de Ativos, do Governo do Estado, que é a última instância antes da formalização do contrato e repasse à empresa do horto de Charqueadas, que será permutado em troca de parte da obra. A área pública e que será absorvida pela Construtora Pelotense tem valor estimado de cerca de R$ 25 milhões, montante que seria suficiente para custear metade da pavimentação da ERS-244. Por enquanto, R$ 1 milhão foi o total pago pelo Estado à Pelotense: duas parcelas de R$ 500 mil, uma antes da eleição, para garantir que a obra tivesse execução iniciada. A expectativa é de que o comitê emita parecer sobre a permuta até o fim do mês. A partir daí, a Secretaria de Logística e Transportes entra em cena para assinatura definitiva com a construtora.
Oportunidade que não pode ser perdida
Para o prefeito de Vale Verde, Carlos Gustavo Schuch, (MDB) o momento é muito importante e é preciso garantir a continuidade dos trabalhos. Ele lembra que a ERS-244 não passa por obras há quase 30 anos e reforça a necessidade de a comunidade regional não deixar a oportunidade passar. “A gente deve relembrar desde o início da obra. Foi há quase 30 anos, quando um grupo, liderado pelo Gleno Scherer [ex-deputado estadual de Venâncio Aires], iniciou a construção. Depois houve alteração do percurso, que naquele momento acho até que foi justo, porque Passo do Sobrado não tinha acesso asfáltico, mas agora estamos em um momento decisivo e não podemos perder a chance de ver este sonho concretizado”, comenta.
De acordo com ele, além das lideranças políticas e comunitárias que se envolveram publicamente com a pauta, há dezenas de voluntários que trabalham no anonimato, para que a obra vire, enfim, uma realidade. “Fico feliz, pois sei que tem muita gente trabalhando. Temos muitas pessoas com influência política. Agora temos esta questão da desapropriação para resolver, mas estou convicto que vai dar tudo certo, com diálogo”, afirma. Schuch salienta que a união de políticos, prefeitos dos municípios mais próximos, empresários e todos os que acreditam no desenvolvimento da região a partir da pavimentação será decisiva.
Prazos e confiança
O coordenador do movimento ‘Destrava 244’ e ex-prefeito de Venâncio Aires, Giovane Wickert (PSB), entende que a resistência em relação à desapropriação é natural. Conforme ele, qualquer obra é passível de contestação e este tipo de situação também deve ser enfrentada na duplicação da RSC-287. “Para tudo se tem prazos, que estão sendo cumpridos dentro da legalidade. Todos os trâmites estão sendo observados, mas é claro que o morador tem o direito de contestar judicialmente, está tudo previsto em lei. Não vejo que será uma situação que impedirá a obra. Os dois proprietários de terras por onde a estrada vai passar foram contatados. Um foi mais resistente, mas no fim teria condicionado a obra apenas a galerias de passagem de animais”, argumenta o atual subsecretário estadual de Obras Públicas.
Wickert salienta que a região está muito perto da consolidação do projeto que vem sendo trabalhado nos últimos dois anos, principalmente pela sinalização de que os cerca de R$ 25 milhões do horto devem ser investidos na pavimentação. “Claro que ainda vai faltar parte do valor, mas a tendência é de que o Governo do Estado vá fazer de tudo para concluir esta obra. Como leva um tempo para fazer os primeiros quilômetros e com o governo demonstrando interesse em fazer a suplementação, acredito que a obra não vá ter interrupções. Deve ter continuidade, de acordo com o orçamento do Estado”, complementa.
O que disseram
A obra da ERS-244 é do Governo do Estado e tenho me mantido discreto diante de tantas informações desencontradas. Como prefeito, fico na torcida para que esta obra saia do papel, mas confesso que vejo um encaminhamento muito político, midiático e pouco técnico. Se ainda estão em debate traçados da estrada e nem existe recurso garantido, acredito que não será tão rápida a conclusão. Desta forma, estou mais concentrado na efetivação de dezenas de obras municipais que estamos realmente efetivando em todos os cantos”.
Jarbas da Rosa, prefeito de Venâncio Aires
• “Não tenho conhecimento de desapropriação. Vou falar com os moradores e marcar uma agenda no Governo do Estado. Não gostaria de entrar no assunto neste momento, até porque não tenho as informações extras. Assim que estiver por dentro, irei me manifestar”.
Edgar Thiesen, prefeito de Passo do Sobrado
Respeito a opinião de cada um, mas entendo que uma obra da magnitude da ERS-244 é muito superior ao interesse de uma pessoa ou de uma família. Acho que, neste momento, devemos pensar na região, porque vamos ganhar muito se o Governo do Estado realmente disponibilizar este investimento que chega próximo de R$ 50 milhões.”
Carlos Gustavo Schuh, prefeito de Vale Verde
“Estamos falando de desenvolvimento econômico e bem-estar social. São mais de 20 máquinas e caminhões no trecho, o que tem surpreendido todo mundo. Tanto é que a comunidade tem gravado vídeos passando por cima da ponte, seja de moto, a pé ou de carro, de forma muito espontânea. É muito legal ver esta fiscalização das pessoas”.
Giovane Wickert, coordenador do ‘Destrava 244’