Atingida pela cheia do rio Taquari, estrutura da Escola Mariante sofreu danos sérios e teve problemas na rede elétrica, além da perda de bens materiais e documentos
A comunidade de Vila Mariante ainda tenta digerir a notícia do encerramento das atividades da Escola Estadual de Ensino Médio (EEEM) Mariante no fim deste ano letivo. Em meio ao impacto da informação, também se gerou uma expectativa para entender os motivos que levaram o Governo do Estado a tomar a decisão. Os estudantes serão acolhidos na Escola Adelina Isabela Konzen, em Vila Estância Nova.
Nota divulgada pela comunicação da Secretaria Estadual de Educação (Seduc-RS), por solicitação da redação integrada da Folha do Mate e Terra FM, informa que a decisão é consequência dos danos severos causados pelos eventos climáticos extremos ocorridos neste ano e em razão de a estrutura do terreno escolar já ter sido fragilizada pelas enchentes de 2023, conforme atestam laudos científicos. “As fortes chuvas de maio comprometeram todo o espaço, havendo desde estragos no pátio da escola e danos nas instalações elétricas até perda de bens materiais e documentos”, diz o comunicado oficial.
“A catástrofe climática que vivemos e todas as previsões científicas precisam servir de orientação para todas as nossas ações.”
RAQUEL TEIXEIRA
Secretária estadual de Educação
Antes das enchentes de maio, a Escola Mariante estava em processo de reforma, em esforço coordenado pelas secretarias da Educação (Seduc) e de Obras Públicas (SOP). Após as cheias do Vale do Taquari, em 2023, o Governo do Estado investiu mais de R$ 340 mil para a compra de mobiliários. “Contudo, a força da enchente de maio destruiu os avanços da reforma, tornando inviável a continuidade das atividades presenciais na escola, classificada como grau de criticidade de nível 5, o que representa o impacto mais severo na tipologia adotada pelos técnicos da Seduc e da SOP”, diz a nota.
Diálogo
Ontem, em entrevista ao programa Folha 105 – 1ª edição, da Rádio Terra FM, o prefeito de Venâncio Aires, Jarbas da Rosa, destacou que nos últimos meses, a decisão já vinha sendo sinalizada pelo Governo do Estado e que a escola é estadual, ou seja, não passa por análise ou gerência da Administração Municipal.
Jarbas acredita que faltou um melhor diálogo entre a Secretaria Estadual de Educação e a comunidade escolar. “A comunidade de Mariante passou por algo traumatizante e, nesse momento, o que mais precisa é ter voz. O sentimento de participação nestas decisões é importantes”, enfatizou.
Ele relembrou, ainda, que todas as crianças atingidas pelas enchentes foram realocadas em outras escolas e que a Prefeitura assumiu a diferença do custeio do transporte escolar. “O transporte é em convênio com o Governo do Estado (que paga 20%), e o resto quem banca é a Prefeitura. Os valores a mais para o deslocamento dessas crianças foi bancado com recursos da Administração para que nenhuma criança ficasse sem ir à escola”, declarou.
O chefe do Executivo acrescentou que, como o prédio da escola fica distante, aproximadamente, seis metros do leito do rio Taquari, não existe a possibilidade de obter recursos da Defesa Civil Nacional para a reconstrução e que, como o local é considerado área de risco, deve ser transformado em área de preservação ambiental. “Um olhar turístico, com uma recuperação a médio e longo prazo. Esse terreno [prédio da escola] é do Estado, mas pode ser cedido e receber investimentos. É importante trazer a comunidade para o debate, para entender o que querem para o futuro”, concluiu.
Reunião sobre a Escola Mariante
Na manhã de terça-feira, 3, foi realizada, na Escola Adelina Isabela Konzen, uma reunião entre a equipe diretiva da Escola Mariante, pais de alunos e membros da comunidade escolar para comunicar a decisão de encerramento das atividades. Em decorrência do horário comercial e, também, da distância em que os responsáveis estão morando, foram apenas quatro representantes. Morador de Vila Mariante e pai de três estudantes, o aposentado Abílio da Silva, de 69 anos, afirmou que foi um momento muito triste. “Voltamos a morar na vila, temos que tocar o barco, mas é uma pena perder a escola”, disse.
Ele, que também teve a casa atingida pela enchente, com destruição parcial, destacou que os últimos meses já têm sido marcados por uma retomada da população e espera que, no futuro, seja possível reconstruir uma escola na localidade.
Com a extinção da Escola Mariante, o segundo distrito fica ‘órfão’ de educandário. No distrito vizinho, Estância Nova, são quatro escolas, sendo três municipais e de Ensino Fundamental – Bento Gonçalves, em Linha Estância São José; Coronel Thomaz Pereira, em Linha Taquari Mirim; e Nossa Senhora de Fátima, em Linha Campo Grande – e uma de Ensino Médio, Adelina Isabela Konzen.
A vice-diretora da escola, Sinara Cezar Maria, que participou da reunião, explicou que este momento foi para esclarecimentos com os pais. “Os pais sentiram muito. Houve um momento de comoção, porque a escola sempre teve uma atuação importante da comunidade escolar, todas as vezes que precisamos”, completou.
“Digo a todos os moradores que, ao contrário do que o representante da 6ª CRE teria informado, a Prefeitura é a única esfera que dá assistência a Vila Mariante. O Governo do Estado até ajuda com repasses, principalmente de cestas básicas, mas quem está na linha de frente é a Prefeitura. Nunca abandonamos.”
JARBAS DA ROSA
Prefeito de Venâncio Aires