Dia do Voluntário: quem faz a Liga Feminina de Combate ao Câncer acontecer

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*Colaborou Juliana Bencke

Ser voluntário é uma qualidade que permite ao ser humano doar o seu tempo, sua dedicação ou até seu dinheiro em benefício de outras pessoas mais necessitadas. Venâncio Aires é conhecido por ser um município solidário, com diversas entidades em atuação e muitos voluntários envolvidos nas muitas atividades durante todo o ano. Uma destas é a Liga Feminina de Combate ao Câncer de Venâncio Aires, que atua há 26 anos em benefício de pacientes em tratamento oncológico.

Em alusão ao Dia Nacional do Voluntariado, comemorado nesta segunda-feira, 28, a reportagem da Folha do Mate conversou com pessoas atuam nas mais diversas frentes da Liga. Entre elas está a empreendedora Fabiane Canabarro, 52 anos, que trabalha voluntariamente praticamente desde a fundação da Liga. Ela faz parte do departamento assistencial, realizando visitas aos pacientes e, desde o ano passado, também integra a diretoria.

Fabiane explica que o processo de visitação ficou estagnado durante a pandemia mas já recomeçou. O primeiro contato, por ligação, é feito por uma das integrantes da diretoria, assim como o primeiro encontro presencial com o paciente e a família. “Sempre ligamos antes para ver em que parte do tratamento o paciente está e se quer receber a ossa visita.” Após, o paciente é encaminhado para as demais voluntárias do departamento para acompanhamento, que administram a frequência das visitações.

Durante a visita, a voluntária comenta que se tenta evitar de falar na doença e focar no paciente. “O que eles precisam no momento é de alguém para conversar, é uma ajuda psicológica”, afirma. Fabiane elenca as fases da doença, quando geralmente se passa inicialmente pelo estágio de negação, depois a aceitação e a busca pelo tratamento. “É fundamental acompanharmos o paciente desde o início.”

Outras atividades do departamento são as compras de itens para as cestas básicas e os kits de disfagia – alimentos condensados usados por pacientes com distúrbios de deglutição. Por mês, são entre 23 e 27 cestas básicas e até quatro kits de disfagia doados. Fabiane reforça que a Liga recebe ajuda do Comitê de Ação e Cidadania contra Fome, Miséria e pela Vida e também do troco solidário em alguns supermercados do município.

Entre os momentos marcantes de Fabiane como voluntária, ela destaca o atual, com o acompanhamento de duas colegas de profissão que estão passando por tratamento oncológico. “Já viajamos e fizemos cursos juntas e hoje posso cuidar delas e ver a vida de outra forma”, relata ela, que é proprietária de um salão de beleza. Fabiane destaca também o evento anual do Chá dos Pacientes, uma programação muito esperada por todos e que encerra o ano de atividades da Liga com festa e entrega de presentes de Natal.

Cultura solidária

Fabiane está entre as 24 voluntárias assistenciais, que realizam visitas aos pacientes da Liga. Além disso, são 13 voluntárias cobradoras que coletam contribuições mensais e a diretoria conta com 33 integrantes. A presidente da Liga, Claudia Becker, destaca que o apoio solidário possibilita que a entidade realize seu propósito assistencial, promovendo acolhimento aos pacientes. “Gratidão por todo o voluntariado”, ressalta. Segundo ela, é até difícil sintetizar tudo que envolve o trabalho da Liga, pois são muitas formas de voluntariado. “São muitas pessoas neste entremeio, possibilitando doações, eventos e toda a sociedade sendo voluntária permite com que cheguemos a estas pessoas e passemos a mensagem da Liga para manter essa cultura solidária assistencial.”

“A nossa comunidade é muito voluntária, tanto na cidade quanto no interior, e sempre procurei fazer a minha parte. Cada um pode doar seu tempo, amor e carinho. Para nós pode parecer pouco, mas para quem recebe, é muito.”
FABIANE CANABARRO
Voluntária da Liga e empreendedora

Fabiane é voluntária da Liga desde a fundação da entidade. (Foto: Luana Schweikart)

“Ser voluntária é uma das melhores coisas da vida”

Já são mais de duas décadas como voluntária e ela não imagina a rotina sem as visitas para os pacientes com câncer. “Ser voluntária é uma das melhores coisas da vida. É um trabalho gratificante”, define uma visitadora da Liga de Combate ao Câncer, que prefere não se identificar.

Após enfrentar um problema de saúde, ela conheceu o grupo de voluntárias da área assistencial a convite de uma vizinha e se apaixonou pelo trabalho. “Adorei o que vi no grupo e quis participar. Ao longo desses anos, fui construindo muitas amizades, me sinto muito feliz e realizada de poder ajudar”, ressalta.

Para a voluntária, assim como a empatia, o bom humor é indispensável nas visitas, com o objetivo de motivar os pacientes, levar mais leveza e alegria, em meio a um momento doloroso e de muitas dificuldades. “Desde a hora que chego na casa, são muitas brincadeiras. É uma festa”, relata, ao observar que, muitas vezes, as pessoas desejam falar de outros assuntos que não seja apenas a doença.

Além do apoio para o próprio paciente, ela faz questão de se colocar à disposição dos familiares, que também sofrem muito e nem sempre têm como quem conversar. “Digo para eles me chamarem quando precisarem desabafar. Busco ser um ombro amigo, um travesseiro”, define a voluntária que, atualmente, visita cinco pacientes e busca sempre incentivá-los a fazer o tratamento. “Às vezes, chego a ir duas vezes por semana para ver como estão.”

Muitas mãos envolvidas, desde a prevenção até a promoção de eventos

No departamento social da Liga de Combate ao Câncer, Cristiane Ullmann, 45 anos, é voluntária pelo segundo ano consecutivo. Ela e mais quatro mulheres são as responsáveis pela organização de eventos da entidade. Durante o ano, alguns eventos já são tradicionais, como o Jantar do Risoto, Jantar de Natal e atividades do Outubro Rosa. “Temos departamentos, mas todo mundo trabalha e ‘pega’ junto nesses eventos, que nos oportunizam angariar fundos para custear todas as despesas que temos com os pacientes assistidos pela Liga”, explica.

Além disso, a dentista evidencia que a Liga também participa de eventos do município, como a venda de erva-mate e demais artigos durante a Festa Nacional do Chimarrão (Fenachim). No mês de setembro, a entidade também participará do Festival de Balonismo.

Para ela, ser voluntária é poder doar uma pequena parte do tempo em prol de pessoas e causas nobres. “É uma forma de aprendermos novas habilidades, conhecer novas pessoas e adquirir uma nova percepção de mundo, ter empatia pelo outro e agradecer por tudo que a vida nos proporciona. Recebemos muitas coisas boas e podemos repassar isso através do trabalho voluntário.”

Cristiane e Cláudia Heinen Silberschlag na última edição do Jantar do Risoto. (Foto: Rosilene Müller)

Prevenção

Na área de prevenção, pelo segundo ano, a fisioterapeuta Deisi Beatriz Penz, 43 anos, presta trabalho voluntário. O convite surgiu pela atual vice-presidente da Liga, Manon Pierret. Neste departamento, profissionais de saúde são convidados para oferecerem à população informações sobre prevenção, e possíveis sintomas para alertar sobre o diagnóstico precoce do câncer. Inclusive, os conteúdos dos fôlderes informativos são feitos por este setor da Liga.

Quem auxilia Deise neste trabalho é a enfermeira Aline Royer Iser. “Saber que posso contribuir com a doação do meu tempo e um pouco de conhecimento preenche e dá mais sentido aos meus dias. Acho que toda forma de ajudar o próximo faz a gente se sentir útil e parte de um todo que vibra uma energia muito singular. Me faz bem”, afirma Deise.

Deise é voluntária da Liga há dois anos, na área de prevenção. (Foto: Arquivo pessoal)

A Liga em números

• São 162 pacientes ativos assistidos pela entidade, sendo 96 mulheres, 61 homens e cinco crianças.
• De voluntários, são 33 integrantes na diretoria, 24 voluntárias assistenciais que realizam visitas aos pacientes e 13 voluntárias cobradoras que coletam contribuições mensais.
• Mensalmente, são 550 litros de leite distribuídos aos pacientes. Além disso, são muitos os gastos com medicamentos, profissionais, consultas, suplementos alimentares, dietas, cestas básicas, exames e transporte. Por isso, todas as doações são importantes.

  • Atualmente, a Liga Feminina de Combate ao Câncer de Venâncio Aires está localizada no Edifício Profissional Tiradentes, na rua Tiradentes, número 686, sala 22, em frente à Praça Coronel Thomaz Pereira (Praça da Matriz). O atendimento ocorre de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h30min às 16h. Os telefones para contato são 3741-6787 e 99671-8915.

Quando a ajuda bate à porta

Quem pôde testemunhar a atuação das integrantes da Liga Feminina de Combate ao Câncer de Venâncio Aires foi a aposentada Elenir Teresinha de Lima, 61 anos. Ela acompanhou o tratamento da mãe Adelina Ferreira de Lima, que faleceu por conta de um câncer de pulmão, em maio de 2022, aos 80 anos. Durante o tratamento, que durou alguns meses, teve o acompanhamento das voluntárias. “Sempre fomos bem atendidas. No início até conseguimos ir pagando o que era necessário, mas depois foi ficando difícil e aí contamos com este apoio da Liga”, afirma Elenir. O auxílio contemplou doações de leite, dietas para alimentação e transporte para as idas até Santa Cruz do Sul.

O companheiro de Elenir, Erni Francisco Pereira, 83 anos, também recebeu auxílio da entidade, enquanto realizava tratamento contra câncer de intestino, fígado e pulmão. Foram dois anos de tratamentos com quimioterapia e radioterapia, além de quatro cirurgias e, hoje, está curado. “É muito importante esse acompanhamento. No início, somos pegos de surpresa pela doença e não temos muita noção das coisas, então esse carinho e as conversas ajudam bastante. A Liga traz apoio não só na parte financeira mas também psicológica”, enfatiza Elenir.

A aposentada, inclusive, foi convidada para integrar o time de voluntárias e nos próximos meses deve se unir a esta corrente do bem. “Vou fazer o que puder para retribuir tudo que fomos ajudados”, reforça.

Erni e Elenir agradecem o apoio recebido pela Liga. (Foto: Arquivo pessoal)


Luana Schweikart

Luana Schweikart

Jornalista formada pela Unisc - Universidade de Santa Cruz do Sul. Repórter do Jornal Folha do Mate e da Rádio Terra FM

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