Desde a semana passada, quando o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que a possibilidade do Brasil voltar a adotar o horário de verão é, de fato, considerada, o tema ganhou forte repercussão no país. De acordo com o Governo Federal, a ideia de adiantar o relógio em uma hora é vista com bons olhos por conta do uso da luz natural durante mais tempo e consequente possível redução nos custos com energia elétrica. Uma decisão acerca do assunto deve ser tomada ainda nesta semana pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“O horário de verão é uma possibilidade real, mas não é um fato, porque tem implicações, não só energéticas, tem implicações econômicas. É importante para diminuir o despacho de térmicas nos horários de ponta, mas ela impacta muito a vida das pessoas”, argumentou. O horário foi instituído pela primeira vez por Getúlio Vargas, em 3 de outubro de 1931, entretanto durou apenas até março do ano seguinte. Depois, o horário de verão funcionou continuamente de 1985 até 2019, quando o governo de Jair Bolsonaro decidiu revogá-lo, em abril de 2019, alegando pouca efetividade na economia energética. Antes de ser extinto, o período se estendia de outubro a fevereiro.
Em participação no programa jornalístico Folha 105 – 1ª Edição, da Rádio Terra FM, o professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e coordenador dos cursos de Ciências Econômicas e Relações Internacionais da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Silvio Cezar Arend, explicou que, muito além de gerar economia na conta de luz dos brasileiros – o que, na prática, não é mais tão percebido pelo uso de condicionadores de ar -, o objetivo é fazer um “descasamento entre os momentos de pico de consumo de energia no final do turno”.
“Quando as pessoas chegam em casa, ligam energia de tudo quanto é modo: televisão, chuveiro, iluminação. Acaba sobrecarregando mais o sistema quando isso é muito concentrado. Como a energia elétrica é produzida quase que de forma instantânea, há uma sobrecarga em determinado período, o que nós chamamos de uma rampa de consumo. Isso gera a necessidade de um esforço maior”, afirmou o professor, que entende como interessante uma proposta que distribua melhor os picos de energia.
Maior demanda
Com o aumento na temperatura global, o que resulta em dias cada vez mais quentes, a demanda por energia também está subindo. O ministro Alexandre Silveira lembrou que em setembro deste ano o país registrou uso de 105 gigawatt em uma tarde, enquanto a média é de 85: “Demonstra que nós tivemos todos os condicionadores de ar do Brasil ligados e que a necessidade de energia cada vez mais oscila no país.”
Arend, por sua vez, adicionou que boa parte dessa geração de energia vem das termoelétricas, consideradas poluentes e, por isso, mais caras. “Importante lembrar que, mais para o final do dia, nós temos a redução da geração de energia solar. Então mesmo que a gente tenha em casa placas solares, nós estamos utilizando menos dela e mais da energia que vem da rede. Se nós pensarmos no uso das usinas termoelétricas, elas são mais caras, então temos que lembrar das bandeiras vermelhas, que aumentam bastante a conta no final do mês”, lamentou.
Impacto negativo no sono
- Se do ponto de vista energético e econômico a mudança faz sentido, o médico Renato Fragomeni, otorrinolaringologista e especialista em medicina do sono, também em participação no programa, disse que o efeito é negativo para a saúde.
- “Maior exposição à luz vai interferir no nosso ritmo circadiano. Pessoas vão dormir mais tarde, desenvolvendo distúrbios do sono, como a sonolência diurna, que é bem comum nessa época”, justificou.
Aprovação da população
- Uma pesquisa realizada pelo portal Reclame Aqui e pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) indica que a população brasileira é, em sua maioria, a favor da volta do horário de verão: 41,8% dizem ser totalmente favoráveis ao retorno do horário de verão e 13,1% se revelam parcialmente favoráveis. Ainda segundo o estudo, 25,8% se mostraram totalmente contrários à implementação, 17% veem com indiferença a mudança e 2,2% são parcialmente contrários.