Me apaixonei na pandemia

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Eles se apaixonaram, veio a pandemia de coronavírus e as regras de distanciamento social. Ficar juntos se tornou um desafio. Essa é a história do curta-metragem Tudo Bem, no qual Hugo (Daniel Rangel) é um jovem morador do subúrbio do Rio de Janeiro que conhece a universitária Dandara (Heslaine Vieira) antes da crise da Covid-19. Com a quarentena, eles passam meses sem se ver – sequer sabiam o nome um do outro – até que, finalmente, se encontram.

Desde o ano passado, a Covid-19 se tornou mais um elemento desafiador ou mesmo um ingrediente de romantismo, nas histórias de amor. O relacionamento de Hugo e Dandara, que está disponível no YouTube, é semelhante a tantos outros. Afinal, com ou sem pandemia, todo dia é dia para se apaixonar.

Para Lívia Cristina Graff, 16 anos, e Leonardo Oswald, 17 anos, a pandemia sempre vai ficar marcada como um momento de amor. No início do ano passado, Léo foi estudar na mesma escola que Lívia. Porém, como as aulas logo foram para o formato virtual, os estudantes da Escola Estadual de Ensino Médio Monte das Tabocas não conversaram muito nem criaram amizade.

Leonardo e Lívia namoram desde19 de outubro do ano passado (Foto: Eduarda Wenzel)

A aproximação aconteceu meses depois. Lívia começou a caminhar com uma prima dele, em meados de julho. Após, ele começou a ir também e fizeram amizade. Durante essas caminhadas, começaram a ficar e se apaixonaram. Em outubro, oficializaram o namoro para a família. “Foi tranquilo, nossas famílias já sabiam que éramos amigos, o Léo já tinha ido na minha casa uma vez”, comenta a menina.

A adolescente diz que uma das coisas que eles fizeram e ela indica para quem quer começar um namoro, tanto durante a pandemia quanto em outros períodos, é ir com calma. “Algumas pessoas se conhecem em um dia e outro já estão namorando. Nós fomos devagar, ficamos meses caminhando e ficando, até que decidimos assumir, porque gostamos muito um do outro.”

Rotina de namoro na pandemia

Como não tem aula presencial, eles se encontram fora da escola. Fazem academia juntos e, nos fins de semana, também curtem com as famílias. “Se ficamos muito tempo longe sentimos saudade. No fim de semana que mais ficamos juntos, eu vou para casa dele ou ele vem para cá”, conta Lívia.

“Somos caseiros, mas se não tivesse a pandemia poderíamos aproveitar o namoro indo ao cinema, nos bares ou em um restaurante. Mas o importante é que estamos podendo e conseguindo aproveitar juntos.”

LEONARDO OSWALD – Estudante

 

Porém, no início de março, quando a tia de Lívia positivou para Covid-19, eles tiveram que ficar dez dias sem se ver. A guria tinha tido contato com a tia, não teve sintomas, mas a família ficou em isolamento e fez exames, por precaução. “A gente passava o dia conversando, foi bem ruim, eu tive crises de ansiedade e ele me ligava para me acalmar”, recorda.

Mesmo nesse momento, o casal tentou fazer coisas juntos, como olhar filmes e séries. “Ele gosta de ‘anime’, mas eu não. Daí eu comecei olhar um com ele, mesmo cada um na sua casa, dávamos play no mesmo momento e quando precisava ele me explicava pelo WhatsApp o que estava acontecendo”, lembra Lívia.

Namoro a distância

Enquanto muitos casais tiveram que conviver com a distância física devido à pandemia de coronavírus, mesmo morando na mesma cidade, outros ainda precisaram lidar com as dificuldades por estarem divididos por muitos quilômetros.

É o caso da balcofarmacista Jennifer Luana Ferreira, 18 anos, e do militar Ezequiel Jair Wessling, 19. O casal namora há dois anos e cinco meses, mas se conhece desde a época em que estudava na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Dom Pedro II, em Linha Hansel. “Éramos amigos, em 2018 nos aproximamos e acabamos ficando. Começamos a namorar e estamos até hoje”, conta Jennifer.

No início do ano passado, pouco antes no início da pandemia no Brasil, o namoro a distância virou uma realidade para o casal. Ezequiel foi para São Gabriel, a 300 quilômetros de Venâncio Aires, para prestar serviço militar no 9º Regimento de Cavalaria Blindada no ano passado e, neste ano, foi promovido a cabo.

O casal se vê normalmente duas vezes por mês. “No início do ano ficamos quase um mês sem nos vermos. No ano passado, por maio e junho, tivemos que ficar um mês e meio sem nos vermos por conta da Covid. Aí a saudade foi grande”, conta.

Lidar com a saudade é o principal desafio citado pela guria, que conta que antes estavam sempre juntos pois estudavam na mesma escola. “Íamos e voltávamos da aula e passávamos o intervalo juntos. No início nós dois sentimos pela distância, era muito dolorido e até brigas se tornavam frequentes por não saber lidar”, admite.

Ela também comenta que a confiança é essencial entre os dois, que amenizam a saudade no contato pelo celular. Eles conversam por WhatsApp diariamente e algumas vezes por ligação. Chamada de vídeo não faz parte da rotina por ser proibido no quartel.

Jennifer e Ezequiel namoram há dois anos e cinco meses e, desde o início do ano passado, convivem com a distância física
Jennifer e Ezequiel namoram há dois anos e cinco meses e, desde o início do ano passado, convivem com a distância física
(Foto: Arquivo pessoal)

Desafio da pandemia para os namorados

Jennifer acredita que, se não fosse a pandemia, o período seria mais fácil e eles poderiam aproveitar mais o tempo quando estão juntos. “Poderíamos sair, visitar os amigos e ir ao cinema. Com a pandemia, nada disso dá para fazer. Então ficamos em casa, compramos umas guloseimas e aproveitamos um filme ou uma série em casa mesmo, o que já é muito bom”, destaca.

O casal deve seguir com o namoro a distância por mais seis anos. “É quando ele acaba o tempo de exército e volta pra casa. Assim podemos construir nossa vida juntos, formando nossa casa, tendo nossas coisas, com nosso dinheiro. Acredito que esse seja nosso principal plano para o futuro: nossa casa”, finaliza.

Na fase da paixão, doses de ocitocina e dopamina

A psicóloga Natália Schuck salienta que, normalmente, o início do relacionamento é um momento de grude, por conta da paixão. “A paixão produz os hormônios ocitocina e dopamina, e está relacionada ao início de um relacionamento. Por isso, psicologicamente, vemos o mundo de uma maneira diferente e temos maior bem-estar emocional e entusiasmo.”

Porém, ela reforça que não significa que isso precisa acontecer somente ao estar juntos fisicamente. “É um momento de criação e estabelecimento de vínculo. O início é importante para isso, mas não garante uma relação consistente, pois toda relação é uma construção e requer esforço de ambos os lados, não é só o começo que importa”, complementa Natália.

Psicóloga Natália Schuck (Foto: Eduarda Wenzel)
Psicóloga Natália Schuck (Foto: Eduarda Wenzel)

Namorar a distância tem vantagens?

A psicóloga Natália Schuck explica que um relacionamento a distância tem algumas vantagens e é importante focar mais nelas, em vez de pensar só nas partes ruins de não estar perto de quem amamos.

Entre elas está a maior demostração de amor, por palavras e mensagens mais constantes, o que também ajuda a soltar mais a imaginação para demostrar isso. Os encontros, quando acontecem, são mais fortes, mais emocionantes e os namorados aproveitam cada momentinho que vivem juntos. “Isso permite que o casal percebe com mais clareza o quanto o outro faz falta”, afirma.

Programas para fazer juntos, mesmo estando longe

  • Videochamada
  • Assistir a filmes ao mesmo tempo
  • Jogar on-line
  • Ouvir a mesma playlist
  • Escrever uma carta
  • Mandar um presente

Nosso tudo bem, o filme

Lançada no ano passado, a história de Hugo e Dandara ganhou novos capítulos, em 2021. Tanto o filme inicial, cuja história foi citada no início desta matéria, quanto o novo curta-metragem, lançado em duas partes, estão disponíveis no YouTube, no canal ‘Nosso tudo bem’. A parte 2 estreou ontem.

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Juliana Bencke

Juliana Bencke

Editora de Cadernos, responsável pela coordenação de cadernos especiais, revistas e demais conteúdos publicitários da Folha do Mate

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