Produtores rurais de Mato Leitão estão há um ano sem alojar suínos

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A crise financeira que atingiu a Languiru, sediada em Teutônia, também causa reflexos em Mato Leitão. Na Cidade das Orquídeas, dois produtores rurais que eram integrados à cooperativa estão desde o ano passado com os galpões vazios, sem conseguir alojar suínos, ambos na etapa de terminação. Mato Leitão também passa por essa situação, envolvendo dois agricultores que estão na lista dos 10 maiores produtores rurais por Valor Adicionado Fiscal (VAF) em 2023.

Em Vila Sampaio, essa é a situação vivida pela família de Rodrigo Mahle, 42 anos. Associado à Languiru desde 2006, agora ele vive a expectativa de voltar a trabalhar no segmento porque a cooperativa fez um contato nesta semana demonstrando interesse em retomar a atividade. Entretanto, antes disso ele viveu a incerteza de como ocupar os abrigos que estão vazios desde o início do ano passado, quando aconteceu o carregamento do último lote da propriedade.

No caso de Mahle, a suinocultura é como uma herança dos pais, que já estavam envolvidos com a atividade. Inicialmente, ele trabalhava com 240 cabeças por lote e um total de três lotes por ano. Em 2016, a família investiu na construção de mais um galpão, o que possibilitou a ampliação da produção, que saltou para 700 animais por lote.

A nova edificação foi financiada, mas como o trabalho com suínos estava garantindo boa rentabilidade, o pagamento das parcelas não era uma preocupação. Entretanto, isso mudou em 10 de março do ano passado, quando aconteceu o último carregamento na propriedade. Além disso, segundo o suinocultor, o valor que deveria ser pago pela cooperativa ficou em aberto.

“Não foi um lote bom, porque já vínhamos tendo problemas com a ração que era fornecida, que estava mais ‘fraca’”, relata o morador de Vila Sampaio. Ele fez contato com a empresa e conseguiu reaver praticamente todo o valor a partir de compras no mercado e troca do dinheiro por implementos e insumos para a propriedade.

Preocupação com a paralisação dos suínos

Uma das grandes preocupações da família é com o pagamento do financiamento feito para a construção do segundo galpão. “Antes pagávamos a prestação e sobrava”, comenta. Rodrigo, inclusive, participou de diversas reuniões com a cooperativa na busca de uma alternativa e procurou outras empresas para conseguir voltar a alojar suínos. Em fevereiro deste ano, investiu na instalação de cortinas novas para deixar a estrutura em dia.

“Tem que levantar a cabeça e seguir. Sempre gostei de trabalhar com os suínos. Agora é tentar alojar de novo para quitar a dívida do financiamento”, afirma. Antes da paralisação, a suinocultura era a principal atividade da propriedade. A estimativa do agricultor é que esse período de um ano e quatro meses sem alojar suínos já tenha gerado um prejuízo de R$ 100 mil.

A família também trabalha com leite, integrada à Languiru, e como alternativa para aumentar a renda intensificou a terceirização de serviços a outros produtores rurais, com a oferta do trabalho de preparação da lavoura, plantio e colheita para outros agricultores de Mato Leitão, Venâncio Aires, Santa Clara do Sul e Cruzeiro do Sul.

“Não temos como deixar os galpões vazios e nem aproveitá-los para outra finalidade”

A situação do casal Edelvan Roberto Heinen, 54 anos, e Janice Maria Heinen, 52 anos, de Linha Hillesheim, é semelhante à da família Mahle. Em 2011, eles construíram o primeiro galpão para iniciar com a suinocultura, porque souberam que a Languiru procurava produtores rurais para atuar com a fase de terminação.

Antes disso, a família já trabalhava com o leite, atividade que segue desenvolvendo até hoje. Na época, como o custo da produção leiteira aumentou, eles decidiram investir nos suínos e diminuir o número de vacas, porque a bovinocultura de leite exige mais mão de obra.


Edelvan e Janice Heinen ainda não têm definição sobre o que farão com as duas estruturas construídas na propriedade para abrigar os suínos (Foto: Taís Fortes)

Com o primeiro abrigo, era possível alojar entre 400 e 450 cabeças por lote. Como os suínos estavam indo bem, o casal investiu, em 2015, na construção de uma segunda estrutura, o que garantiu um incremento de animais abrigados por lote, fazendo esse número subir para mil, com uma média de três lotes por ano.

“Não paramos com o leite porque ele mantém a propriedade, cobre as despesas. Com os suínos pagávamos as prestações e fazíamos uma reserva financeira”, conta Heinen. Segundo o agricultor, no penúltimo lote que passou pela propriedade eles já enfrentaram problemas com a falta de qualidade da ração fornecida pela Languiru. “O porco não crescia normalmente”, recorda. O último lote foi carregado na metade do ano passado.

Assim como na propriedade de Vila Sampaio, a família também não recebeu o pagamento por esse último carregamento. Entretanto, esse valor segue pendente, porque eles não conseguiram trocar por mercadorias ou insumos. Eles estimam que neste período de um ano com os galpões vazios, deixaram de entrar na propriedade entre R$ 90 e R$ 100 mil, levando em conta o rendimento bruto. “As aranhas estão fazendo festa”, lamenta o produtor rural.

Apesar do susto inicial, a família tem se dedicado ao leite, que sempre foi a principal atividade da propriedade, e com a reserva feita a partir dos anos dedicados à suinocultura, e que é destinada à situações de emergência, está organizada para quitar as parcelas do financiamento realizado para a construção do segundo galpão.

Além disso, o casal tem contatado a Languiru e outras empresas na tentativa de encontrar uma forma de voltar a alojar suínos. “Não temos como deixar os galpões vazios e nem aproveitá-los para outra finalidade. Temos que torcer para a Languiru definir o que vai fazer ou encontrarmos vaga em outra empresa”, define Heinen.

Hoje a família tem 23 vacas em lactação, com uma produção que varia entre 400 e 450 litros por dia, e desde janeiro passou a ser integrada à Baky Alimentos, de Passo do Sobrado. No início do ano, eles também providenciaram a pintura das duas estruturas para deixá-las preparadas para receber novos lotes de suínos. O trabalho do casal é dividido com o filho caçula, Rafael Heinen, 19 anos.

Languiru não tem previsão de voltar a trabalhar com suínos

Por meio da Assessoria de Imprensa, a Languiru disse que desde maio de 2023, após realização de estudos de viabilidade econômica e financeira dos segmentos de atuação, definiu pela descontinuidade da cadeia da suinocultura. “A Languiru não tem em seu horizonte próximo a perspectiva de atuação na cadeia suinícola novamente. A força da cooperativa será na produção de leite e aves, e potencialmente grãos”, informou.

A cooperativa também destacou que os produtores rurais que ainda têm lotes a receber da cooperativa, igualmente têm obrigações referentes a perdas de exercícios anteriores e mencionou que desde julho de 2023 busca comprador para o Frigorífico de Suínos da cooperativa. Uma das negociações envolve a Seara/JBS, que mantém a intenção de aquisição desta planta. Nesta negociação sempre foi colocada a exigência, pela administração da Languiru, que todos os associados da cooperativa, produtores de suínos, que tenham interesse, tenham a possibilidade de alojar para a nova empresa.

Na última quinta-feira, 11, a Cooperativa Languiru realizou uma Assembleia Geral Extraordinária. Um dos principais tópicos da pauta foi a prorrogação do procedimento de Liquidação Extrajudicial em Continuidade de Operação por mais um ano. Na reunião também foi apresentado o estudo de viabilidade operacional e financeira.

A proposta do Plano de Pagamento de Credores apresentada indica a divisão dos credores em quatro classes, de acordo com o valor e tipo de crédito. A cooperativa iniciará os pagamentos em outubro deste ano. Para viabilizar este planejamento, os credores deverão realizar a adesão ao plano de pagamento mediante assinatura do Termo de Adesão.

*Com informações da Assessoria de Imprensa da Languiru



Taís Fortes

Taís Fortes

Repórter da Folha do Mate responsável pela microrregião (Mato Leitão, Passo do Sobrado e Vale Verde) e integrante da bancada do programa jornalístico Terra em Uma Hora, da Terra FM

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