O ano era 2016 e depois de viver um romance conturbado, onde foi vítima de reiteradas agressões, todas movidas pelo ciúme do companheiro, dez anos mais velho, a então garota de 18 anos decidiu dar um basta na relação e mudar de vida. Comunicou o fato na Delegacia de Polícia e foi embora de Venâncio Aires, fixando residência na capital de Santa Catarina. Sem medo de recomeçar, dois dias depois de chegar em Florianópolis começou a trabalhar. “Morava a duas quadras do mar e meu primeiro emprego era de frente para a praia”, resumiu.
Disposta a viver uma nova vida, se limitou a trabalhar e desfrutar das belezas da ‘Ilha da Magia’. O tempo passou, as condições financeiras melhoraram e ela decidiu procurar um lugar um pouco melhor para morar. Conheceu o dono de um apartamento, fez amizade e alugou o imóvel. Envolvente, o indivíduo passou a convidá-la para irem a festas, já que ela não ingeria bebidas alcoólicas e então poderia se divertir e depois voltar embora dirigindo. “E ainda ele e os amigos dele me pagavam”, recordou.
O tempo passou até que um dia o ‘amigo’ tentou ter mais intimidade com ela. “Na hora disse que não, pois ele era casado, mas ele negou, dizendo que não era casado, mesmo eu já tendo estado dentro da casa dele, onde ele vivia com uma mulher”. Em uma nova investida, a então jovem de 18 anos passou a se relacionar com o indivíduo, com quem futuramente teve três filhos.
Mas o que parecia ser uma nova vida, voltou à velha rotina de ciúmes doentios e agressões violentas. Ela seguiu trabalhando e dividindo sua vida com o cuidado da casa e dos filhos, até que começaram as agressões. Na terceira gravidez, diz que as agressões eram constantes e por isso decidiu voltar para Venâncio. Durante os anos em Santa Catarina, juntou dinheiro e o usou para adquirir um imóvel, onde veio morar, em fevereiro deste ano.
Mas seu martírio seguiu e em um belo dia, o pai dos seus três filhos a surpreendeu e ela, mais uma vez, foi agredida. A mulher então procurou a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA), comunicou as agressões e ameaças e solicitou as medidas protetivas da Lei Maria da Penha. A denúncia não foi suficiente e em outra oportunidade, os vizinhos a avisaram que o seu ex havia arrombado uma janela e estava dentro de casa. Ela acionou a Brigada Militar e ele acabou preso.
Patrulha
Mas mesmo diante da denúncia da vítima e da proibição dele se aproximar ou manter contato com ela, o ex-companheiro decidiu vir morar em Venâncio. “Estou sempre me cuidando e o apoio da Patrulha é muito importante”, referiu, enquanto conversava com a soldado Hertz.
A policial militar, que integra a Patrulha Maria da Penha, é uma das responsáveis pelas visitas a um grupo de 379 vítimas que têm as medidas protetivas ativas em Venâncio Aires. As visitas são periódicas ou sempre que solicitadas e servem para atualizar dados e saber se o denunciado está cumprindo as determinações judiciais ou não.
Nesta semana, as ações de combate aos crimes foram intensificadas na região do Comando Regional de Polícia Ostensiva (CRPO) do Vale do Rio Pardo, por conta da ‘Operação Violeta’. A intenção é reprimir abusos e mostrar que a Patrulha está constantemente em defesa das mulheres vítimas.
A vida antes de Florianópolis
- Antes de literalmente sair ‘de mala a cuia’ em direção a Florianópolis, em 2016, nossa personagem passou maus bocados nas mãos do ex-companheiro. Ela conta que sempre trabalhou para ganhar o seu sustento e que naquele época o então companheiro também trabalhava, mas o ciúme deixou a relação muito tóxica e ela passou a ser agredida com frequência.
- Em umas das oportunidades que foi violentamente agredida, disse que fez serão e ao chegar em casa, mesmo explicando que estava trabalhando, foi espancada. Em seu relato feito à reportagem durante uma visita da Patrulha Maria da Penha, mencionou que em uma das vezes que apanhou, havia saído de casa para comprar remédio para a sua sogra, que não estava se sentindo bem. Naquela época ela trabalhava de dia e estudava à noite, mas recorda que qualquer suspeita do ex era motivo para ela ser agredida.