As consequências de um ano chuvoso ainda são perceptíveis sete meses após da enchente histórica em Venâncio Aires. Embora alguns apicultores da Capital do Chimarrão não tenham sido diretamente atingidos pela cheia, o elevado volume de chuvas impactou a safra de mel. Segundo o chefe da Emater/RS-Ascar local, Vicente Fin, o prejuízo na safra não é apenas reflexo da enchente de maio, mas também das três últimas ocorrências de cheia – duas no ano passado. “Nas três últimas enchentes, quase duas mil caixas foram perdidas no total no município”, explica.
A redução no número de colmeias, devido à destruição significativa, representa um impacto considerável. “É importante lembrar também das perdas ocasionadas pelo uso de agrotóxicos. Bons produtores perderam muitas caixas. O inverno rigoroso e o excesso de chuvas também causaram prejuízos às colmeias”, comenta Fin.
Ele explica que, com as chuvas prolongadas, as abelhas não conseguiram realizar os voos, o que dificultou o trabalho de coleta do pólen e o atendimento de suas necessidades. Outro fator agravante foi a baixa produção de flores neste ano, como as de hovenia (uva japonesa) e eucalipto, que normalmente florescem em grande quantidade nesta época. “Diante de todos os desafios enfrentados nesta safra, a estimativa é de uma perda de até 75% em toda a produção do município”, afirma o chefe da Emater.
A falta de mel e a exportação ainda não normalizada fazem com que o pouco produto disponível no estoque seja utilizado para suprir a demanda do mercado. De acordo com Fin, no início da safra deste ano, o município contava com 5.950 caixas de abelhas, e a expectativa era uma produção de 100 toneladas. “Com uma perda produtiva estimada em 75%, fica evidente a gravidade da baixa na produção de mel. Lá na frente, pode faltar mel, e a tendência é que o preço suba ainda mais. Claro, isso pode ser amenizado caso haja uma boa florada em janeiro e fevereiro, o que ajudaria a recompor parte da produção”, analisa Fin.
“Agora é esperar, fazer divisão da colmeia e se preparar para a florada do eucalipto no próximo ano”
Para Edson Schwendler, 46 anos, proprietário da Casa do Mel Schwendler, localizada em Linha Olavo Bilac, no interior de Venâncio Aires, o ano de 2024 foi repleto de desafios para a produção de mel. Ele é um dos maiores produtores do município, com mais de 200 colmeias. “Na coleta de abril, durante a florada do eucalipto, houve uma quebra de 80% na produção”, afirma o apicultor.
Schwendler explica que, inicialmente, a florada do eucalipto em abril apresentava bom potencial. No entanto, após o temporal de janeiro, o cenário mudou. “Havia muitos botões, mas eles não chegaram a abrir devido ao calor excessivo combinado com alta umidade, o que causou o aborto das flores antes mesmo de desabrocharem. Como resultado, tivemos pouquíssimas flores de eucalipto. Agora é esperar, fazer divisão da colmeia e se preparar para a florada do eucalipto no próximo ano”, relata.
Além disso, a propriedade enfrentou outro desafio. A infestação de lagartas afetou a uva do japão em janeiro e fez com que a planta perdesse todas as folhas. “Normalmente, essa queda de folhas ocorre entre maio e julho. Como a brotação aconteceu em março e abril, fora de época, a planta perdeu vigor, o que reduziu drasticamente a floração, ficando abaixo de 10%”, relata Schwendler.
Ele explica que a falta de flores, agravada pelo excesso de chuva, foi o principal fator que prejudicou a safra. “O excesso de chuva impacta diretamente a produção de mel. Um ano seco é mais favorável que um ano muito chuvoso. A safra de 2023 foi boa, por isso ainda tenho produto em estoque. Isso ajudou a amenizar os impactos, mas os preços subiram tanto para os consumidores quanto para os mercados, devido à escassez. Minha expectativa é que, a partir de abril de 2025, o clima normalize”, afirma.
Com 20 anos de atuação na agroindústria, Schwendler mantém as feiras como principal canal de comercialização, tanto no Rio Grande do Sul quanto em outros estados. Apesar das dificuldades em 2024, ele marcou presença em diversos eventos, como a Festa da Uva, em Caxias do Sul; a Expoagro Afubra, em Rio Pardo; a Expointer, em Esteio; a Expotchê, em Brasília; a Oktoberfest, em Santa Cruz do Sul; e a Feira do Mercado Público, em Porto Alegre. Para encerrar o ano, participou ainda do Festival de Balonismo, em Venâncio Aires; e da Feira Sabores do Paraná.
“As principais causas do prejuízo na safra do mel neste ano foram a falta de floração e o excesso de chuva. A produção na minha propriedade foi fraca, com uma quebra estimada entre 80% e 90%.”
EDSON SCHWENDLER
Apicultor