Segue a ‘novela’ da Escola Mariante

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A comunidade não quer que a Escola Mariante vire escombros e lembranças, apenas. Desde que um prédio foi interditado por conta de problemas estruturais e outro teve a rede elétrica ‘condenada’, os pais, estudantes e professores estão mobilizados em busca de soluções para superar obstáculos que se impõem. Eles se reuniram na noite de terça-feira, 12, no salão da Comunidade Nossa Senhora dos Navegantes, com o objetivo de buscar alternativas. De concreto, agendaram protesto para o sábado, 16, em frente à instituição.

As aulas remotas e remanejamento de alunos para outros educandários não agradam. A utilização de contêineres como salas de aula não é considerada ideal, até porque há necessidade de luz elétrica, o que é um problema no momento. E, por fim, a comunidade escolar ficou indignada com uma opção que teria partido da 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE): que os alunos aproveitassem a luz solar para estudar. “Isso é humilhante. Nem mesmo quem está preso porque matou uma pessoa fica sem luz”, desabafou a atendente de farmácia Letícia dos Santos, de 32, que tem as duas filhas na Escola Mariante.

A família reside ao lado da instituição de ensino e, com as interdições, a filha mais jovem, Helena, de 4 anos, está se deslocando diariamente até a Escola Coronel Thomaz Pereira, em Linha Taquari Mirim. “Ela está acordando às 6h, saindo de casa às 6h30min, de van, e chegando perto das 8h na outra escola. É um deslocamento bastante considerável, que muda totalmente a rotina da criança”, diz Letícia, que estudou na Escola Mariante dos 6 aos anos 17 anos. “É a nossa referência. Não podemos perdê-la”, salienta.

A outra filha, Alice, tem 10 anos e está no 5º ano do Ensino Fundamental. Vive dias de incertezas, assim como os demais alunos, mas a mãe tem uma preocupação ainda maior: “Estamos saindo de um período de pandemia. Foram praticamente dois anos em que as crianças não tiveram aulas da forma adequada. Em casa, a gente ajuda, a avó delas é professora aposentada e também contribuiu, mas é perceptível o déficit de aprendizagem”. Ela acrescenta que “assim como Mariante, as nossas crianças estão ficando para trás. A Brigada Militar acabou, o cais não é mais o mesmo, a escola não tem internet, o posto de saúde foi construído há pouco tempo e já tem rachaduras e o ginásio está caindo. É muito triste”.

Tristeza e incerteza

A sensação de tristeza e incerteza também é vivenciada pelo casal de agricultores Jaques e Daniela Martins, ambos de 38 anos, que tem – ou melhor, tinha -, três filhos na Escola Mariante. Eles afirmam que o interesse é pressionar as autoridades competentes. “Não queremos nada além dos nossos direitos. Queremos nossos filhos na escola, só isso. Então precisamos reivindicar às pessoas que têm o dever de nos ajudar”, comenta Daniela. Ela reforça que a ideia é buscar de forma pacífica a solução para a situação.

Daniela também salienta a mudança drástica de rotina da família. “Temos uma criança de 4 anos que já está indo para Linha Taquari Mirim, na Escola Coronel Thomaz Pereira, e outros dois, com 7 e 10 anos, que estão na segunda e quarta séries, respectivamente”, explica, acrescentando que “estávamos com tudo organizado e, por mais que a gente trabalhe na roça, temos horários a cumprir. Este problema nos tirou do prumo, literalmente”, lamenta.

A agricultora reivindica que as autoridades competentes auxiliem para que o entrave seja solucionado o mais rapidamente possível. “Nós e nossos filhos perdendo tempo. Me parece uma coisa simples de resolver, desde que haja vontade. Não tem cabimento chegar ao ponto que chegamos”, conclui Jaques.

Vereadores elevam o tom

Durante a sessão semanal da Câmara de Vereadores de Venâncio Aires, realizada na noite de segunda-feira, 11, a situação enfrentada pela Escola Mariante, localizada no 2º Distrito, teve destaque. Vários parlamentares se manifestaram a respeito do assunto e demonstraram preocupação, mas o que mais cobrou o Governo do Estado no que se refere à resolução dos problemas foi Clécio Espíndola, o Galo (PTB), que mora em Mariante.

Na tribuna, ele afirmou que esteve na escola, conversou com pais e professores e saiu de lá perplexo com a situação. “É um absurdo o que estão fazendo com aquelas crianças. Chegaram a dizer que antigamente as aulas aconteciam no escuro”, disse. Assim como Galo, César Garcia (PDT), que também reside na localidade, engrossou o coro e afirmou que a Administração está auxiliando na busca de soluções, embora a instituição de ensino seja estadual. Ezequiel Stahl (PTB) foi outro que pediu atenção à causa. “Aula em contêiner é retrocesso”, declarou, em referência à alternativa apresentada.

Convite

Ontem, o vereador Elígio Weschenfelder, o Muchila (PSB), protocolou um pedido para que o responsável pela 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Luiz Ricardo Pinho de Moura, vá à tribuna do Legislativo para falar a respeito do tema. Pinho antecipou à reportagem da Folha do Mate (veja no box) que, na próxima segunda-feira, 18, data pretendida pelo parlamentar, não terá como comparecer.

O que diz a 6ª a CRE

1 O responsável pela 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Luiz Ricardo Pinho de Moura, afirmou ontem que, em relação ao auto de interdição da rede elétrica, a 6ª Coordenadoria Regional de Obras Públicas (Crop) já está elaborando o projeto para revitalização do sistema. Ele estima em 60 dias o prazo só para o projeto. Depois, ainda será preciso licitar a empresa para o serviço e há também o tempo para execução. “Não tenho autonomia para repassar informações mais detalhadas sobre estes prazos”, explicou.

2 Em relação à utilização de contêineres, Pinho de Moura declarou que a alternativa está mantida e que, inicialmente, está sendo realizado o estudo de solo, também pela Crop, para que uma base segura seja construída para os compartimentos. Ao mesmo tempo, ele destacou que a diretoria da Escola Mariante já providenciou algumas adaptações na estrutura e que algumas turmas estão sendo otimizadas. “Tínhamos um quarto ano com duas turmas de 10 e 14 alunos. Reunimos as duas e ficou tranquilo com 24”, comentou.

3 O coordenador destacou que o Poder Executivo Municipal tem sido parceiro em busca de uma solução para o educandário. “Contamos com a gentileza do prefeito Jarbas da Rosa e da vice Izaura Landim, que nos cederam três espaços do Município para serem utilizados como salas de aula. Com isso, implementamos um revezamento, com parte dos alunos de forma presencial e outra parte no modelo remoto”, disse.

4 Sobre a convite para se fazer presente na reunião da Câmara de Vereadores de Venâncio Aires na próxima segunda-feira, 18, Pinho de Moura descartou a possibilidade, pois tem agenda em Santa Maria, onde acompanhará os gestores e professores da região em debate acerca do novo Ensino Médio. “Ainda não foi informado oficialmente sobre o convite, mas já posso adiantar que, na próxima segunda, é inviável. No entanto, não vejo problema de estar na Câmara em um outro momento, até porque, em se tratando de educação, tudo se resolve com diálogo e todos devem estar cientes de tudo o que acontece”, argumentou.



Carlos Dickow

Carlos Dickow

Jornalista, atua na redação integrada da Folha do Mate e Terra FM.

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