Setor primário de Venâncio Aires tem mais de 60 tipos de culturas na matriz produtiva

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Dizer que a produção primária em Venâncio tem papel fundamental para a economia do município é ‘chover no molhado’. A representação e a importância estão há muito estabelecidas e algumas culturas têm crescido significativamente nos últimos anos, como suínos, aves e grãos, em paralelo ao tradicional e ainda predominante tabaco.

Mas nesse território rural imenso e que concentra em boa parte pequenas propriedades, a gama de atividades é extremamente variada e por isso que o termo ‘diversificação’ é cada vez mais comum entre os agricultores. Seja uma grande área de hectares com soja ou um pequeno pomar de frutas em poucos metros quadrados, a matriz produtiva de Venâncio soma mais de 60 tipos de culturas e que, se considerarmos os subprodutos, a lista passa de 80 (veja abaixo).

Usando mais um termo popular, é uma matriz que tem ‘às pencas’. Pencas como as de abacate na propriedade de Paulo Valino Schuch, 67 anos. O morador de Vila Palanque tem cerca de 30 pés em produção. “Dá dinheiro sim. Sempre se consegue vender”, conta. Além dos abacateiros que já tinha, em 2022 Schuch aproveitou o programa municipal de distribuição de mudas de frutas (subsidiadas com metade do valor pela Prefeitura) e pegou mais 50 mudas de laranja e bergamota.

Em breve, o agricultor e a esposa, Neiva, 58 anos, terão o reforço do filho, Jonas, que vai voltar para a propriedade. O motivo é o início das atividades em dois aviários. “Vamos tocar com as frutas e agora as aves, tendo opção na propriedade. Assim vamos diversificando”, conta Schuch, que plantou tabaco até 2014.

Liderança no Estado

Segundo a Emater, Venâncio Aires tem, atualmente, 12 produtores de abacate, que cultivam pomares em 19 hectares (13,5 são comerciais). As frutas se desenvolvem entre fevereiro e setembro e, em 2021, foram 240 toneladas. A quantia deu ao município, pelo terceiro ano seguido, a liderança isolada dentro do Rio Grande do Sul. Mas vale destacar que Venâncio se mantém entre os três primeiros maiores produtores no estado desde 2016, conforme ranking da Produção Agrícola Municipal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“A produção poderia chegar a 40 toneladas por hectare, mas aqui temos cerca de 15, porque tem muitos pés ainda em crescimento”, explica o chefe da Emater local, Vicente Fin. Ele revela que os frutos já têm gerado interesse para ‘além das fronteiras’. “Além da venda no próprio município e ceaseiros, existe uma demanda estadual e até para exportar. A Emater e Secretaria de Desenvolvimento Rural já foram procuradas por compradores interessados em levar para fora. Existe mercado e potencial para crescer.”

Fruticultura

Os abacates de Paulo Valino Schuch estão dentro da ‘fruticultura’, atividade que cresceu em área plantada, em famílias produtoras e em venda. Em 2020 eram 418 hectares, passando para 430 hectares em 2021.

Além disso, mais famílias aderiram às frutas (como limão, laranja, bergamota, pêssego, nozes, ameixa, abacate, pitaya e figo) como uma forma de incremento na propriedade – 272 para 287 no último ano.

Em vendas, também houve aumento: de R$ 408,7 mil em 2020 para R$ 483,7 mil em 2021, de contribuição dentro do Valor Bruto da Produção Agrícola (VBPA). “A fruticultura está renascendo e expandindo a parte comercial, muito por políticas públicas e programas aliados, que ajudam a fomentar”, considera Vicente Fin, da Emater.

Produção primária por tipo de produto
• Açúcar de cana, adubos ou fertilizantes de origem animal, alface, chicória, alfafa, feno e demais forragens, alho, amendoim, arroz, aveia, aves, banana, batata, bovinos, carne, cebola, cenoura, nabo, beterraba, rabanete, coco, castanha, conservas de frutas e legumes, couro, couve, equinos, ervilha, farinha de milho, farinha de trigo, farinha de sementes, figo, abacaxi, abacate, goiaba, flores e botões, frutos cítricos, geleias e doces, banha de porco, grãos de cereais, laranja, vagem, leite e derivados, lenha, limão, lima, maçã, madeira compensada, madeira bruta e madeira serrada, aipim, batata-doce, erva-mate, mel, melado, melancia, melão, mamão, milho, morango, miudezas, ovinos, ovos, pães, bolos, cucas e bolachas, peixe, pepino, pêra, marmelo, pêssego, damasco, cereja, ameixa, tabaco, queijo, soja, sucos de frutas, suínos, tangerina, tomate, trigo e uva.

“Os setores estão desenvolvendo uma caminhada vertical de produção. Todas as atividades estão melhorando, não só em área, mas em produtividade. Essa diversidade traz estabilidade interna às famílias quanto à renda. Por isso o VBPA não cai, mesmo em anos de estiagem. Ele tem aumentado, o que significa que, de uma cadeia ou de outra, vão partir recursos para gerar economia.”

VICENTE FIN – Chefe do escritório local da Emater

Bovinos de corte: aumento na produtividade e nas vendas

O cultivo do abacate, que tem seus 12 produtores, pode parecer pequeno perto de outras atividades, que têm centenas e até milhares de famílias produtoras (como é o caso do tabaco – 2.425). Mas, proporcionalmente cada uma, dentro das suas particularidades, tem sido rentável e isso está nos números do Valor Bruto da Produção Agrícola (VBPA).

De forma geral, os principais produtos têm crescido e entre os destaques está o gado de corte. De 2020 a 2021, a atividade passou de R$ 13,8 milhões para R$ 16,4 milhões dentro do VBPA – aumento de 18%. “Tem tido valorização no preço porque está aumentando a qualidade. Além do melhoramento genético das raças criadas, principalmente as europeias, há um cuidado cada vez maior com a alimentação, observando as pastagens de tifton, azevém e aveia”, destacou o chefe da Emater, Vicente Fin.

Esses pontos observados pelo engenheiro agrônomo podem ser conferidos, por exemplo, na propriedade de André de Oliveira Pereira, de 40 anos. Junto com a esposa Marinês Ársego, 36 anos, ele cria gado há cerca de oito anos, em Linha Cerrito.

Pereira recebe terneiros (principalmente da raça Braford) com menos de um ano, pesando até 200 quilos. Na propriedade, eles ficam por mais um ano (um ano e meio no máximo), chegando a aproximadamente 500 quilos. O tempo de estadia na propriedade é menor que em anos anteriores e muito está relacionado ao trato alimentar. “Nós temos a rotação de piquete. Todo dia, os animais ficam pastando numa área diferente. São cerca de 50 espaços e assim vai dando tempo de o pasto crescer novamente. De manhã e de noite, eles também recebem sal proteinado”, explica o produtor.

Braford está entre as raças de gado mais criadas em Venâncio Aires (Foto: Arquivo pessoal)

Gado mais pesado

Esse cuidado com a alimentação reflete em outro número interessante para a carne bovina produzida em Venâncio Aires: o peso médio por cabeça. Em 2021 cada animal chegava a cerca de 400 quilos, mas em 2022 a média já subiu para 454 quilos. “Com melhoramento genético e cuidado na alimentação, o preço melhorou bastante para os produtores”, comentou Vicente Fin.

Além disso, há mais gado nas pastagens venâncio-airenses – passando de 6,5 mil para 7 mil cabeças por ano – e mais produtores. Em 2022, há 15 famílias a mais dedicadas à criação comercial se comparado a 2021 – 165 para 180.

“Acho importante o agricultor, independente da atividade, cuidar dela com o caderno na mão, analisando custos e o mercado. E prestar atenção no caminho que a produção rural está tomando: cada vez mais focada na produtividade, mas reduzindo custos e diminuindo o impacto ambiental.” ANDRÉ DE OLIVEIRA PEREIRA Agricultor de Linha Cerrito

Produtor consciente

André de Oliveira Pereira também cultiva arroz na Linha Cerrito e a produção dos 18 hectares vai para a Arrozeira Santos, na localidade vizinha de Picada Nova. Já a maior parte do gado é vendida para frigoríficos de Venâncio Aires. “Acho importante a gente vender dentro ‘de casa’ o que produzimos. Isso ajudar a fortalecer o município”, opina o agricultor.

Além da conscientização econômica, Pereira também chamou atenção para outro ponto importante: a consciência ambiental, seja com parte da propriedade destinada à reserva legal ou com a própria natureza ajudando na atividade.

Ele não tem açudes, mas encontrou outra forma de garantir a irrigação da pastagem: a água vem da sobra da lavoura de arroz e com a energia gerada por placas solares (instaladas em 2021), consegue ‘puxar’ até o alto da propriedade, onde o gado fica. Por isso, na última estiagem, não teve maiores problemas.

“Essa variedade mostra que as propriedades estão diversificando, não dependem mais de uma única atividade e garantem renda o ano todo. E o poder público busca ajudar, com os programas de distribuição de mudas, o vale-sêmen, correção do solo e trabalhando para deixar as estradas e acessos em condições.”

GILBERTO DOS SANTOS – Secretário Municipal de Desenvolvimento Rural



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

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