FOTOS: Usina de Triagem de Venâncio vira lixão a céu aberto

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Por Ismael Stürmer e Juan Grings

Diariamente, os venâncio-airenses produzem cerca de 35 toneladas de lixo, que são recolhidas e levadas para a Usina de Triagem, localizada em Linha Estrela. Lá, esse lixo deveria ser separado e a sobra encaminhada para o aterro sanitário em Minas do Leão. Por outro lado, o que pode ser reaproveitado era vendido pela empresa terceirizada que trabalhava na usina. Mas, desde o dia 6 de fevereiro, a empresa CRC Cooperativa de Catadores dos Vales do Taquari e Rio Pardo Ltda deixou de realizar o serviço de triagem.

Segundo a Prefeitura, a empresa não estava cumprindo com o que constava no contrato. À época, o secretário de Meio Ambiente, Nilson Lehmen, afirmou que problemas com a segurança dos funcionários estariam sendo observados, inclusive com um acidente em que um dos colaboradores da cooperativa perdeu um braço, em novembro do ano passado. Também foi constatada baixa produtividade na reciclagem do lixo, que, por contrato, deveria ser de 10% ou mais. Conforme dados da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), a média da triagem realizada no ano passado ficou na casa de 6,07%, o equivalente a 60,7 toneladas.

Passado mais de um mês após o rompimento do contrato, a Usina de Triagem virou um lixão a céu aberto, com animais rasgando os sacos, montanhas de lixo espalhadas por todos os lados e chorume penetrando pela terra. A reportagem da Folha do Mate esteve no local na terça e na quarta-feira para conferir a situação. Os caminhões que levam o lixo da cidade para a usina já não conseguem mais acessar o local onde os resíduos deveriam ser descarregados. O trajeto que deveria ser percorrido pelos caminhões no local está tomado por montanhas de lixo. Não há pessoas trabalhando para separar o material, que é todo colocado em contêineres por uma retroescavadeira, sem separação do que poderia ser reciclado. Todos os resíduos vão para o aterro sanitário de Minas do Leão, que fica distante cerca de 130 quilômetros de Venâncio Aires.

A Semma está ciente da situação. Segundo Lehmen, a situação já estava assim antes mesmo do rompimento do contrato. “Não houve piora”, diz. Além disso, o secretário afirma que sempre, nos primeiros dias da semana, a situação é pior por conta do acúmulo do fim de semana – uma vez que não há recolhimento aos domingos. Já nos últimos dias da semana – quinta e sexta-feira -, conforme ele, a quantidade de lixo acumulada costuma ser menor. Ainda, na opinião do titular da pasta, as chuvas do fim da última semana contribuíram para um acúmulo acima do normal, como este flagrado pela reportagem. São transportados quatro contêineres todos os dias para o aterro sanitário.

ATRASO NA CONTRATAÇÃO

“Quando suspendemos o contrato, acreditávamos que em, no máximo, 10 dias já teríamos uma nova empresa contratada”, afirma o secretário. Em um primeiro momento, a pasta adotou a estratégia de uma contratação emergencial, porque entendia que o serviço não poderia ser paralisado. No entanto, o prazo não foi atendido, embora haja empresas que estejam participando do processo de contratação.

Nilson Lehmen acredita que a Nova Lei de Licitações, em vigor desde 1º de abril de 2021, seja o principal empecilho neste momento: “Deixou o processo mais burocrático, gerou mais insegurança nos servidores públicos. São novos documentos e novos processos”. O Meio Ambiente lembra que o processo licitatório para uma nova contratada foi criado antes mesmo do rompimento com a CRC, em fevereiro. Ainda assim, Lehmen demonstrou otimismo por novas notícias nos próximos dias. “Acredito que, entre essa e a próxima semana, devemos ter uma solução”, declarou.

A empresa Recimak, de Venâncio Aires, foi a vencedora do processo. O prefeito Jarbas da Rosa compartilha do otimismo do responsável pela pasta e afirma que a contratação emergencial está no setor de compras. Já houve parecer do departamento jurídico e, agora, cabe à interessada apresentar alguns documentos para a formalização do contrato e, após isso, começar a trabalhar.

O QUE DIZ A CRC

Segundo o procurador da CRC Cooperativa dos Vales do Taquari e Rio Pardo, Francisco Leopoldo Santos, apenas o lixo seco pode ser reciclado. Então, é do montante desse lixo, que passa pela esteira, que é feito o cálculo de produtividade. Santos comenta que, das toneladas que chegam por dia na Usina de Triagem, de 10% a 15% passa pela esteira. O restante é colocado direto em contêineres que são enviados para o aterro em Minas do Leão. Ele explica que, deste lixo pré-selecionado, 85% era reciclado pela CRC. A cooperativa também alega que, nos últimos meses, a Prefeitura vinha descartando mobiliários e que isso acabava indo para a esteira, que trancava e necessitava de reparos, além da necessidade de ficar 12 horas parada para manutenção.

Quanto custa o lixo por mês em Venâncio?

• Coleta de lixo: R$ 278,5 mil
• Transbordo de Venâncio para Minas do Leão: aproximadamente R$ 76,9 mil*
• Aterro sanitário de Minas do Leão: aproximadamente R$ 131,7 mil*
• Total: R$ 487,1 mil**

*Os valores variam conforme a pesagem do lixo

**Não considera o custo da triagem, atualmente sem contrato firmado

O que diz a Prefeitura

• Em contato com a reportagem, o prefeito Jarbas da Rosa disse que vem trabalhando junto à Secretaria de Meio Ambiente há mais de um ano para resolver os problemas da Usina de Triagem. Ele ressalta que o acidente de trabalho em que o homem perdeu um braço, deve gerar um passivo milionário para o Município a médio e longo prazo e que era necessário fazer a rescisão do contrato com a cooperativa. O prefeito ainda salienta que a contratação emergencial da empresa que irá atuar na usina já está em fase final.

Como a triagem recuperava cerca de 60,7 toneladas por mês, calcula-se que Venâncio Aires gaste R$ 12,9 mil a mais do que deveria com lixo que não precisaria ir para o transbordo e, consequentemente, ao aterro sanitário.

Em 2023, a média do lixo produzido por Venâncio Aires e enviado para a Usina de Triagem foi de 1.035 toneladas por mês.

“São decisões difíceis, mas o local vai voltar a ser uma Usina de Triagem. É prioridade minha resolver isso, que vem se arrastando há tantos anos.”

JARBAS DA ROSA
Prefeito de Venâncio Aires

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