A criação do Comitê de Recuperação das Nascentes do Arroio Castelhano, no ano de 2019, foi um marco importante para que a preservação e a recuperação de nascentes tivesse um trabalho contínuo. Antes disso, o assunto já era pesquisado e discutido por Volnei Alves Corrêa, 80 anos, que desempenhou e desempenha papel fundamental para que essa atividade aconteça até hoje em Venâncio Aires.
Corrêa é natural de Pelotas, mas passou boa parte da vida morando em Porto Alegre, onde foi professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em 2012, fundou o Instituto de Sustentabilidade e Resiliência (ISR) e, em 2015, veio para Venâncio Aires. “Eu já tinha o intuito de fazer um projeto falando sobre recursos naturais e gostaria de ampliar também para mais municípios. Mas decidi tornar Venâncio meu foco”, afirma.
Nas eleições de 2016, apresentou aos candidatos a prefeito o ato da Agenda 21, que foi resultado da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992. O documento listava planejamentos que deveriam ser cumpridos em benefício do desenvolvimento sustentável. Na ocasião, todos se comprometeram e assinaram o acordo. Quando eleito, o então prefeito Giovane Wickert deu seguimento na proposta inicial, que era de melhorar o ambiente como um todo. Como se viu que não era possível ‘abraçar tudo’, após parceria com o Instituto Gaúcho de Sustentabilidade, o foco se voltou para o Arroio Castelhano e suas nascentes. “Observamos a poluição do rio, que é uma questão educacional; a manutenção que sofria com os extremos de cheias e secas, e também pretendíamos ver a origem da água. Foi uma pesquisa de anos”, enfatiza.
Na época, Corrêa conta que o conhecimento era de que o arroio tivesse oito nascentes, mas segundo um mapeamento digital, se desconfiava de que eram muito mais. Em pouco tempo de procura o número já aumentou, para 16. Corrêa reforça que na época procurou a Folha do Mate e divulgou o início deste trabalho e, com isso, muitas pessoas procuraram a Secretaria do Meio Ambiente e a equipe de pesquisadores para relatar que em suas propriedades também tinham nascentes, e assim começou a identificação das 282 nascentes catalogadas até hoje.
Parceria
O trabalho ficou mais forte depois da parceria com a Emater – que já tinha iniciado um trabalho de recuperação de algumas nascentes antes da pesquisa de Corrêa iniciar – por meio do chefe do escritório local, Vicente Fin e de Rui Schwinn, servidor da Prefeitura que conhece bastante da área. “São dois grandes parceiros, se não fossem eles não teríamos todas estas nascentes recuperadas hoje”, ressalta.
Para começar a revitalizar algumas das nascentes se contou com a ajuda financeira da Prefeitura e parceiros que custearam recursos como a Sicredi e o Rotary Venâncio Aires Chimarrão, no qual Volnei também faz parte.
Uma das metas de Corrêa é ainda inscrever o comitê em um projeto do Rotary Internacional, para obter mais recursos e o projeto possa ser expandido ainda mais já que, segundo ele, o trabalho de revitalizar é pioneiro, pois nos demais municípios geralmente realizam apenas uma limpeza superficial.
Homenagem
No início deste mês, Corrêa foi surpreendido com um reconhecimento na Câmara de Vereadores por parte da vereadora Sandra Wagner (PSB). Uma Moção de Aplauso foi entregue ao professor aposentado, pela sua participação na recuperação de nascentes no município. “Ao receber a homenagem fiquei feliz pois vi ali que aquele trabalho de pesquisa que iniciamos ainda continua vivo. A homenagem foi para o professor Volnei, e se dependesse de mim, mais pessoas também estariam incluídas nesse reconhecimento, como Vicente e Rui”, reforça.
“Não sou o criador de nada, muito menos do comitê. Fui apenas um professor e pesquisador curioso que decidiu procurar pelas nascentes.”
VOLNEI ALVES CORRÊA
Pesquisador e professor aposentado
- Volnei Alves Corrêa é formado em Administração e Economia, com mestrado em Gestão Ambiental. Ele atuou como professor há mais de 40 anos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em função do seu trabalho, em 2017, foi criada a Lei 5.993/2017 que instituiu a Política Municipal do Pagamento por Serviços Ambientais.