Após cinco anos sem reuniões presenciais, inicia na segunda-feira, 5, e segue até o dia 10 de fevereiro, no Panamá, a 10ª Conferência das Partes (COP10), da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT), evento que reúne os países que ratificaram o primeiro tratado internacional de saúde pública da história da Organização Mundial da Saúde (OMS). Como se trata de uma conferência que discute o combate ao tabagismo, consequentemente coloca em pauta o futuro do tabaco, carro-chefe da economia dos municípios do Vale do Rio Pardo. É o caso de Venâncio Aires, que é o terceiro maior produtor de tabaco do Sul do país.
A COP 10 mobiliza diversos políticos e representantes de entidades brasileiras ligadas à cadeia produtiva do tabaco, que viajam neste fim de semana para a Cidade do Panamá. Entretanto, a exemplo de edições anteriores, a tendência é de não seja liberado o acesso para que esse grupo participe dos debates, nem mesmo como observadores.
Em função disso, lideranças do setor, deputados estaduais e federais pretendem cumprir uma agenda paralela de mobilizações, incluindo uma agenda com o embaixador do Brasil no Panamá, que é quem vai liderar a delegação nacional. Ao todo, delegados de 183 países participarão do evento, que ocorrerá no Centro de Convenções do Panamá. A Câmara Setorial do Tabaco, a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), a Associação dos Municípios Produtores de Tabaco (Amprotabaco), o Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), a Federação Nacional dos Trabalhadores das Indústrias do Fumo e Afins (Fentifumo) e a Associação Brasileira da Indústria do Fumo (Abifumo) estão entre as entidades que estarão representadas no Panamá, conforme levantamento da Folha do Mate. Além disso, quatro deputados estaduais e dois federais gaúchos estão confirmados e embarcam neste fim de semana, rumo ao país anfitrião da COP.
REUNIÃO COM EMBAIXADOR
A Afubra estará representada pelo vice-presidente Romeu Schneider (que também é presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Tabaco) e pelo tesoureiro Fabricio Murini. Para Schneider, mesmo não estando autorizado a participar das reuniões, sendo considerado “persona non grata”, é importante estar presente para tentar acompanhar as definições que serão tomadas. “Já temos, inclusive, reuniões marcadas, como com o embaixador do Brasil no Panamá, na quinta-feira, dia 8. Infelizmente, somos excluídos das discussões, apesar de sermos uma das partes mais interessadas, que é o lado do produtor, quando se discute produção. Todos os lados precisam ser envolvidos”, disse Schneider.
Para Murini, a presença da Afubra representa as mais de 130 mil famílias produtoras de tabaco do Brasil, principalmente, do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. “A produção de tabaco representa renda, não somente para as famílias que produzem, mas, também, para os municípios e estados produtores. Se olharmos alguns municípios, é expressiva a renda oriunda da produção de tabaco, que leva o desenvolvimento local. A médio prazo, não se enxerga uma alternativa à produção de tabaco que contemple esse universo de produtores.”, analisa Murini.
Presidente do SindiTabaco, Iro Schünke, lembrou que no ano passado ocorreu uma mobilização importante liderada pela Assembleia Legislativa e também agendas em Brasília que foram fundamentais para apresentar dados sobre a representatividade do setor para a economia brasileira, incluindo uma agenda com Geraldo Alckmin, que na ocasião era presidente da República em exercício. “Esses movimentos resultaram em posicionamentos positivos por parte dos ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário. A gente espera que esses movimentos surtam efeito na posição brasileira para que não sejam prejudiciais à cadeia produtiva as atitudes que serão tomadas. Toda e qualquer decisão aprovada lá e que o Brasil aplicar sempre vai acabar impactando na cadeia produtiva, desde o produtor até o final”, disse Schünke, ao lembrar que desde 1993, o Brasil permanece na liderança como maior exportador de tabaco do mundo.
MOP 3
Na sequência da COP 10 ocorrerá a 3ª Reunião das Partes do Protocolo para Eliminar o Comércio Ilícito de Produtos de Tabaco (MOP3), de 12 a 15 fevereiro. Nesta etapa do evento, o contrabando de cigarros será a principal pauta dos países participantes.
Relembre
- Os dois eventos internacionais estavam previstos para ocorrer em novembro, mas acabaram sendo adiados para fevereiro de 2024. O cancelamento ocorreu devido à preocupação com a segurança no Panamá, que na época enfrentava uma onda de protestos.
- A COP é realizada a cada dois anos, no entanto, em virtude da pandemia de Covid-19, a última conferência presencial ocorreu no ano de 2018 em Genebra, na Suíça.
“Representamos mais de 40 mil trabalhadores”
Quem também viaja para o Panamá neste fim de semana é o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Fumo e Alimentação de Santa Cruz do Sul e Região e da Federação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias do Fumo e Afins (Fentifumo), Gualter Baptista Júnior. Segundo ele, a representatividade dos trabalhadores das indústrias do tabaco no evento é de extrema importância. “Iremos unir forças para defender a nossa atividade legítima e organizada. Precisamos demonstrar que é grande a nossa preocupação com qualquer decisão que eventualmente seja tomada na Conferência das Partes, pois o reflexo delas poderá ser diretamente sentido na perda de postos de trabalho na indústria”, disse ele.
Conforme o presidente, as duas entidades representam mais de 40 mil trabalhadores. “A COP 10 pode, sim, prejudicar a produção de tabaco no Brasil, situação que tem impacto direto na contratação de mão de obra, por isso, é muito importante que tenhamos esta visão de participação para que o trabalhador tenha também a tranquilidade de que está representado em evento mundial.”
“Venâncio é um dos maiores produtores e exportadores de tabaco”
A produção de tabaco envolve 3,5 mil famílias em Venâncio Aires e, no período da safra, as indústrias do setor empregam quase 5 mil pessoas. Os mais de 7,7 mil hectares plantados na safra 2022/23, colocam Venâncio como o terceiro maior produtor de tabaco do Sul do país, atrás apenas da cidade gaúcha de Canguçu, e São João do Triunfo, no Paraná.
O ‘peso’ do tabaco em retorno financeiro para Venâncio também pode ser observado no Valor Bruto da Produção Agrícola (VBPA), no qual o tabaco representa quase 50%. É o tabaco que também coloca o município em destaque no ranking de exportação gaúcha: fechou o ano passado na sexta posição. Em 2023, as exportações movimentaram US$ 997 milhões, sendo 97% desse valor referente ao tabaco.
Esses números ilustram a importância da cultura para a economia do município de quase 70 mil habitantes. Prefeito de Venâncio Aires, Jarbas da Rosa, que é médico e já foi produtor de tabaco com a família, no interior do município, não viajará ao Panamá, mas afirma que estará atento aos debates e à mobilização dos representantes do setor. “Como Venâncio é um dos grandes produtores e também exportadores de tabaco do Brasil, nos interessa os temas que serão debatidos lá. Infelizmente, mais uma vez, nem todos os atores que estão envolvidos com o tabaco vão estar representados e poderão sentar e deliberar sobre este tema tão importante para nós, principalmente do ponto de vista econômico e social para Venâncio, para a região e para o Rio Grande do Sul”, lamenta. “Foi feito um trabalho intenso nos últimos meses para levantar dados, para estar levando e apresentando na COP10, junto aos nossos representantes oficiais, que, no caso, é o embaixador no Panamá e também os representantes do Governo Federal que vão estar sentando nas mesas de discussão”, acrescenta Jarbas, que também é vice-presidente da Associação dos Municípios Produtores de Tabaco (Amprotabaco). A entidade é presidida por Marcus Vinicius Pegoraro, prefeito de Canguçu, que não viajará ao Panamá. A entidade será representada pelo prefeito Alexsandro Kohl, da cidade catarinense de Aurora. De Santa Catarina também participará o deputado federal Rafael Pezenti (MDB-SC).
Folha do Mate e Terra FM terão cobertura multiplataforma
A Folha do Mate e a Rádio Terra FM se preparam para oferecer à audiência mais uma cobertura multiplataforma. A jornalista Letícia Wacholz embarca neste fim de semana para a Cidade do Panamá, para a cobertura internacional da 10ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT). Nas duas últimas COPs presenciais ela também foi a responsável pela cobertura para os dois veículos: em 2016 em Nova Dehli, na Índia e, no ano de 2018, em Genebra, na Suíça.
Como enviada especial, a editora da Folha do Mate e apresentadora do programa Folha 105 – 1ª edição, da Terra FM, será responsável por uma produção multimídia que contemplará reportagens para o jornal impresso, boletins de rádio pelo 105.1 FM e conteúdo para os sites folhadomate.com e asuaradio.com.br e também para as redes sociais do grupo de comunicação (Facebook e Instagram).