Carine atua como motorista da Chimatur desde outubro do ano passado (Foto: Júnior Posselt/Folha do Mate)
Carine atua como motorista da Chimatur desde outubro do ano passado (Foto: Júnior Posselt/Folha do Mate)

A confiança e a coragem fazem parte da vida de Carine Cornel Lopes. Com 32 anos, a mãe da Soffia e Maria Emanuelly tem chamado atenção pelas ruas de Venâncio: é motorista de ônibus na Chimatur. O olhar atento e a determinação fazem dela uma motorista exemplar, rompendo estereótipos, já que não é comum ver mulheres conduzindo veículos desse porte na cidade.

A nova rotina começou recentemente. Antes, ela já atuou em fábricas e também como instrutora de carro e moto no Centro de Formação de Condutores (CFC) Central. Em janeiro de 2024, deixou o emprego e resolveu trabalhar ‘na rua’. Como taxista, gostou do dia a dia e se descobriu dentro da profissão de motorista. Em agosto do ano passado, conseguiu habilitação para o curso de transporte coletivo (categoria D). “Eu estava muito feliz, mas daí começou o período para entregar meu currículo. Achei que seria difícil porque não tinha muita experiência e recém-tirado a habilitação”, conta.

Outubro foi o mês decisivo. Carine explica que começou a entregar currículos em várias empresas, especialmente de transportes, em busca de oportunidade. Passados poucos dias, a empresa Chimatur – responsável pelas linhas urbanas de Venâncio Aires – chamou para uma entrevista. “Logo já precisei deixar o táxi e assinei minha admissão”. O momento foi de comemoração na família. “Desde o início me senti em casa, sou grata por me abrirem as portas”, destaca Carine, que é a única motorista mulher da empresa de transporte coletivo.

No período posterior, passou a acompanhar as linhas de ônibus consideradas menores, especialmente as que contemplam funcionários de indústrias de tabaco. “A forma de pegar experiência e confiança é se desafiar”, considera.

Além de dirigir o ônibus, algo que exige muita atenção e cuidado, também é responsável pela cobrança da passagem. Os roteiros costumam iniciar ainda na madrugada, especialmente para fretamentos. Ao longo do dia, também faz linhas urbanas, interligando toda a cidade. “No começo tive muitos obstáculos, especialmente medo de bater ou arranhar algum veículo, pois o ônibus tem um tamanho maior”.

Realizações, desafios da rotina e o contato diário com os passageiros

Carine Cornel Lopes se mudou para Venâncio Aires com 12 anos. Ela, a mãe e o irmão saíram de São Gabriel e construíram a vida na Capital do Chimarrão. Apesar das duas décadas em que mora no município, no início do trabalho como motorista da Chimatur, tinha muita dúvida com relação a nomes de ruas ou bairros. “Conhecia somente algumas ruas da parte central, mas precisei estudar e memorizar até mesmo para entender os roteiros”, explica.

A condutora ainda comenta sobre as impressões do dia a dia. Majoritariamente, o público idoso costuma ter o ônibus como meio de transporte para se deslocar dos bairros para o Centro – ou vice-versa. Segundo ela, os passageiros ficam bastante surpresos ao verem que é uma mulher que está conduzindo o veículo. “Tem alguns que a gente vê que ficam receosos, e não tem como agradar todo mundo. Muitos já ligaram para a empresa e reclamaram. Outras pessoas brincam e me parabenizam”, relata.

Motorista de ônibus afirma que ama a rotina e que, para pegar experiência, é preciso se desafiar

Impressões de repórter

Na tarde da última terça-feira, 22, pude acompanhar Carine em um dos roteiros, que começa no Centro e abrange os bairros Coronel Brito, Bela Vista e Santa Tecla. É uma intensa rotina para cumprir com horários. No trajeto, é inevitável não perceber os olhares curiosos, outros desconfiados. E isso não por falta de habilidade, mas por puro costume de ver homens ocupando aquela posição. Carine é uma profissional muito competente e segura, na profissão que exerce com tanto amor.

No trajeto, conversei com Silvia Dias, moradora do bairro Battisti, e com Josiane da Silva Borre, que foi visitar os pais no mesmo bairro. Ambas com 37 anos, disseram não costumam andar de ônibus com frequência, mas se impressionaram ao verem que era uma mulher na condução. “Muito interessante. São as mulheres ocupando seus espaços e tendo os mesmos direitos. Muitas vezes não valorizadas. Fico surpresa, pois é com pouca frequência que temos a chance de vermos uma mulher nesse lugar”, diz Silvia.

Josiane e Silvia elogiaram a atuação de Carine como motorista

Parabéns, Carine, pela garra na direção e nessa direção que deu à própria vida.

Júnior Posselt – repórter

Júnior Posselt

Acompanha de perto o dia a dia da comunidade, com olhar atento ao interior e à educação.

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