História de Loreci Pagel Viccari – ex-moradora da Fazenda
No ano de 1971, meus pais Atalibio e Teresa Pagel se casaram e foram morar na Fazenda Julio Velho, que era administrada pelo falecido Arnaldo João Lindemann, localizada na Lomba Alta, no Cerro da Cria. No ano seguinte, eu nasci. Depois, vieram meus irmãos, Vaneci, Asuir e Luci. Vivemos muitos anos nesta localidade, pois meu pai era agricultor e trabalhava para o seu Lindemann na lavoura, plantando arroz, milho e soja, entre outros.
Também trabalhava na oficina que era do outro lado da rua onde morávamos, podíamos ir onde ele estava sempre. Seu Naldo, como também era chamado, era um senhor muito querido, gostava demais das crianças e sempre me pegava no colo. Certo dia, até comeu um pedaço de pão de minha mãozinha sujinha.
Alguns anos depois, chegou na Fazenda para morar o casal Lauro e Hildegard (Kati) Froemming, com seus dois filhos, Claudio e Marta, dos quais passamos a ser grandes amigos. Estudávamos juntos na Escola Municipal Santa Cecília, que foi construída pelo Arnaldo Lindemann e, depois da aula, brincávamos e jogávamos bola juntos, até tarde da noite. Pena que, na época, era muito difícil registrar esses momentos incríveis e inesquecíveis, pois eu adoraria ter várias fotos dessa época maravilhosa.
A fase do ano que mais gostávamos era o Natal, quando a dona Kati enfeitava um pinheiro na frente da casa com luzinhas e como não tínhamos enfeites natalinos iluminados, pela questão financeira, ficávamos na frente da árvore dela, contemplando, achando a coisa mais encantadora que existia. Talvez ela nem saiba o bem que nos fez.
Certa vez, na escola, o Flavinho, filho do Delavi, também morador das proximidades da Fazenda, e que estudava na mesma escola que nós, na hora do recreio, chutou as pernas da minha irmã Vaneci – e ele de bota de gaúcho. Imagina a dor dela. Daí nos juntamos e conversamos eu, a mana Vaneci, o mano Asuir e a nossa amiga Marta, e resolvemos derrubar ele do cavalo.
Fomos para casa. Ele tinha que passar na frente da nossa casa para retornar para a dele. Foi então que chamamos o nosso cachorro (Amigo) e esperamos o guri aparecer. Quando ele veio, atiçamos o Amigo nele e não deu outra: o cavalo o derrubou. Gente, pensa na nossa cabecinha de crianças, nos sentindo vingados (risos).

Só que não contávamos era que o pai dele iria até a nossa casa falar para nossa mãe. Mas, graças a Deus, não apanhamos naquele dia, mas foi por pouco. Vivemos tantas coisas legais nesse lugar. Também tinha o CTG Rancho Velho, que nós gostávamos muito de ir, e as festas de 9 de Maio da Comunidade Evangélica de Vale Verde, Vila Melos na época. Era uma expectativa para cada um dos eventos, que só acontecia uma vez por ano.
Lembranças da família Azeredo
Lembro com imensa saudade das brincadeiras, como no secador de arroz, onde era feita a secagem e armazenamento do arroz, o qual era todo plantado e colhido na Fazenda, pelos diversos empregados do seu Arnaldo. Subíamos nos carrinhos e uns empurravam os outros. Nosso amigo Ricardo Azeredo, era o mais forte, quase sempre tinha que nos empurrar. Também apostávamos muitas corridas, e eu corria muito, tanto que meu pai sempre dizia, e diz até hoje, que eu deveria ter sido uma atleta de maratonas.
Lembro que os pais do Ricardo Azeredo, dona Ana e o seu Paulo, já falecidos, eram muito queridos, principalmente a Ana, que sempre foi um doce de pessoa. Todas as vezes que fazia alguma receita, nos chamava para degustar. Uma pena não termos mais a chance de revê-la e abraçá-la.
E o João Algayer, irmão do Ricardo, já era um adolescente na época, mas eu o admirava e dizia que era meu namorado. Daí um dia a mãe contou para dona Ana e ela contou para ele. E olha só, ele comprou um tecido e disse para sua mãe me fazer um vestido, já que ela era costureira. Quando ela mandou o vestido e a minha mãe me disse, eu queria morrer de vergonha, pois eu era muito tímida.

A despedida
Na festa íamos a família toda: pais, filhos, tios, avós, amigos. Dançávamos até amanhecer e jantávamos no evento, também. Havia muitas guloseimas maravilhosas, tudo sem nenhuma maldade. Coisa linda, que tempo bom. Depois de tantas coisas vividas teve início um sentimento muito forte de tristeza, pois a fazenda estava sendo vendida. Seu Naldo chamou meu pai e disse que iria entregar as terras que foram arrendadas por aproximadamente 20 anos.
Lembro como se fosse hoje, meu pai chegou em casa triste e comunicou a família, que teríamos que nos mudar. Nessas alturas, muitas famílias já haviam deixado a fazenda. Então, meu pai conseguiu um emprego novo em Taquari e nos mudamos. Tenho nítido em minha memória o dia que saímos de lá. Lembro que quando passamos na frente da escola que estudávamos, eu chorei muito, como se tivessem arrancando um pedaço da minha alma.
Tudo isso que contei é apenas 1% do que vivi e poderia relembrar, mas já é o suficiente para fazer com que reviva um pouco de uma história que vai ficar comigo para o resto da vida. Sempre que podemos voltamos a cidade de Vale Verde, pois temos um enorme amor por ela. Também deixamos grandes amigos e parentes nessa terra tão querida, nossa querência, nossa terra natal.