A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomendam que a primeira mamada de um recém-nascido ocorra ainda na sala de parto, logo após o nascimento. Embora seja um consenso entre as entidades e um ponto de concordância entre diversos médicos, a iniciativa não chega a ser um procedimento de rotina nas maternidades.
“A amamentação é estimulada logo após o parto normal, sempre que possível, quando as condições maternas e do bebê são favoráveis. Nas cesarianas, em função da disposição dos campos cirúrgicos, às vezes não é possível”, explica a pediatra Liciane Guimarães.
“O bebê já tem o reflexo de sucção mesmo dentro do útero materno. Portanto, logo que nasce e é colocado próximo do seio da mãe, instintivamente ele vai sugar. A sucção estimula vários hormônios (como a prolactina e oxitocina) na produção de leite e na sua ejeção”, comenta. Além disso, o contato entre mãe e filho, o aconchego e a segurança do colo materno favorecem o estabelecimento do vínculo familiar.
O pediatra Vilson Gauer ressalta a importância da amamentação instantes após o parto, porém salienta que ela não é determinante na formação de vínculo. “O contato com o bebê é fundamental para formar vínculo e quanto antes ocorre é melhor, mas nada impede que as mães que entram em contato com o filho mais tarde, como nos casos de cesárea, também formem um bom vínculo”, diz.
A coordenadora de enfermagem do Hospital São Sebastião Mártir (HSSM), Lisane Emmel, lembra que a relação da mãe com a criança começa na gestação e prossegue com o nascimento, sendo o parto um marco deste processo.
Cesáreas
Conforme Liciane pondera, de modo geral a situação é diferente em casos de partos normais e de cesarianas. Todavia, ela cita a chamada cesárea humanizada, iniciativa que tenta afastar a frieza do centro cirúrgico e que prioriza a amamentação após a retirada do bebê do útero e da realização dos primeiros procedimentos pediátricos.
A ideia é deixar apenas a iluminação necessária no ambiente, evitando que a luz vá direto nos olhos do bebê, e manter a voz do obstetra como única, narrando o que acontece para a mãe. Além disso, a retirada da criança é lenta, para simular as condições de um parto normal, com seu pulmão sendo comprimido de forma semelhante à que ocorre no canal vaginal, o que ajuda a eliminar o líquido amniótico.
Após a saída do útero, o recém-nascido é colocado em contato com a mãe com o cordão umbilical ainda pulsando, para que os dois possam ter o primeiro contato externo.
A cesárea humanizada surge diante de índices alarmantes. Segundo a OMS, 15 milhões de bebês nascem cedo demais e um dos motivos é justamente a banalização deste tipo de parto.
Dados municipais apontam que 65% dos partos realizados no HSSM em 2011 foram cesarianas, número mais de quatro vezes superior ao indicado.
Humanização
O objetivo principal do parto humanizado é proporcionar à gestante o direito natural e básico de ser a dona do seu parto, escolhendo a posição mais confortável para si, permitindo que o pai participe diretamente, amparando e massageando a mãe. A partir da humanização o recém-nascido passa por uma experiência acolhedora e tem um nascimento com a menor quantidade possível de intervenções médicas ou farmacológicas.
O processo de assistência é centrado na mulher e na sua fisiologia. Tudo aliado a um ambiente calmo e tranquilo, com privacidade e respeito ao ato de gerar e de nascer.
Mais detalhes na edição impressa de 25/05/2012.