Amigos, colegas e entidades destacam a trajetória de João Paulo Heck

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O Patrão Velho de todas as alturas chamou para a Invernada Celeste, no dia de São João Batista, mais um tropeiro. Aquele que, antes mesmo do florear do sol, dava o “bom dia” firme, com uma voz marcante que ecoou pelas ondas do rádio nos últimos 45 anos. Despacito, despertava o seu ‘Venâncio de Oliveira Aires’ todas as manhãs. Entre manchetes, trovas e uma cuia de mate, anunciava a previsão do tempo e novidades do dia.

O tom tranquilo, o jeito único de comunicar e o vocabulário característico, por conta do envolvimento com o tradicionalismo, fizeram de João Paulo Heck um dos nomes mais conhecidos da comunicação de Venâncio Aires e região. Na manhã dessa terça-feira, 24, aos 65 anos, ele faleceu vítima de um câncer, contra o qual lutava há cerca de três anos. O companheiro das madrugadas se recolheu para o repouso eterno. Foi chamado para uma ‘nova estância’.

Além da esposa Rosane Cardoso Heck, das filhas Joana e Lilian, e do neto Joaquim, deixou enlutada toda a comunidade, que acompanhou de perto sua trajetória na Rádio Venâncio Aires (RVA), por mais de quatro décadas. O velório ocorreu na Câmara de Vereadores, sendo aberto ao público às 5h de hoje, mesmo horário de abertura do tradicional programa apresentado por João Paulo. À tarde, o corpo foi levado ao Crematório Regional Memorial Organização Kist. O prefeito Jarbas da Rosa decretou luto oficial do Município por três dias.

João Paulo estava internado no Hospital Santa Rita, em Porto Alegre, desde o fim de abril. “Foi incansável na luta contra a doença, mas acabou sendo vencido”, lamenta o coordenador de Jornalismo da RVA e vereador Jeferson Schwingel, o GP, parceiro das madrugadas do comunicador na emissora. Ele também o define como um “professor” para todos aqueles que tiveram convivência. “Tudo isso mostra o quão grande ele foi”, considera.

A admissão na empresa de radiodifusão foi assinada por João Paulo no dia 19 de novembro de 1979. Desde então, atuou como sonoplasta e apresentou uma série de programas – entre eles o Despertador, de segunda a sexta-feira, entre as 5h e 7h, que comandou até recentemente. “Um humor ímpar, credibilidade e uma forma de comunicar que só ele tinha”, sintetiza GP.

“Eu levo no coração essas coisas boas do João Paulo. Com um grande caráter e respeito com as fontes. Ele não pensava em dar uma notícia em primeira mão, mas com credibilidade. Quem conviveu com ele sabe desse legado tão bonito. O ouvinte de rádio vai sentir muita saudade”, comenta.

A dedicação ao jornalismo local é outra característica marcante de João Paulo. Acompanhava de perto as movimentações do Executivo e do Legislativo. Com seus 45 anos ligados ao jornalismo, noticiou os principais acontecimentos do período. Todos os dias ia a pé até a Prefeitura, com caneta e papel na mão, para ver o que tinha de novidade. No caminho aproveitava para cumprimentar os ouvintes. “Além de um locutor, foi um grande ser humano, apaixonado por Venâncio Aires. Sempre será lembrado pelo tom conciliador e espírito de equipe”, resume o prefeito Jarbas da Rosa.

Fé na vida

Colega de João Paulo desde o início da trajetória na rádio, a vendedora Ieda Biguelini define o comunicador como uma pessoa muito correta, simples, simpática e amiga de todos. “Sempre foi do bem, gostava de estar com a família e era apaixonado pelo trabalho”, afirma. Ela recorda que conheceu João Paulo ainda nos grupos de jovens da Paróquia São Sebastião Mártir. Católico, com frequência participava das missas na Igreja Matriz e era sócio da Comunidade São Lucas, do bairro Aviação. Também fez parte do Movimento de Cursilhos de Cristandade (MCC).

Nos bastidores, sempre demonstrou sua paixão pelo ‘fazer rádio’ e afirmava com veemência que era esse o alicerce que o mantinha. Colega por cerca de 43 anos do comunicador, José Raimundo Kuhn conta que João Paulo foi incansável no combate ao câncer. Após algumas internações, sempre retornava “com gosto de trabalhar” na emissora. “Ele não se queixava, mas sabemos que passou muita dor nesta caminhada”, afirma. Zé lembra que conversou com ele no Dia das Mães e mais uma vez se surpreendeu com a fé do comunicador: “Ele estava internado e me disse que a ‘lida’ não seria fácil, mas afirmou que não tinha medo e nem temor daquilo que teria que enfrentar.”

“O João Paulo era apaixonado pelo rádio. No tempo em que estava em tratamento, o trabalho tinha efeitos melhores do que passar na farmácia. Trabalhar era um remédio na vida dele.”

IEDA BIGUELINI
Colega de trabalho

Uma vida dedicada ao tradicionalismo

Junto com a paixão pelo rádio, o envolvimento com o tradicionalismo é outra marca deixada por João Paulo Heck. A pilcha sempre estava pronta para ir aos rodeios, muitos deles com transmissão pela RVA. Aos amigos e colegas, sempre relatava as ‘andanças’ de quando era mais novo. Entre os momentos mais lembrados, está o acompanhamento do acendimento da Chama Crioula na ponte de Vila Mariante, quando também coordenou, junto com Ademar Biguelini, a 1ª cavalgada do CTG Erva-Mate, em busca da centelha.

Além disso, junto de Biguelini e demais membros da entidade, coordenou as duas primeiras Semanas Farroupilhas de Venâncio Aires. Também foi membro da patronagem do Erva-Mate, depois da instalação da sede no Parque do Chimarrão. Era sócio benemérito do Piquete Cavaleiros da Estrada. João Paulo também teve homenagens do CTG Querência da Mata, de Mato Leitão, e do PTG Estância do Sobrado, de Passo do Sobrado.

Essa ligação também trouxe outro reconhecimento importante: foi escolhido patrono da Semana Farroupilha de 2013, de Venâncio Aires. Na época, foi homenageado ao lado do narrador de rodeios Vilnei Ferreira. Em 2016, recebeu o título de Cidadão de Venâncio Aires, da Câmara de Vereadores. Nascido em Santa Cruz do Sul no dia 29 de julho de 1959, logo depois os pais vieram para o município, na região de Linha Brasil.

“Tive o prazer de conviver com o João Paulo no meio tradicionalista. Uma pessoa muito imparcial e com inteligência de poucos, sempre querendo agregar conteúdo com valor”, declara o integrante do Departamento de Cavalgadas do CTG Erva-Mate, Rodrigo Schuh, companheiro de muitas cavalgadas. “Um ícone da comunicação e um grande parceiro do CTG”, complementa a patroa da entidade, Estela Ferreira.

A morte do radialista, conforme a coordenadora da 24ª Região Tradicionalista, Luce Carmen Mayer, é significativa, pois foi um importante divulgador dos eventos locais e regionais, além de incentivador. “Sentiremos a falta do homem que, com sua voz firme e acolhedora, deu vida ao tradicionalismo gaúcho pelas ondas do rádio”, lamenta, ao ressaltar a atuação junto às entidades. Por um período, foi colunista da Folha do Mate, com conteúdos relacionados ao meio tradicionalista.

“Não era apenas um comunicador, mas um elo entre as gerações, entre o campo e a cidade, entre a história e o presente.”

LUCE CARMEN MAYER
Coordenadora da 24ª Região Tradicionalista

Primeiro casamento no estilo crioulo

O casamento de João Paulo e Rosane ocorreu em 19 de janeiro de 1985, véspera do Dia de São Sebastião Mártir. Foi o primeiro no estilo crioulo realizado em Venâncio Aires, com base no ritual escrito pelo padre Paulo Aripe. Enquanto a noiva chegou de charrete, ele compareceu a cavalo. A cena diferente e repleta de simbolismo movimentou a cidade.

Programas tradicionalistas

  • Isto é integração: criado em junho de 1980
  • Despertador: criado em 1981 e no ar até hoje, de segunda a sexta-feira, das 5h às 7h
  • Estampa Nativa: criado em 1981 e no ar até hoje, aos domingos, das 7h às 11h
  • Rio Grande Tchê: criado no início dos anos 90
  • Na Boca da Guaiaca: criado em 2007, permaneceu por cinco anos no ar, das 17h30min às 19h

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