
Venâncio Aires - Foi realizada no sábado, 13, no Centro de Venâncio Aires, uma caminhada promovida pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). O movimento ocorreu na semana em que o Governo Federal alterou as normativas que colocavam em risco o funcionamento das Apaes. Na prática, com a Política Nacional de Educação Especial Inclusiva, antes da atualização, os estudantes deveriam participar de turmas de escolas comuns, sem ajustes específicos, somente prevendo o compromisso de serem respeitados pelas diferenças. Com a mudança, foi retomado o direito de escolha, o que foi considerado um passo importante pela Apae local.
Com alunos atuais, ex-alunos, pais e comunidade em geral, muitas pessoas foram até a Praça Evangélica levar apoio ao trabalho da escola, o que emocionou a diretora Grazieli Winkelmann. “No dia 8 de dezembro, o Governo Federal anunciou um novo decreto que, graças a Deus, alterou o outro texto e trouxe novamente o poder de decisão sobre a matrícula escolar dos filhos para a família, dentre outras questões que foram melhoradas. Nós decidimos manter a caminhada como uma forma de vitória, mas também para valorizar o trabalho da instituição, o direito das famílias, o direito da pessoa com deficiência.”
Grazieli lembrou que 3 de dezembro é o Dia Internacional da Pessoa Com Deficiência e 11 de dezembro Dia Nacional das Apaes. Para ela, reunir todas essas todas e realizar a caminhada, foi uma forma de valorizar as instituições. “É para a gente se fortalecer cada vez mais. Então a gente vê o quanto Apae é importante na vida das pessoas, vendo quantos alunos e familiares vieram apoiar. Isso faz a gente se motivar a lutar cada vez mais.”

“Estar todos juntos não significa que seria uma inclusão”
Entre os que participaram da caminhada estava o agricultor Lairton Alff Vargas, 52 anos, morador de Vila Estância Nova, e a esposa Deise, 49. Eles são pais de Maria Luísa, 14, que vai na Apae de Venâncio desde os 11 meses. “A gente vê o atendimento diferenciado dentro da Apae. Não que o colégio regular não consiga fazer, mas seria difícil por causa da quantidade, isso iria prejudicar tanto o aluno regular, quanto o aluno especial. Essa diferenciação já é uma inclusão por si só. Estar todos juntos não significa que seria uma inclusão. A inclusão pode ser feita em etapas”, avalia Vargas, que também é o coordenador de Famílias do 8º Conselho do Vale do Taquari das Apaes.
Maria Luísa foi alfabetizada com 13 anos e, segundo Deise, a filha é tão especial que tem várias síndromes raras. “A predominante é a Síndrome de Noonan, é uma condição genética que afeta o desenvolvimento e toda parte motora. A Maria Luísa foi caminhar com 3 anos de idade, então ter esse acompanhamento diário na Apae e em todos esses anos, foi muito importante.”

“A Apae foi tudo para nós”
Além de alunos atuais, ex-estudantes acompanharam a caminhada no sábado, como Carolina Müller, 22 anos, e a mãe, Cláudia, 53, moradoras do bairro Brígida. Carolina estudou na Apae de Venâncio dos nove meses até os 10 anos e depois houve a tentativa de frequentar uma escola regular. “Sofri muito bullying e no 6º ano, quando não consegui completar, era muita professora, eu não conseguia copiar rápido e os alunos encostavam em mim e diziam ‘os germes da Carol, germes da Carol’. Eu sofri muito”, relata Carolina.
Para Cláudia, a filha ter estudado na Apae foi fundamental. “Ela tem um atraso mental de nascença, então foi muito importante ela ter ido esses 10 anos na Apae. A Apae foi tudo para nós, onde ela deu os primeiros passos e teve o aprendizado.”
Saiba mais
A mudança por parte do Governo Federal foi resultado de um acordo entre Ministério da Educação e Senado. O senador Flávio Arns (PSB-PR) havia apresentado um decreto legislativo para sustar os efeitos do antigo texto sobre a educação especial. Houve negociação, inclusive com as Apaes. O parlamentar retirou o texto de tramitação e o governo alterou a política sobre educação inclusiva.
O novo texto publicado pelo Governo Federal também assegura a distribuição de recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais de Educação (Fundeb) para a educação especial, como já acontece em Venâncio Aires.