O Rio Grande do Sul segue o processo de reconstrução após o conturbado mês de maio, marcado pelas maiores enchentes já registradas no estado. Em meio a isso, já é nítido o novo formato de cursos de água, como rios e arroios. Em Venâncio Aires, na região de Vila Mariante, o rio Taquari rompeu a margem anterior e agora se aproxima da ERS-130, enquanto que o arroio Castelhano, na região serrana e urbana da Capital do Chimarrão, também mostra alterações.
Conforme o biólogo e professor do Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Andreas Köhler, os rios se tornaram mais rasos e largos, preenchidos com sedimentos, e os barrancos laterais mostram efeitos de erosão. “Estas mudanças vão impactar nos próximos eventos de enchentes (tornando mais fáceis de acontecer), bem como mudarão a flora e fauna dos ambientes”, explica.
Köhler cita que peixes de fundo dos rios, como jundiás, bagres e pintados, terão mais dificuldades em decorrência do lodo e das águas mais rasas, e espécies de águas abertas terão mais facilidades de desenvolvimento. Segundo ele, é cedo para definir os efeitos a longo prazo e, ainda que seja improvável que espécies desapareçam, devem ocorrer mudanças na composição dos peixes.
O maior problema, conforme o professor, é o lodo, que impactou na ocorrência dos peixes, principalmente aqueles de fundo dos rios e arroios. “Além disso, animais foram levados para lugares alagados e não conseguiram voltar, presos em poças. Deve demorar anos para restabelecer as populações.”
Espécies exóticas
Quem pode se expandir em decorrência das áreas alagadas são espécies exóticas e que não são naturais da região. É o caso das palometas, conhecida também como piranha-vermelha (Serrasalmus Maculatus), que são peixes carnívoros de água aberta e naturais da bacia do rio Uruguai, que atravessaram o Rio Grande do Sul nos últimos anos. “Agora, elas podem ter se espalhado em qualquer corpo de água e, com essas novas condições, é provável que sejam beneficiadas”, destaca.
As palometas são originárias de regiões como o pantanal do Centro-Oeste brasileiro, locais que, corriqueiramente, são marcados por enchentes. “Ou seja, são características das quais estão acostumadas”, afirma o professor. Além delas, existem também carpas, bagres americanos e tilápias, exóticas na região mas que, devido as enchentes e o rompimento de açudes, podem ter sido liberadas na natureza. “Essas espécies devem estar cada vez mais presentes.”
As características das palometas são parecidas com as piranhas de água salgada, mas a principal diferença é a cabeça, que é mais triangular. Contudo, o professor Andreas Köhler enfatiza que, se as palometas têm comida no habitat, não há risco para os seres humanos. O maior foco da espécie são outros peixes, principalmente aqueles capturados em redes.