Após o susto, o reencontro em ‘terra firme’; casal relembra drama na enchente de Vila Mariante

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A noite e madrugada da terça-feira, 5 de setembro, foram de tensão para Clécio Espíndola, conhecido como Galo. Morador de Vila Mariante, ele, que também é vereador pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), auxiliava no resgate a famílias ilhadas com a cheia do rio Taquari, quando tombou a embarcação em que estava e acabou isolado na própria residência, sem comunicação com familiares e amigos.

Antes disso, ainda na segunda-feira, 4 de setembro, ele anunciava para todos que seria uma enchente de grandes proporções, pois recebia notícias de amigos moradores de municípios nas cabeceiras do rio Taquari/Antas. “Inclusive, falei na Câmara de Vereadores sobre, tentando avisar o maior número de pessoas”, relembra.

Calejado por ter vivenciado mais de 10 enchentes ‘graúdas’ em Mariante, Galo recebia as mensagens com pedidos de ajuda dos moradores e ajudava na localização, ao lado de bombeiros e voluntários. No entanto, próximo das 17h de terça-feira, junto de um bombeiro e um voluntário, trocou para uma embarcação mais leve, com o objetivo de alcançar um ponto mais baixo e foi quando houve o tombamento.

Em frente ao antigo prédio da Escola Estadual de Ensino Médio (EEEM) Mariante, ele precisou se atirar na água até chegar ao ginásio do educandário e, posteriormente, foi pulando de cerca em cerca até chegar na Santinha, onde encontrou uma mangueira de água (dos bombeiros) para alcançar a sua casa.

Em casa

Ainda que estivesse a salvo, Galo estava sem comunicação, pois havia perdido o celular na queda. A principal preocupação agora se tornava a impossibilidade de ajudar os demais moradores e, também, como informar que estava fora de perigo. Com o nível do Taquari subindo, ele chegou a dormir por algumas horas, até ser acordado por um forte barulho, por volta das 20h. “A água arrebentou o muro do vizinho e levou a parede do mercado [do qual é proprietário] e de algumas casas também. Acabei preso dentro de casa, com água na altura do peito”, recorda.

Após o susto, a única solução era esperar. Quando amanheceu, conseguiu contato com um vizinho e pôde se comunicar com os familiares. Com isso, foi resgatado por um morador com jet ski e retornou a sua ‘missão’ daquele dia, auxiliar nos resgates. “Precisava ajudar as pessoas, enquanto estava preso ficava pensando em como eles iam reagir, já que eu não atendia o telefone”, relata.

Do lado de fora

A esposa Giovana da Costa Espíndola e os filhos Maikiel e Guilherme aguardavam notícias de Galo. A esposa demorou a receber a informação, pois o marido havia ligado antes de perder o celular, e a preocupação começou quando viu uma postagem no Facebook de que Galo estava desaparecido e ninguém tinha notícias. “Comecei a entrar em contato com quem estava no trevo, para ter notícias”, relata.

A ansiedade durou pouco, pois rapidamente foi informada de que estava tudo bem, só que não se sabia em que residência ele ficou. O mais preocupado era Guilherme, que está em Curitiba, no Paraná, e não acreditava que o pai havia se salvado. “Ele pensava que estavam mentindo, para não contar a verdade. Só acreditou quando escutou o pai novamente”, afirma Giovana. Após Galo ser resgatado, a família se reencontrou, ainda no trevo de acesso a Vila Mariante e voltou a ajudar outras vítimas da enchente.



Leonardo Pereira

Leonardo Pereira

Natural de Vila Mariante, no interior de Venâncio Aires, jornalista formado na Universidade de Santa Cruz do Sul e repórter do jornal Folha do Mate desde 2022.

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