Na sexta-feira, 1º de março, a diretora da Escola Estadual Ernesto Alves de Oliveira, de Santa Cruz do Sul, Janaína Venzon, publicou vídeo nas redes sociais criticando a linguagem da obra literária ‘O Avesso da Pele’, do escritor Jeferson Tenório, integrante do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do Ministério da Educação (MEC). Segundo ela, a obra traz “palavras de baixo calão”. Após repercussão, a 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) anunciou o recolhimento dos 200 exemplares distribuídos na escola, contudo, posteriormente, a Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul (Seduc-RS) informou que o livro não deve ser retirado das bibliotecas de escolas estaduais.
A obra, que passou a fazer parte do PNLD em 2022, é um romance sobre identidade e as complexas relações raciais, vencedor do Prêmio Jabuti, em 2021, na categoria romance literário. A Seduc-RS destaca que a escolha do livro é feita pelas equipes gestoras dos educandários, de forma democrática, conforme priorização de faixa etária dos alunos, etapa de ensino, realização de projetos pedagógicos e contextualização prévia do material trabalhado em sala de aula.
Em Venâncio Aires, as duas principais escolas estaduais – Monte das Tabocas e Cônego Albino Juchem (CAJ) -, não possuem o livro. De acordo com a diretora do Monte, Marinêz Weizenmann, a escola não tem o livro no acervo, pois foi dada a opção dos alunos de Ensino Médio escolherem as obras que seriam recebidas e a opção foi por conteúdos voltados a vestibulares e ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “E, como não li a obra, prefiro não comentar sobre o conteúdo dela”, disse.
Já a diretora do CAJ, Claudia Neumann, considera importante aguardar o desenrolar dos fatos, pois a situação não envolve diretamente a escola. “Além disso, não tenho propriedade para me pronunciar sobre situações das quais não estou inteirada”, destacou.
Livros mantidos
Por meio de nota, a Seduc-RS afirmou que não orienta que a obra ‘O Avesso da Pele’, de Jeferson Tenório, integrante do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do Ministério da Educação (MEC), seja retirada de bibliotecas da rede estadual de ensino. “O uso de qualquer livro do PNLD deve ocorrer dentro de um contexto pedagógico, sob orientação e supervisão da equipe pedagógica e dos professores. A 6ª CRE seguirá a orientação da secretaria e providenciará que as escolas da região usem adequadamente os livros literários”, diz o comunicado.
O Ministério da Educação (MEC) destacou, também em nota, que o PNLD tem mais de 85 anos de existência e adesão de 95% das redes de ensino do Brasil. Além disso, afirmou que a permanência no programa é voluntária, de acordo com a legislação, e que preza pela autonomia das redes e escolas. “Essas obras são avaliadas por professores, mestres e doutores, que tenham se inscrito no banco de avaliadores do MEC”, ressaltou o ministério.
Repercussão
• Em vídeo publicado, a diretora Janaína Venzon, declarou: “Não está tudo bem. Vejamos o conteúdo e o vocabulário do texto [cita trechos do livro com palavrões]. Lamentável um Governo Federal mandar um livro com esse tipo de linguagem, para trabalhar com adolescentes dentro de uma instituição de ensino. Por favor, deixem que a escola cuide de seus alunos, com bons valores, conduta, conceitos e ética. Vindo de um Governo Federal, é nojento.”
• O autor da obra ‘O Avesso da Pele’, Jeferson Tenório, utilizou as redes sociais para se posicionar sobre o assunto. “As distorções e fake news são estratégias de uma extrema direita que promove a desinformação. O mais curioso é que as palavras de ‘baixo calão’ e os atos sexuais do livro causam mais incômodo do que o racismo, a violência policial e a morte de pessoas negras. Não vamos aceitar qualquer tipo de censura ou movimentos autoritários que prejudiquem estudantes de ler e refletir sobre a sociedade em que vivemos”, escreveu.
•A Companhia das Letras, editora do livro, também manifestou, em redes sociais, a indignação com a decisão da retirada dos livros – que já foi revertida. “Repudiamos veementemente qualquer ato de censura que limite o acesso dos estudantes a obras literárias sob pretexto de protegê-los de conteúdos considerados ‘inadequados’ por opiniões pessoais e leituras de trechos fora de contexto”, divulgou.