Quem abriu as redes sociais nos últimos dias deve ter se deparado com a nova ‘febre do momento’: o morango do amor. Preparado com uma fruta que é tradicional no país, o doce vem com uma série de combinações, como brigadeiro branco e calda caramelizada, que remete à maçã do amor. A novidade caiu no gosto dos brasileiros. E é nessa procura, que confeiteiros e empreendimentos relacionados a esse meio veem uma oportunidade de geração de renda.
Segundo o proprietário da Padaria Schuh, Junior Schuh, a produção começou na unidade de Lajeado na terça-feira, 22. Devido à alta demanda, no sábado, 26, a fabricação passou a ocorrer também em Venâncio Aires. “Foi uma demanda muito rápida. Produzimos inicialmente apenas 30 unidades, depois fizemos mais 30 e, em questão de cinco minutos, todas já tinham sido vendidas. Se tivéssemos feito 200, teriam sido vendidas em menos de uma hora”, relata.
A demanda pelos morangos do amor foi identificada pelas plataformas digitais, mas também pela procura nas unidades. Schuh destaca que ontem não foi possível disponibilizar a sobremesa para venda por causa da falta de morangos.
A produção de outros produtos à base de morango para venda também foi restringida, pois não havia mais frutas para a produção. Hoje, está prevista a chegada de uma nova carga para dar continuidade às vendas. “Para o morango do amor, precisamos que a fruta tenha um tamanho adequado. Já os restantes vamos usar para as demais receitas”, explica.
Junior Schuh também observa que o preço pago pelo quilo do morango aumentou nos últimos 15 dias. “Hoje chega a R$ 45 enquanto há duas semanas era cerca de R$ 30”.
Cerca de 1 mil unidades comercializadas
Até o início da semana passada, a confeiteira Carine Eisermann, da Cakes da Cah, somente acompanhava o crescimento da sobremesa nas redes. Tudo mudou quando recebeu um pedido especial: “Era uma gestante que disse estar com muita vontade. Eu aceitei fazer e ela topou ser a ‘cobaia’. Mandei o doce e ela aprovou”, conta.
Desde então, Carine viu as vendas dispararem, tanto nas duas unidades da cidade quanto pelo delivery. Ela estima já ter vendido cerca de 1 mil unidades, cada uma a R$ 15. “Foi um sucesso. O movimento aumentou bastante. Muitas pessoas vêm conhecer nossa loja por causa do morango do amor. Nosso WhatsApp e Instagram estão lotados de mensagens”, comemora.
Bolha nas mãos
A calda usada no preparo é a mesma da maçã do amor. Ela atinge uma temperatura muito alta e, durante o processo para esquentar, estouram algumas bolhas nas mãos da confeiteira. “Uma marca que fica na gente por causa do morango do amor. Todo o cuidado é pouco, é bem difícil fazer e deixar a calda no ponto”, explica.
A receita leva açúcar, água, vinagre, corante e glitter, que dá brilho ao doce em formato de morango. A mistura demora cerca de 45 minutos para atingir os 150 °C considerados ideais. Durante esse tempo, os morangos são higienizados, envoltos por uma massa de brigadeiro, espetada em palitos e moldados como coxinhas. Ao atingir o ponto certo, a fruta é banhada rapidamente na calda.
O processo precisa ser ágil, pois a calda endurece rápido. Após a cristalização, os morangos recebem embalagens e são decorados com o cálice, as folhas verdes, acrescentando charme à sobremesa. “É um doce que chama atenção de todos os públicos, desde crianças até adultos”, comenta Carine.
Morango x maçã do amor
Apesar de semelhantes, o morango e a maçã do amor têm diferenças. O morango é mais sensível e, com a umidade do brigadeiro, deve ser consumido logo após a compra. “Isso garante toda a experiência para o cliente”, explica a confeiteira Carine Eisermann. Já a maçã do amor se conserva por mais tempo, mantendo o sabor e a crocância.
Em Venâncio, produção do morango inicia na quinzena de agosto
A popularização do morango do amor ocorre fora da safra da fruta. A baixa oferta e a alta demanda tendem a elevar o preço. Atualmente, as plantas estão em desenvolvimento, no início da floração. Segundo a Emater, em Venâncio Aires e região, a produção inicia na segunda quinzena de agosto e segue até meados de novembro.
Conforme a extensionista rural Djeime Janish, a produtividade se manteve abaixo da expectativa nas últimas duas safras. O morango é extremamente sensível ao clima, sendo prejudicado por excesso de umidade e falta de sol.
A expectativa para este ano é uma colheita de cerca de 70 toneladas. “O morango prefere temperaturas entre 12 °C e 28 °C. Venâncio Aires não é uma região ideal, mas a produção é possível, sendo tradicional na Serra Gaúcha”, pontua a engenheira agrônoma.
Ela acrescenta que, embora algumas famílias tenham na fruta sua principal fonte de renda, a maioria a utiliza como complemento. “É uma cultura desenvolvida principalmente por mulheres. Exige manejo constante, mas não é um trabalho pesado. Elas têm um olhar atento e sensível”, ressalta.
Entre os 48 produtores de morango no município está a agricultora Carina Pires, de Linha Antão. Ela comenta sobre a expectativa positiva para a safra deste ano e reforça a ‘torcida’ para que o morango do amor siga fazendo sucesso, quando a produção estiver no pico. “Vai ser um ano muito bonito, uma safra boa. E que esse morango do amor perdure por um bom tempo, para que todos possamos colher, entregar e saborear as delícias das confeiteiras de Venâncio Aires.”
48 – é o número de famílias que cultivam morango comercialmente em Venâncio Aires, em uma área de aproximadamente 1,3 hectare.
Ponto de vista nutricional
Para a nutricionista Taciane Oliveira Reiter, o visual do morango do amor é um dos grandes atrativos. A cor vermelha e a calda brilhante despertam o desejo e remetem a memórias afetivas. “Mas é importante refletir se não estamos apenas seguindo o efeito manada, fazendo o que todos fazem”, alerta.
A profissional reforça a importância de consumir o doce com equilíbrio. “Um morango do amor na alimentação não vai fazer um estrago, mas a consciência alimentar é necessária para fazermos escolhas com equilíbrio.”
De olho na dieta
O morango é rico em vitamina C, fibras e antioxidantes. Porém, o brigadeiro e a calda acrescentam calorias e açúcar, incluindo ingredientes ultraprocessados. Ainda que um doce de vez em quando na dieta não faça mal, o cuidado com o excesso de açúcar deve ser constante.