Foto: Alan Faleiro / ArquivoFMPara economizar, população tem recorrido aos postos de saúde para trocar receitas e pedidos de exames após consultar na rede privada
Para economizar, população tem recorrido aos postos de saúde para trocar receitas e pedidos de exames após consultar na rede privada

Os planos de saúde médico-hospitalares perderam 766 mil usuários no Brasil em 2015, de acordo com o boletim Saúde Suplementar em Números, do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), divulgado segunda-feira, 7. Em 2014, eram 50,50 milhões. No ano passado, o número caiu para 49,73 milhões, o que equivale a uma diminuição de 1,5%. Os dados são reflexo da crise econômica e demonstram que cresce a dependência do Sistema único de Saúde (SUS).

Em Venâncio Aires, é possível notar uma migração de usuários da rede particular para o sistema público junto aos postos de saúde de Venâncio Aires. Segundo a secretária adjunta de Saúde, Rosane da Rosa, um fato cada vez mais comum é o paciente que costuma buscar atendimento junto à rede privada, após obter a indicação da necessidade de realizar algum tipo de cirurgia ou exame, recorrer aos postos de saúde com o objetivo de trocar receitas e pedidos de exames e, assim, economizar por meio dos medicamentos e serviços ofertados de forma gratuita.

Como a simples troca não é aceita, explica, o paciente precisa passar por consulta na rede pública para obter uma nova requisição, desta vez pelo SUS.

Para Rosane, esse comportamento está ligado à crescente dificuldade financeira da população e ao custo elevado dos serviços de saúde. Ela acrescenta que mesmo quem possui algum tipo de convênio acaba por recorrer à rede pública porque o seu plano de saúde não cobre muitos dos procedimentos que o usuário necessita.

De acordo com a secretária adjunta, a migração para o SUS ocorre, principalmente, com o objetivo de obter exames especializados de forma gratuita, como ecografias, mamografias e tomografias.

Ela ressalta que o aumento da demanda na rede pública não é acompanhado pela ampliação do recursos financeiros repassados pelo Ministério da Saúde, o que exige uma participação cada vez maior do Município no financiamento do serviço.

Assim como os postos de saúde, a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA 24h) registra uma constante elevação do número de atendimentos. De acordo com o coordenador da UPA, Rodrigo Silva, só nos dois primeiros meses deste ano, na comparação com a média mensal de 2015, houve um aumento de cerca de 10% na demanda, no entanto, não sabe precisar se os usuários são oriundos da rede privada ou de algum tipo de convênio, porém, o que consegue afirmar é que a unidade recebe pessoas de diferentes classes sociais.

Hospital mantém média de atendimentos pelo SUS

Até o momento, o Hospital São Sebastião Mártir (HSSM) não registrou nenhuma alteração relacionada ao aumento pela procura de serviços via SUS. Segundo o administrador Jonas Kunrath, os dados estatísticos do Hospital mostram que nos últimos dois anos o percentual de atendimentos realizados pelo SUS ficou em torno de 67%. Nesse percentual, estão considerados todos os atendimentos realizados no Hospital, sejam estes internações, cirurgias, atendimentos ambulatoriais e exames complementares realizados no HSSM.

“Num cenário mais amplo, em cidades e regiões onde se possam comprovar o efetivo aumento da procura por serviços de saúde pelo SUS, toda essa migração de novos pacientes, que antes acessavam os serviços de saúde privados, seja pela utilização de um convênio médico-hospitalar ou mesmo de forma particular, dificultará ainda mais o trabalho dos gestores públicos”, diz Kunrath.

Ele ressalta que a demanda por atendimentos já é bastante grande se comparada à oferta de serviços, principalmente quando o atendimento necessário é de algum médico especialista ou de um exame mais complexo, bem como quando o paciente precisa ser referenciado para outra cidade ou região. O administrador explica que o usuário é incluído em regras de regulação determinadas pelo SUS, mas a equação ‘oferta X demanda’ nem sempre tem um resultado adequado às necessidades, o que deixa relativamente longo o tempo de espera por esses serviços.

“Esse aumento de pacientes também aumenta o custo das instituições, de uma forma geral, na mesma proporção, uma vez que a tabela de procedimentos do SUS é muito defasada e os custos de manutenção de serviços, como acréscimo de novas tecnologias e pagamento de médicos e funcionários, assim como despesas com insumos diversos, sofrem reajustes, no mínimo, uma vez o ano. As instituições não sobreviveriam sem o aporte extra de recursos que as prefeituras e os estados injetam mensalmente, como forma de minimizar efeitos e garantir a continuidade dos serviços.”

Relação com a queda dos empregos

Segundo o levantamento do IESS, a queda no número de usuários do planos de saúde médico-hospitalares foi puxada principalmente pelos contratos coletivos empresariais, aqueles oferecidos pelas empresas aos seus funcionários. Nesse segmento houve queda de 404,8 mil vínculos, uma diminuição de 1,2% em relação a 2014. Isso significa que somente os planos coletivos empresariais responderam por 52,85% de todos os usuários que deixaram de ter plano de saúde em 2015.

Os planos coletivos por adesão, que são aqueles firmados por intermédio de entidades de classe, por exemplo, registraram a saída de 128,7 mil usuários, ou seja, uma queda de 1,9% do total de vínculos em 2015, em comparação a 2014. Já o total de usuários de planos individuais ou familiares caiu 1,6%, o que representa 158,6 mil vínculos a menos que em 2014.

“A saúde suplementar, da mesma forma que toda a economia brasileira, passa por um momento difícil por conta da crise econômica”, diz o superintendente-executivo do IESS, Luiz Augusto Carneiro, em nota à imprensa. De acordo com ele, a queda no número de usuários acompanha uma alta dos custos no setor. Até junho de 2015, a Variação de Custos Médico-Hospitalares (VCMH) apurada pelo IESS teve alta de 17,1% em 12 meses.

O boletim mostra ainda que os planos de saúde exclusivamente odontológicos foram os únicos que não apresentaram queda no total de beneficiários. Na comparação entre 2014 e 2015, o segmento cresceu 3,8%, registrando a adesão de 795,1 mil vínculos.