Conscientização é o primeiro passo para diminuir o problema do abandono (Foto: Leonardo Pereira/Arquivo FM)
Conscientização é o primeiro passo para diminuir o problema do abandono (Foto: Leonardo Pereira/Arquivo FM)

Por Júnior Posselt e Juan Grings

Nos últimos meses, a Prefeitura de Venâncio Aires tem registrado um aumento nos casos de abandono de animais. A situação preocupa o poder público e entidades que atuam com a causa no município. O trabalho, conforme o secretário de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Bem-Estar Animal, Gustavo Von Helden, envolve uma demanda diária de denúncias e informações sobre o abandono de cães e gatos.

Para diminuir esse tipo de situação, o primeiro passo, conforme o titular da pasta, é buscar a conscientização. “Todos os animais precisam de um lar e de carinho. Uma casa para ele é mais benéfico do que termos que enviá-lo para o Centro Transitório Animal ou outro espaço de atendimento”, considera.

Ele pondera que são variadas situações acompanhadas pela secretaria e a comunidade deve compreender a complexidade do trabalho. “A Prefeitura não é um depósito de animais. Há uma capacidade limite de atendimento e acolhimento. São muitas cadelas e gatas com filhotes que chegam até nós, exigindo um cuidado ainda maior”, destaca o secretário, reiterando a importância de denúncias feitas pela população.

Punições relacionadas ao abandono de animais

Quando um animal é localizado, a secretaria e entidades que integram o serviço buscam realizar a identificação. Um dos métodos adotados é a microchipagem, que acontece junto ao procedimento de castração. Com a ferramenta, são colocadas informações sobre o animal, como nome, idade, pelagem e dados do tutor. A secretaria tem um leitor de microchip, utilizado nas situações de abandono para realizar a identificação.

“Se o animal for abandonado, realizamos o reconhecimento dele e conseguiremos encaminhar responsabilização”, afirma Von Helden. A secretaria inicia um processo administrativo de responsabilização, evoluindo ainda para a esfera criminal, com encaminhamento para as forças de segurança. “Abandono de animais é crime”, complementa.

330
é o número aproximado de castrações e microchipagens realizadas em Venâncio Aires em 2025.

Atuação de ONGs em defesa dos animais

Em Venâncio Aires, são duas as organizações não governamentais (ONGs) que atuam em defesa da causa animal. A Amigo Bicho, há anos consolidada como uma liderança municipal na área, e a ResgAUtados – esta mais jovem, criada no ano passado, após a enchente de maio, quando muitos animais de estimação foram separados dos donos.

A diretora-geral da Amigo Bicho, Naís Andrade, elenca dois fatores principais para o aumento de animais de rua. “Se o poder público oferecesse mais castrações, teríamos menos animais, com certeza. E também tem a irresponsabilidade das pessoas que não cuidam. A pessoa tem que ser consciente e saber que ela tem que ter o controle sobre os animais, não deixar procriar, não ir para a rua”, adverte.

Ela cita que uma das maiores causas de abandono são pessoas que se mudam para apartamentos, casas menores ou para outras cidades e não têm com quem deixar os pets: “A pessoa tem tempo, sabe que vai se mudar. Ela tem que se organizar, pode deixar com parente, publicar nas redes sociais anteriormente. Nós não temos como assumir e não é a nossa obrigação. Se o animal tem tutor, a responsabilidade é dele.”

Lar transitório

Como nenhuma das entidades tem sede física, os cães e gatos que são resgatados vão para a casa de voluntários. Nesse caso, a maioria destes são justamente integrantes das ONGs, como é o caso de Maslova Campos de Azevedo, que integra a equipe da ResgAUtados. Ela conta que são muitos os casos de animais que são encontrados com alguma doença ou ferimento grave e que precisam de acolhimento.

Ela relata que a maioria das participantes moram em apartamentos, o que torna o espaço bastante reduzido. Por isso, o pedido da ONG é por maior envolvimento da sociedade. “A gente precisa que as pessoas abram a sua casa, abram o seu apartamento. Às vezes eu comento que é um espaço numa área de serviço, na garagem, um lugar isolado”, conta. Segundo ela, o acolhido não deve ter contato direto com demais animais da casa para evitar estranhamentos e eventuais ataques.

Manutenção

No caso da ResgAUtados, a ONG sobrevive exclusivamente de doações, o que torna a atuação ainda mais desafiadora. Embora tenham parcerias com pet shops, agropecuárias, clínicas veterinárias e outros estabelecimentos da área, os recursos em caixa sempre ficam no limite das contas. Maslova reforça que mais do que os gastos com alimentação, a entidade precisa, muitas vezes, comprar vermífugos e outros medicamentos, além de castrar e deixar o animal em boas condições para encontrar um novo lar definitivo.

Já a Amigo Bicho, que também levanta fundos a partir de doadores e campanhas, como ações entre amigos, também recebe repasses trimestrais do programa Nota Fiscal Gaúcha. Segundo Naís Andrade, esta é uma das principais rendas da entidade.