Lideranças da cadeia produtiva do tabaco reagiram diante da declaração da ministra da Agricultura, Katia Abreu, no Twitter, que afirmou ter o desejo de apresentar Projeto de Lei, quando retornar ao Senado, para proibir a fabricação do cigarro no Brasil. A afirmação foi considerada infeliz, inoportuna e estarrecedora pelas lideranças de diferentes segmentos. Além disso, os representantes cobram atenção ao combate de outros problemas no país, como o consumo de drogas, bebidas alcoólicas e agrotóxicos.

Foto: Reprodução / TwitterPublicação ocorreu na segunda-feira
Publicação ocorreu na segunda-feira
Foto: Divulgação / AfubraBeto Faria disse que um manifesto será encaminhado para ministra.
Beto Faria disse que um manifesto será encaminhado para ministra.

O presidente da Associação dos Municípios Produtores de Tabaco (Amprotabaco), Beto Faria, repudiou a declaração da ministra e disse que não se reduz o consumo de cigarro “através de decreto”. Segundo ele, a Amprotabaco defende que, enquanto existir consumo, que se preserve a cadeia produtiva. “Não estamos defendendo o tabagismo, apenas a cadeia produtiva”, ressaltou. A entidade formalizou um manifesto que será encaminhado para a ministra.Caso houvesse uma possível proibição da fabricação de cigarros no país, cidades produtoras e beneficiadoras de tabaco em folha, como é o caso de Venâncio Aires, não sentiriam, de imediato, impacto na sua economia, já que mais de 80% da produção é destinada para exportação. Porém, Faria destaca que, com o tempo, os municípios produtores serão certamente prejudicados com a medida.

EQUILíBRIOPara o presidente da Câmara Setorial do Tabaco e prefeito de Venâncio Aires, Airton Artus, além da declaração da ministra ter sido infeliz e inoportuna, pelo cargo que ela ocupa, Kátia Abreu estava “misturando as coisas”. A afirmação dele está relacionada à entrevista que a ministra concedeu à Rádio Gaúcha, quando declarou que sua manifestação no Twitter ocorreu em virtude do estado de saúde de seus pais, vítimas de câncer.

Foto: Guilherme Siebeneichler / Folha do MateAirton cobra equilíbrio sobre o assunto por parte da ministra
Airton cobra equilíbrio sobre o assunto por parte da ministra

A causa, segundo ela, é decorrente do consumo de cigarro. Artus afirma que Câmara Setorial do Tabaco é um dos espaços temáticos trabalhados dentro do Ministério da Agricultura e, por isso, a ministra precisa tratar com equilíbrio este setor. “Estamos lidando com uma situação que envolve o livre arbítrio das pessoas. Precisamos orientar, educar e colocar algumas regras, como em qualquer produto, que possa expor a saúde das pessoas”, afirmou.Ele diz ainda que há outros produtos que também requerem uma avaliação, como é o caso dos agrotóxicos. Além disso, considera que o governo precisa se preocupar com outras situações que envolvem a saúde, especialmente aquelas ligadas a questões que o cidadão não tem como se proteger, casos do zika vírus e doenças bacterianas. “Acredito que a ministra tem uma lição de casa muito grande para fazer junto ao governo dela antes de bater especificamente neste setor”, disparou. A Câmara Setorial do Tabaco vai entregar um documento oficial sobre o tema, para a ministra, em um encontro agendado para o dia 30 de março.

 

Tabaco é fundamental para realidade socioeconômica

Foto: Arquivo / Folha do MateSchünke ficou surpreso com declaração.
Schünke ficou surpreso com declaração.

Tanto o presidente do Sindicato Interestadual das Indústrias de Tabaco (SindiTabaco), Iro Schünke, quanto o consultor da Câmara Setorial do Tabaco e secretário da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Romeu Schneider, classificam a manifestação da ministra da Agricultura Kátia Abreu, como absurda, surpresa e estarrecedora. “Quando ouvi pela primeira vez a manifestação dela, foi uma surpresa imensa, pois o Ministério da Agricultura defende os interesses dos produtores em todas as cadeias produtivas”, salienta Schünke.Ele lembra que o ministério esteve do lado do setor do tabaco em diversas situações, como nas Conferências das Partes para a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT), oportunidade em que reconheceu e afirmou que o tabaco é importante para o Brasil pela quantidade de empregos e pela renda que gera.Segundo Schünke, sempre foi uma posição muita clara do Ministério da Agricultura em favor da importância socioeconômica que o tabaco representa. “E, quando a ministra afirma que quer acabar com o cigarro, é uma afirmação estarrecedora. A posição dela pegou de surpresa toda a cadeia produtiva do tabaco”, lamenta.Schneider classifica a posição de Kátia de Abreu como um grande “absurdo” principalmente por ela ser ministra e ter uma posição tão radical por uma área pela qual ela é responsável. Na avaliação dele, representa desconhecimento da realidade econômica e social de uma atividade como a produção de tabaco, com o destino e o que é feito com esta matéria-prima e os benefícios que ela gera em todos os sentidos para a nação brasileira.

“Como indústria, temos bem claro que esta manifestação é lamentável pois sabemos o que o setor representa, principalmente para os produtores e municípios do Sul do Brasil.”

Iro Schünke, presidente do SindiTabaco.

CONTRABANDO

Foto: Luciana Radtke / AfubraPara Romeu Schneider declaração da ministra é absurda.
Para Romeu Schneider declaração da ministra é absurda.

Romeu Schneider defende a necessidade de não entregar o mercado para a ilegalidade. Segundo ele, no momento em que proibir a fabricação de cigarros no Brasil, aumentará em 100% o consumo de cigarros contrabandeados, pois onde existe o consumidor, sempre haverá o fornecedor. O dirigente critica a demagogia de muitos políticos que se dizem defensores da cadeia produtiva do tabaco, porém, são contrários ao cigarro. “No momento em que não houver mais consumo, não há mais a finalidade de produzir o tabaco e, com isso, o prejudicado é o produtor. Além disso, o tabaco é um produto legal e não há erro em ele ser fornecido para o mercado legal”, destaca.

Será uma porteira aberta para o mercado ilegal fornecer o seu produto da maneira como ele quer, pois hoje soma praticamente 40% o cigarro ilegal consumido no Brasil.

Romeu Schneider, consultor da Câmara Setorial do Tabaco.

Foto: Alvaro Pegoraro / Folha do Mate Proibição da fabricação de cigarro comprometeria toda cadeia produtiva do tabaco.
Proibição da fabricação de cigarro comprometeria toda cadeia produtiva do tabaco.

Na contramão da realidade econômica

Foto: Guilherme Siebeneichler / Folha do MateGiovane Wickert, repudiou a declaração da ministra Kátia Abreu
Giovane Wickert, repudiou a declaração da ministra Kátia Abreu

O vice-prefeito de Venâncio Aires, Giovane Wickert, repudiou a declaração da ministra Kátia Abreu e disse que o posicionamento dela está na contramão da realidade econômica do Brasil. Segundo ele, há poucos dias liderou em Venâncio Aires um encontro de autoridades regionais com o ministro do Trabalho, Miguel Rossetto, que já foi ministro do Desenvolvimento Agrário (MDA), e de pronto sinalizou apoio ao setor produtivo do tabaco. “Semana que vem a Delegacia do Trabalho já estará em Venâncio Aires para discutir e conhecer melhor a relação de formalidade dos diaristas nas lavouras para evitar assim novas autuações e embates desnecessários como ocorreu a pouco tempo. A proposta é o diálogo”, disse Wickert.

O Delegado do MDA do Estado, Marcos Regelin, deve vir para a região discutir com o setor as preocupações com a COP 7. “Estamos fazendo um levantamento dos números e índices de contrabando de cigarro no Brasil, para em breve nos reunirmos com o setor e apresentarmos uma pauta que possa diminuir os índices e evitar o fechamento de novas empresas”, declarou. Wickert destaca a necessidade de promover uma mobilização para reverter a situação e a postura de Kátia Abreu.

 

Tabaco é alternativa de renda

“Hoje, o tabaco ainda é a cultura que garante a renda para a pequena propriedade rural. Além disso, a minha propriedade está estruturada para esta cultura. Não vejo no momento outra alternativa”, afirma o fumicultor João Baumgarten, morador de Vila Arlindo. Ele adianta que se tiver que parar de produzir de tabaco, vai diversificar a produção e investir em outras culturas, como o milho, por exemplo. Ele igualmente não concorda com a posição da ministra e também a classifica como absurda.