Preto chegou de uma hora para outra, há uns 8 anos. Um carro estacionou próximo ao Cemitério Municipal, abriu a porta e o abandonou. De porte médio, pelo curto e brilhoso e um rabo pitoco que balança rapidamente, quando está faceiro, ficou perdido.
Ismael Fernando Schuh, 38 anos, que morava próximo dali, assistiu à cena e acompanhou o que seria um início de uma história de amizade. Preto “foi convidado” a ficar, mas, em vez de morador, preferiu ser hóspede – comia, dormia ali de vez em quando, mas não abria mão de ser livre, um peregrino. Vive assim até hoje.
Preto nunca gostou de coleira nem de pátios cercados. Seguindo o Ismael até a casa da namorada, Juliana Bencke, 27 anos, aprendeu o caminho e “adotou” uma nova família. “Nunca tivemos um cachorro de estimação e o Preto passou a ser muito especial para todos nós”, conta a irmã de Juliana, Sabrina Bencke, 22 anos, que também faz questão de chamá-lo de ‘Fofo’.
Uma porção de comida aqui e um cafuné ali fizeram o Preto se sentir amado. Embora nunca tenha abandonado o hábito de perambular pelas ruas – inclusive, andar até o Centro da cidade –, o cachorro passou a ter a família como uma referência. Um vão maior em uma parte das grades garante o livre acesso dele ao pátio da casa.
Às vezes, Preto aparece no início da noite, para pernoitar. Em algumas ocasiões, já surgiu de madrugada, latindo para que abrissem a porta. Aliás, se, no início, ele dormia do lado de fora, aos poucos, garantiu um lugarzinho na garagem, ao lado do fogão a lenha. No último inverno, nos dias frios, era difícil se afastar da cama quentinha, na caixa de papelão forrada com panos.
Pretinho, como é carinhosamente chamado pela família, sente-se em casa e já nem se incomoda quando chegam visitas. Na hora do almoço, fica atento à espera dos ossinhos – se forem de frango, seus preferidos, melhor ainda. Os olhinhos brilham e ele se balança, todo alegre, quando o pai de Juliana e Sabrina, Balduino Ari Bencke, 56 anos, alcança para ele uma fatia de mortadela ou um pedaço de linguiça.
Pronto para passear
Sempre que ouve o barulho da chave, Preto pula rapidamente, espreguiça-se e está pronto para acompanhar quem for sair. Está sempre “com o pé que é um leque” para os passeios. Foi assim que conheceu mais uma série de endereços de novos “amigos”, onde também aparece de surpresa, em seus passeios. Entre os locais, estão as casas das duas avós de Juliana e Sabrina e nova casa de Juliana e Ismael, para a qual se mudaram há quase 5 anos.
“Ele está sempre andando pelos bairros São Francisco Xavier e Diettrich. Às vezes, chegamos em casa do trabalho e ele está nos esperando, na frente do portão. Também encontramos ele andando pelo Centro. Sempre que nos vê, nos reconhece, dá saltos de alegria e começa a latir e a nos seguir”, conta Juliana.
Do Preto, não se sabe o passado nem mesmo onde ele estará amanhã. “Há uns 6 anos, ele ficou sumido durante meses, mas depois apareceu, faceiro, como se nada tivesse acontecido”, lembra a mãe de Juliana e Sabrina, Maria Cristina Agnes Bencke, 51 anos. “O que percebemos é que nos últimos tempos, ele está se dando um tempo maior de descanso, está velhinho e gosta de descansar. Agora ele faz as caminhadas dele por perto, mas está ficando mais caseiro. É muito carinhoso, adora se arrastar pela grama e pedir carinho.”
Curiosidades 1 Com um grande medo de trovoadas e foguetes, Preto sabe, com antecedência, quando um temporal se aproxima. Nessas horas, ele busca espaços apertados para se esconder e se sentir protegido.
2 Um dos fatos interessantes relatados pela família é que, um dia, um homem que visitou a residência reconheceu o Preto e contou que ele também passava alguns períodos em sua casa. “Às vezes, passávamos pelo local e víamos ele. Acreditamos que ele tinha uma namorada por lá”, afirma Juliana.
3 Apesar de gostar de atiçar e “comprar briga” com outros cachorros na rua, Preto convive em harmonia com duas porquinhas-da-índia da família. “No começo, tínhamos medo, mas depois viemos que ele quer interagir, brincar com elas”, comenta Maria Cristina.