Passo do Sobrado – 28 anos: As lembranças como professora

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Por Cecília Ivone Schwengber – Professora aposentada, moradora de Venâncio Aires

Nasci no dia 15 de março de 1939, no interior de Rio Pardo, que era Passo do Sobrado. Em 1955, comecei a trabalhar como professora contratada na Escola Municipal Dom Bosco. Depois fui para a Escola Municipal Nossa Senhora dos Navegantes, em Rincão Nossa Senhora, sendo que eu lecionei com as turmas de 3ª, 4ª e 5ª séries por dois anos.

Em 1958, fiz concurso público para professora do município de Rio Pardo, sendo aprovada e nomeada logo em seguida. Sempre tive muito contato e boa comunicação com as famílias dos alunos, talvez porque falava português e alemão. Em 1981, me aposentei com duas licenças prêmio.

Nasci e cresci em Passo do Sobrado, onde morei com meus pais que eram agricultores e moravam bem no interior, na comunidade Rincão do Sobrado. Meu avô paterno foi um dos primeiros professores da localidade. Quando completei 7 anos, comecei a frequentar a escola Dom Bosco. O professor era José Bertoldo Eichelberger. Era tudo muito precário, não tinha luz elétrica. Usavam lanternas e lampiões pendurados nas paredes, que funcionavam com querosene.

Nas estradas, os colonos iam pelos matos e roças, com cavalos ou a pé mesmo. A água era de fontes, que surgiam em alguns lugares. A vila, que era chamada de Passo do Sobrado, era favorecida pelos geradores, que tinham potência para atender poucos moradores. Mais tarde, houve um subprefeito, seu Manoel da Rosa. Ele era funcionário da Prefeitura de Rio Pardo e morava na subprefeitura, onde ajudava muitos colonos e, muitas vezes, resolvia demandas em Rio Pardo, trazendo resultados positivos aos colonos.

Mais tarde, ele conseguiu mais um gerador e, com isso, mais pessoas passaram a ter energia elétrica em suas residências. Lembro que havia um supermercado quase na vila de Passo do Sobrado, que tinha como proprietário o senhor Roberto Ruppental, que servia muito bem os seus clientes. Logo na entrada da vila, havia o Engenho dos Fanck, cujo prédio existe até hoje, porém desativado. Depois foram inaugurados um posto de saúde e um posto de gasolina e, logo em seguida, uma central telefônica.

Na época, o senhor Edmundo Becker abriu uma loja de roupas prontas e tecidos em metro. Por muitos anos, só teve um dentista na vila de Passo do Sobrado, que se chamava Aloísio Arenhart. Mais tarde, foi construída a estação rodoviária e Marcos Helfer tinha um ônibus que fazia diariamente o itinerário para Rio Pardo.

No começo, a escola funcionava numa casa perto da Igreja e só depois foi construída a Escola Alexandrino de Alencar. Também foi construído o Colégio Rui Barbosa. Me recordo que, na época, havia bombeiros voluntários na vilinha. Hoje está tudo indo bem na comunidade, em virtude de que os administradores de Passo do Sobrado foram pessoas corajosas. Além disso, os moradores passaram a investir no desenvolvimento econômico da cidade, sendo que hoje a cidade conta com lancherias, padarias, lojas, restaurantes, farmácias e agências bancárias, entre outros.

Anos atrás, um rapaz bem novo investiu numa empresa de ônibus e teve sucesso, o que mostra que Passo do Sobrado é um município pequeno, mas com muitas chances de desenvolvimento. Hoje o município tem mais de 6 mil habitantes, sendo que 80% são colonos, que contribuíram muito com sua emancipação. O primeiro prefeito de Passo do Sobrado foi Gilberto Weber e o atual é Helio de Queiroz.

O falecido padre José Reinaldo Rauber também colaborou muito com o desenvolvimento da localidade, orientando os colonos para que continuassem unidos nos seus objetivos. Ele sempre dizia que o medo de lutar é quando se deixava de viver. As pessoas daquela época já não estão mais conosco. Eu tenho muito orgulho de ter feito parte da história desse município, pois atualmente resido em Venâncio Aires.

Posso afirmar, com certeza, que as pessoas antigas eram sábias e muito unidas, sendo que construíram igrejas e as primeiras escolas nas suas localidades. Como professora, acredito que muitos tenham lembranças boas de mim, pois naquela época éramos professoras, secretárias, diretoras e até merendeiras. Fazíamos tudo porque tínhamos vocação. Relembrar esses fatos da minha vida, me faz ter a certeza de que, hoje, com 80 anos, valeu a pena ter vivido cada minuto em Passo do Sobrado.

*Matéria integrante do caderno especial do aniversário de Passo do Sobrado, no qual pessoas da comunidade enviaram suas histórias para a Folha do Mate.

    

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